“A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras.
Elas são nossa única realidade ou, pelo menos,
o único testemunho de nossa realidade". Octavio Paz
O que torna a realidade ‘real’? Em sua obra “Analítica do Sentido – Uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica”, Dulce Critelli, profunda estudiosa do filósofo existencialista Martin Heidegger (vide artigo abaixo, publicado em nosso Blog: http://www.lucienefelix.blogspot.com ), nos esclarece sobre a realidade e seu movimento de realização.
De acordo com esta corrente filosófica, a condição sine qua non para que algo seja percebido, ou seja ‘exista’, é a luz (do grego, phós). Luz, tanto do ser e dos seres que são e se dão a perceber, quanto do olhar humano “que se institui como sua clareira”, seu lugar de aparição.
Mas, embora seja o indivíduo quem vê, seu olhar não é individual. Existimos com os demais, ou seja, compartilhamos uma coexistência e esse ser-no-mundo com os outros, além de fundamentar e possibilitar o conhecimento é igualmente, fundamento para o aparecimento dos entes: “O olhar do homem é constituído por sua coexistência, que, como tal, é fundamento do movimento de fenomenização dos entes e do fenômeno.”, afirma Critelli.
Como não somos sós, é a coexistência que fundamenta o movimento fenomênico do mostrar-se/ocultar-se dos entes em seu ser, o ‘acontecimento’: “Pois é desde o que acontece que a possibilidade ontológica pode ser compreendida como possibilidade e, portanto, como fundamento desse acontecimento”, diz a autora.
Dessa forma, por estarmos concretamente no mundo com os outros, situados geográfica e historicamente (datados no tempo), instaura-se nosso duplo caráter, que é o de ser “o lugar, ou a clareira onde o ente pode manifestar-se para um olhar e, ao mesmo tempo, ser o olhar, ou a iluminação que provê esta mesma manifestação”.
Para que algo ‘apareça’ é necessário que tenha como origem a iluminação daquele que percebe, recolhe, apanha, e que esse apanhado seja compartilhado numa coexistência, cuja função é justamente permitir este mostrar-se fenomênico.
Em termos de realidade, é sendo um ser-no-mundo com os outros que o fenômeno É. Quando o ente aparece, ele já foi forjado como real. As coisas não se mostram primeiro para somente depois serem convertidas em realidade: “(...) a própria percepção de algo pressupõe que esse algo tenha sido o resultante de um movimento de realização”.
Chamamos a atenção para o fato de que esse movimento de realização, que é o que permite a aparição dos entes, “cujo fundamento e desdobramento são atemporais, existenciais e não meramente metodológicos” difere da compreensão metafísica.
Enquanto para a metafísica há o Ser (inapreensível), para a fenomenologia, isso não é absolutamente definitivo: muito do que não se abarcava antes, hoje é perfeitamente compreensível; do mesmo modo, há muito por ser revelado. Assim, metafísica e fenomenologia existencialista, diferem sobre a interpretação do que seja o real, a realidade.
Fenomenologicamente, o que torna os seres reais é:
1) Quando desocultado por alguém: desvelamento,
De acordo com esta corrente filosófica, a condição sine qua non para que algo seja percebido, ou seja ‘exista’, é a luz (do grego, phós). Luz, tanto do ser e dos seres que são e se dão a perceber, quanto do olhar humano “que se institui como sua clareira”, seu lugar de aparição.
Mas, embora seja o indivíduo quem vê, seu olhar não é individual. Existimos com os demais, ou seja, compartilhamos uma coexistência e esse ser-no-mundo com os outros, além de fundamentar e possibilitar o conhecimento é igualmente, fundamento para o aparecimento dos entes: “O olhar do homem é constituído por sua coexistência, que, como tal, é fundamento do movimento de fenomenização dos entes e do fenômeno.”, afirma Critelli.
Como não somos sós, é a coexistência que fundamenta o movimento fenomênico do mostrar-se/ocultar-se dos entes em seu ser, o ‘acontecimento’: “Pois é desde o que acontece que a possibilidade ontológica pode ser compreendida como possibilidade e, portanto, como fundamento desse acontecimento”, diz a autora.
Dessa forma, por estarmos concretamente no mundo com os outros, situados geográfica e historicamente (datados no tempo), instaura-se nosso duplo caráter, que é o de ser “o lugar, ou a clareira onde o ente pode manifestar-se para um olhar e, ao mesmo tempo, ser o olhar, ou a iluminação que provê esta mesma manifestação”.
Para que algo ‘apareça’ é necessário que tenha como origem a iluminação daquele que percebe, recolhe, apanha, e que esse apanhado seja compartilhado numa coexistência, cuja função é justamente permitir este mostrar-se fenomênico.
