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1 de dez. de 2009

Por que cremos?



“Oh! Virtude, ciência sublime das almas simples, serão necessários então, tanta pena e tanto aparato para conhecer-te? Teus princípios não estão gravados em todos os corações?" Jean-Jacques Rousseau.

Nessa época do ano realça-se o sentimento de religiosidade. Muitas pessoas, até involuntariamente, experimentam solene introspecção. A ocasião parece apropriada para refletirmos sobre o surgimento da religiosidade humana e seu desaguar no vasto campo das religiões.

Surpreende o fato de somente agora a religiosidade estar sendo apontada como um dos fatores que contribuíram para a evolução do homem na terra. Segundo o jornalista do The New York Times, Nicholas Wade: “A religião carrega as marcas de um comportamento evoluído, o que significa que existe porque foi favorecida pela seleção natural. É universal porque está impressa em nossos circuitos neurológicos desde antes de os primeiros humanos se dispersarem a partir da África”.

Se, como diz Nicholas, “(...) a religião evoluiu porque conferia benefícios essenciais às primeiras sociedades humanas e seus sucessores”, estamos diante de fato irrefutável, mas não paradoxal. Numa palestra intitulada “Origens da Religião e Pólis Grega(disponível em vídeo no site da Escola Superior de Direito Constitucional: www.esdc.com.br), que proferi em 2007, explico como e porque o próprio Estado já nasce no seio da religiosidade humana.

O artigo do Times, começa afirmando que dois arqueólogos “fizeram uma descoberta notável sobre a origem da religião ao longo de 15 anos de escavações (...)”. Ora, os primeiros ensaios de uma comunidade gregária se deram em torno dos alimentos. As primevas organizações políticas, as mais primitivas comunidades surgem tendo como esteio essa voraz necessidade dos indivíduos de, juntos, enaltecerem a magia que os circundava e, desse modo, em sincronia se estreitarem à natureza que os provia.

Embora o “Pai” da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939) com propriedade, tenha apontado a religião como sendo uma espécie de delírio coletivo, a religiosidade “em si”, que floresceu em nossos antepassados não fora um mero e infundado “delírio coletivo”: a crença, em sua origem, foi fomentada por instinto de sobrevivência.

A abundante, diversificada e bem orquestrada “mãe-natureza” serviu de base a nosso primevo e rústico tecido social. O nascente e o poente, os ciclos de lunação, as estações do ano, o cortejo dos planetas por entre as constelações fixas, cachoeiras, rios, lagos e mares; trigo, milho, oliveira, cevada e todas as aves e os animais, além de reais, eram tudo o que tinham para inteligir a potência (dýnamis) da vida.

O homem primitivo, de racionalidade ainda rudimentar, encontra uma forma mítica para compreender e explicar aos demais a realidade que os circunda. O pequeno grupo ao qual pertence, se convence da lógica embutida nessas explicações.

Surge então um elo comunitário de compreensão dos fenômenos mais prosaicos, irrompidos periodicamente em seus habitats. Rituais que celebram a magia de inícios e fins (ciclos de vida e morte) são estabelecidos consensualmente.

É sabido que o comportamento religioso (qualquer que seja a forma de religação adotada) é identificado em todas as sociedades humanas, independente de qual seja o estágio de desenvolvimento em que se encontre. Digno de nota é o fato de que nesse estágio da religiosidade, o sujeito encontra, no meio no qual se insere, correspondência análoga às suas expectativas individuais.

A adesão aos ritos é espontânea e essa sacra consonância, essa fusão de valores criará um elo de fidelidade entre os membros, tornando o grupo forte e coeso. Unidos, amparando-nos mutuamente, sempre fomos mais fortes e detemos maiores oportunidades.

A religiosidade humana se impôs, inicialmente, por questão utilitária, sobretudo depois que o homem deixou de ser nômade, buscou abrigo fixo e, dependendo da agricultura (entenda-se estações do ano) sabiamente passou a ir ao encontro do tempo cíclico, em simbiose com a natureza.

