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11 de jan. de 2008

Kierkegaard: a conduta humana e os estágios estético, ético e a religioso


“o dever não é uma coisa imposta, mas algo que me incumbe”. Sören Kierkegaard

O filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) é considerado precursor do existencialismo, tendo influenciado Heidegger, Sartre e Kafka, além de Thomas Mann e Ibsen. Considerado o mais profundo intérprete da psicologia e da vida religiosa desde Santo Agostinho, ao apontar o desespero e a angústia inerentes a todos nós, legou-nos uma profunda análise da consciência humana. Dentre suas obras destacamos: Ou Isto ou Aquilo, Diário de um Sedutor, O Desespero Humano, e Temor e Tremor.

Para ele, o homem nasce com corpo e alma e, aos poucos, durante sua existência, através de suas escolhas, vai construindo o Espírito. “A verdade é a subjetividade”, não se escapa desta que é, para o indivíduo, sua própria medida e significação. Às etapas que constituem o caminhar ao transcendente, Kierkegaard denominou de “Stadium” e estes são o estético, o ético e o religioso. São etapas autônomas e descontínuas, pois a passagem de um estágio a outro se dá através de uma brusca ruptura ou de um salto.

Quando se encontra no estágio estético, que é o mundo da matéria, o homem vive no e para o “aqui e agora”. É neste estágio que nos deparamos com a mesquinhez e o narcisismo, onde nada é estritamente impossível. O que interessa ao homem deste estádio é o Don Juanesco jogo da sedução, da manipulação onde os meios justificam-se pelos fins. O sujeito apropria-se do entorno e faz de sua existência uma representação exclusivamente individual, não considera a instância de deveres éticos ou das obrigações sociais, esgota-se na exterioridade representada. O esteta vive na esferas das possibilidades e a expressão desse sujeito é sua rica, variada e vasta mobilidade de sentimentos.

Na obra “O Diário de um Sedutor” encontramos o personagem Johannes, um ardiloso jovem que goza, acima de tudo, da possibilidade da conquista mais que do próprio objeto da conquista. Ele faz da inocente Cordélia sua vítima e a vê como uma “presa” a ser meticulosa arrebatada e ardilosamente descartada. Por se tratar de um personagem extremamente inteligente e consciente, possuidor de uma visão de mundo onde coloca-se acima de tudo e de todos, uma das facetas de sua personalidade é a ironia.

No entanto, a insaciável e perpétua busca por novidades conduz ao desespero. Na vida do homem do estágio estético, submerge inevitavelmente a melancolia – que é fruto de uma personalidade que permanece na imediatidade, absolutamente desprovida de uma reflexão ética.

À partir de um salto para o estágio ético, o homem busca se auto-afirmar como sujeito, caminha para a realização dos deveres expressos por seus julgamentos de conduta ético-moral. O personagem que retrata essa transformação é o do juiz Guilherme. Segundo Reichmann “A personalidade quer tomar consciência de si mesma em sua validez eterna. Se isto não suceder o movimento permanece contido e, se a personalidade é reprimida, então surge a melancolia. Muito se pode fazer para mergulhá-la no esquecimento. Pode-se trabalhar, distrair-se, mas a melancolia permanece. Na melancolia existe algo de inexplicável. Quem tem sofrimentos e preocupações conhece sua causa. Quando se pergunta a um melancólico qual a razão de sua melancolia, o que o oprime, responderá que não sabe, que não pode explicá-lo. Nisto consiste o infinito da melancolia. Desde em que se a conhece, a melancolia deixa de existir, enquanto que o sofrimento do aflito não cessa pelo fato de conhecer a causa da aflição. A melancolia é um pecado de não querer profunda e sinceramente”.

Kierkegaard afirma que será por meio de suas escolhas que este homem vivenciará sua história, sendo esta parte indissociável das opções que fizer. No esteta, o mundo é terreno das sensações agradáveis; no estágio ético, o homem está consagrado às leis morais. Segundo esta teoria, desde sua origem, o homem encontra-se na “não-verdade” e, não podendo ser sua própria referência, necessita de um mediador externo ao “eu”.

A única esperança para o desespero humano está na compreensão da própria existência, que é finita. E tal compreensão só se alcança pela fé. Todas estas alternativas possíveis representam um risco e, como Kierkegaard quer que o homem se veja impulsionado pelo infinito, sua decisão tem de optar entre o Todo ou o Nada.

No estágio religioso supõe-se a intervenção de um elemento exterior, descortina-se uma nova e paradoxal realidade, trata-se da fé, da crença numa instância superior, num “Deus”. Convém ressaltar que, mesmo religioso, Kierkegaard foi um crítico mordaz das instituições religiosas, apontando-as como monopólio organizado, que tratam de administrar o que pertence ao domínio privado da alma individual: a fé.

Este estágio é pessoal, subjetivo. Pode ser ou não vivenciado com fervor por um rude e anônimo camponês, como também pelo mais elevado intelectual. Este salto que é dado mediante a relação direta entre o homem e Deus está retratado no mito judáico-cristão de Abraão, a quem seu Deus pede o sacrifício do filho Isaac. Trata-se de uma questão puramente de fé. Sabemos que, ao final, Deus suspende a realização desta prova.

A fé exige o sacrifício de Isaac, ou seja, um salto no escuro, a disposição sincera de abdicar daquilo que consideramos mais precioso. Paradoxalmente, “é preciso puxar a faca para que se possa ter Isaac de volta”. Isso é fé.

Saiba mais: Kierkegaard, Sören. Johannes Climacus ou é preciso duvidar de tudo. Prefácio e notas de Jacques Lafarge. Tradução de Silvia Saviano Sampaio. Revisão de Álvaro Valls e Else Hagelund. São Paulo, Martins Fontes, 2003.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sempre é bom saber que ainda tem indivíduos que escrevem e acreditam na filosofia de Kierkegaard.
Parabéns.
Edgar

Luciene Felix disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Fiz minha monografia em Kierkegaard já faz algum tempo. Agora resolvir retomar meus estudos sobre o autor.gostei muito do artigo sobre os estagios na obra deste autor.

Parabéns...

Heronilse Santos Leão

um texto sobre cristo disse...

Eu sou um estudante das obras de Kierkegaard .
Sua visita é bem-vinda !

http://osexistencialistas.blogspot.com.br/

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

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Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

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