Em termos de realidade, é sendo um ser-no-mundo com os outros que o fenômeno É. Quando o ente aparece, ele já foi forjado como real. As coisas não se mostram primeiro para somente depois serem convertidas em realidade: “(...) a própria percepção de algo pressupõe que esse algo tenha sido o resultante de um movimento de realização”.
Chamamos a atenção para o fato de que esse movimento de realização, que é o que permite a aparição dos entes, “cujo fundamento e desdobramento são atemporais, existenciais e não meramente metodológicos” difere da compreensão metafísica.
Enquanto para a metafísica há o Ser (inapreensível), para a fenomenologia, isso não é absolutamente definitivo: muito do que não se abarcava antes, hoje é perfeitamente compreensível; do mesmo modo, há muito por ser revelado. Assim, metafísica e fenomenologia existencialista, diferem sobre a interpretação do que seja o real, a realidade.
Fenomenologicamente, o que torna os seres reais é:
1) Quando desocultado por alguém: desvelamento,
2) Ser acolhido e expresso através de uma linguagem: revelação,
3) Quando visto e ouvido por outros: testemunho,
4) Quando o testemunhado é referendado como verdadeiro por sua relevância pública: veracização e,
5) Uma vez publicamente veracizado, algo é efetivado em sua consistência através da vivência afetiva e singular dos indivíduos: autenticação.
Em virtude de limite, por ora, discorreremos sobre as duas primeiras etapas, ou seja, até o momento em que a existência de OVNI's e fantasmas (ou almas d’outro mundo) é possível: desvelamento (desocultamento) e revelação (palavra).
Desvelamento: enquanto as coisas não forem expostas à luz e desveladas (retirado o véu) por alguém, permanecem no reino do nada, ocultas. Mas o que for trazido à luz não permanece, necessariamente, desvelado para sempre, tampouco do mesmo modo.
Um exemplo dessa mutabilidade é a crença que os antigos gregos tinham de que a natureza era presidida por divindades. A ‘desocultação’ (desvelamento) dessas forças vitais se alteraram ao longo de nossa existência: “É toda uma trama de organização social, histórica, coexistencial que se estabelece a partir de cada uma dessas perspectivas.” Outrora deuses, ora arquétipos (junguiano), ora razão, etc., antes, pertenciam ao reino do nada e ansiavam pelo desvelamento.
Para o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), essas forças vitais abrangem todas as ações históricas (ele denomina de “Razão Absoluta”), nem míticas tampouco religiosas, mas algo “determinante, quase fatal, – irreprimível.” Universais e com poder de engendramento, nos movem, mesmo que não tenhamos consciência ou controle sobre elas: “(...) transcendem nossa mera vontade, posição, nosso saber e controle objetivo das situações.” É uma possibilidade.
Para a fenomenologia existencialista, o ente também se mostra quando volta para o escuro, para o reino do nada e fica encoberto. Também pode ser ignorado, esquecido, desentendido (compreendido e, depois, desaprendido) e até, por distração, ocultado.
O aparecimento das facetas ocultas dos entes se dá à luz do tempo do existir e não necessariamente do esforço racional e cognitivo: “A volta para o velamento que constitui o mostrar-se dos entes, o encobrimento de suas facetas, não é nada negativo, mas essencial.” Velar, esquecer, torna a existência mais suportável.
As coisas não se revelam no total de suas possibilidades, mas totalmente em uma de suas possibilidades: “Este movimento é existencial, temporal.” E o que aparece precisa de alguma duração para que possa chegar à realização: “A chance de conservação da faceta ou da possibilidade desvelada da coisa está dada pela linguagem.”
É a linguagem. Sendo assim, será NA e PELA palavra que o que foi desvelado dos entes poderá ser exposto. Daí, adentramos à 2ª etapa desse ciclo de movimento de realização da realidade:
Revelação: Confirmamos e conservamos a manifestação do que aparece através da fala: “A palavra é o duplo do ser”, diz o filósofo Merleau-Ponty. “A linguagem é a casa do ser”, afirma Heidegger.
A condição para que algo exista é poder ser apresentado pela linguagem. As coisas são através da fala. Do que não se fala sequer se cogita a existência. Mesmo que exista, não sendo verbalizado, não é satisfatoriamente revelado.
Nos relatos míticos, temos a união entre o criador e a criação por meio das palavras: “Através do falar, na existência humana, é que o ser das coisas pode ser veiculado. (...) Essa é a função dos argumentos, das teorias: a reunião dos significados das coisas, a fim de exibi-las em seu sentido, em seus nexos e possibilidades ininterruptas de aparecimento.”
Registrar conserva: “O desocultado precisa ser expresso em alguma linguagem para chegar a mais primária forma de aparecimento e manifestação.” Desvelar é comunicar, tornando comum. E é na linguagem que o significado das coisas pode ser trazido à tona.