Embora até hoje não tenhamos deixado de beneficiarmo-nos da caça (presente, ao menos duas vezes por dia, na mesa dos abastados), foi devido ao reconhecimento às misteriosas dádivas de Deméter (deusa grega da agricultura - Ceres em romano, daí a palavra cereal) que nossos ancestrais se aproximaram comungando e rejubilando-se num sentimento de pertença (confira breve relato desse mito celebrado nos “mistérios de Elêusis”, cerca de 800a.C. em "primavera", nesse Blog).

Mas não se intenta subjugar o acaso e seus inescrutáveis caprichos apenas manifestando gratidão . É fundamental evitar os “castigos” interpretados como zangas divinas. Deimos e Phobos (1) sempre foram meios de persuasão muitíssimo convincentes.

Por receio de que mazelas sucedam a todo o clã, expulsa-se transgressores das leis, os profanadores dos costumes sagrados; rituais de expiação zelam pela manutenção da ordem, da paz e das boas graças de uma “autoridade invisível”.

Arregimenta-se credulidade também sob coação, pelo sentir dilacerado da dor. Podia acometer-nos a morte, oriunda das guerras, da fome, de doenças, furacões, vulcões, raios, enchentes, maremotos, enfim, temíamos que pairasse sobre nossa família e/ou comunidade grandes males e infortúnios.

Nesse estágio da religiosidade humana, legitimar a autoridade do grupo levando-nos a colocar o bem-estar do clã acima de nossos interesses pessoais é atitude altruísta que mais nos humaniza; é o que nos tornou e nos tornará sempre mais “humanos”.

Alguns estudiosos tem levantado a hipótese de que, se com a teoria da evolução de Charles Darwin (1809-1882) compreendemos que sofremos alterações com o constante aprimoramento de nossas aptidões físicas, não é improvável que o mesmo tenha ocorrido em nossa psyché.

Nesse sentido, Nicholas Wade afirma: “O que a evolução fez foi dotar as pessoas de uma predisposição genética a aprender a religião da sua comunidade, assim como há uma predisposição para a linguagem. Tanto na religião quanto na linguagem, é a cultura, e não a genética, que fornece o conteúdo do que é aprendido”.

O fato da religiosidade poder ser observada sob uma perspectiva psiquicamente evolucional, como algo que tenha fomentado, alicerçado e impulsionando o desenvolvimento das sociedades humanas não desempata o duelo entre crentes e ateus pois, como aponta o próprio autor: “O favorecimento da religião pela seleção natural não comprova nem refuta a existência dos deuses”.

Nicholas chama a atenção para o fato já sabido de que em “sociedades hierárquicas maiores, os governantes cooptaram a religião como fonte de autoridade”, o que resvalará em atrocidades ou, no mínimo nos tais “delírios coletivos” apontados por Freud, algo que nem crentes nem ateus suportam mais testemunhar.

Se lastimavelmente, algumas religiões e seus ferrenhos seguidores acalentam preconceitos, promovem guerras e perseguições é porque se esqueçam de que seu longinquo e nobilíssimo berço é ser primeva fonte de amparo à fragilidade humana. Deturpam a religiosidade que surgiu, em nossos antepassados unindo os homens na imprescindível promoção do bem estar da coletividade, que “subjaz a” e “abarca a” função social.

A religiosidade primeva não escandaliza a razão. É de uma inteligibilidade intuitiva, dispensando provas ou argumentos, é puro instinto de sobrevivência “impressa em nossos circuitos neurológicos” como denominam os cientistas.

Vislumbraram a Alma (psyché), outrora tão magnânima em seu propósito de nos religar com a ordem (cosmos) presente na natureza (physis) da qual também fazemos parte. Espantados constatam: fomos feitos para crer.

1- Deimos e Phobos: terror e medo, filhos do deus grego da guerra, Ares, que na mitologia romana será denominado Marte. Esse é também o nome dos satélites naturais desse planeta.
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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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