O portentoso estatuto da palavra deve-se ao fato dela acolher, guardar, conservar e expor o ser que, fora delas, “podem estar por ai, mas não são o que são e como são.” A comunicação é fundamental para a revelação, para tornar os homens ‘humanizados’ e para possibilitar o terceiro momento no movimento de realização, que é o testemunhar.
Sem testemunho, o que foi desvelado e revelado se esvai, dissolve-se, dissipa-se, não se sustenta. Para a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975), o principal atributo do mundo é o fato de ele ser percebido em comum por todos nós.
Testemunhar, veracizar e autenticar são temas de nosso próximo encontro.
Em virtude de limite, por ora, discorreremos sobre as duas primeiras etapas, ou seja, até o momento em que a existência de OVNI's e fantasmas (ou almas d’outro mundo) é possível: desvelamento (desocultamento) e revelação (palavra).
Desvelamento: enquanto as coisas não forem expostas à luz e desveladas (retirado o véu) por alguém, permanecem no reino do nada, ocultas. Mas o que for trazido à luz não permanece, necessariamente, desvelado para sempre, tampouco do mesmo modo.
Um exemplo dessa mutabilidade é a crença que os antigos gregos tinham de que a natureza era presidida por divindades. A ‘desocultação’ (desvelamento) dessas forças vitais se alteraram ao longo de nossa existência: “É toda uma trama de organização social, histórica, coexistencial que se estabelece a partir de cada uma dessas perspectivas.” Outrora deuses, ora arquétipos (junguiano), ora razão, etc., antes, pertenciam ao reino do nada e ansiavam pelo desvelamento.
Para o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), essas forças vitais abrangem todas as ações históricas (ele denomina de “Razão Absoluta”), nem míticas tampouco religiosas, mas algo “determinante, quase fatal, – irreprimível.” Universais e com poder de engendramento, nos movem, mesmo que não tenhamos consciência ou controle sobre elas: “(...) transcendem nossa mera vontade, posição, nosso saber e controle objetivo das situações.” É uma possibilidade.
Para a fenomenologia existencialista, o ente também se mostra quando volta para o escuro, para o reino do nada e fica encoberto. Também pode ser ignorado, esquecido, desentendido (compreendido e, depois, desaprendido) e até, por distração, ocultado.
O aparecimento das facetas ocultas dos entes se dá à luz do tempo do existir e não necessariamente do esforço racional e cognitivo: “A volta para o velamento que constitui o mostrar-se dos entes, o encobrimento de suas facetas, não é nada negativo, mas essencial.” Velar, esquecer, torna a existência mais suportável.
As coisas não se revelam no total de suas possibilidades, mas totalmente em uma de suas possibilidades: “Este movimento é existencial, temporal.” E o que aparece precisa de alguma duração para que possa chegar à realização: “A chance de conservação da faceta ou da possibilidade desvelada da coisa está dada pela linguagem.”
É a linguagem. Sendo assim, será NA e PELA palavra que o que foi desvelado dos entes poderá ser exposto. Daí, adentramos à 2ª etapa desse ciclo de movimento de realização da realidade:
Revelação: Confirmamos e conservamos a manifestação do que aparece através da fala: “A palavra é o duplo do ser”, diz o filósofo Merleau-Ponty. “A linguagem é a casa do ser”, afirma Heidegger.
A condição para que algo exista é poder ser apresentado pela linguagem. As coisas são através da fala. Do que não se fala sequer se cogita a existência. Mesmo que exista, não sendo verbalizado, não é satisfatoriamente revelado.
Nos relatos míticos, temos a união entre o criador e a criação por meio das palavras: “Através do falar, na existência humana, é que o ser das coisas pode ser veiculado. (...) Essa é a função dos argumentos, das teorias: a reunião dos significados das coisas, a fim de exibi-las em seu sentido, em seus nexos e possibilidades ininterruptas de aparecimento.”
Registrar conserva: “O desocultado precisa ser expresso em alguma linguagem para chegar a mais primária forma de aparecimento e manifestação.” Desvelar é comunicar, tornando comum. E é na linguagem que o significado das coisas pode ser trazido à tona.
O portentoso estatuto da palavra deve-se ao fato dela acolher, guardar, conservar e expor o ser que, fora delas, “podem estar por ai, mas não são o que são e como são.” A comunicação é fundamental para a revelação, para tornar os homens ‘humanizados’ e para possibilitar o terceiro momento no movimento de realização, que é o testemunhar.
Sem testemunho, o que foi desvelado e revelado se esvai, dissolve-se, dissipa-se, não se sustenta. Para a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975), o principal atributo do mundo é o fato de ele ser percebido em comum por todos nós.
Testemunhar, veracizar e autenticar são temas de nosso próximo encontro.
* Confira aqui como os bastidores da política e da economia internacional são desvelados, revelados e testemunhados: http://blogdoklebers.blogspot.com/