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30 de nov. de 2012

CONSUMO versus CONSUMISMO - Zygmunt Bauman


Tentamos achar nas coisas, que por isso nos são preciosas, o reflexo que nossa Alma projetou sobre elas.” Marcel Proust
Consumimos! Desde a aurora de nossa existência, rotineira e ininterruptamente, da hora em acordamos ao momento em que vamos dormir, antes mesmo do nascimento e até após a morte, consumimos.

Mas, uma coisa é o consumo de bens necessários e até indispensáveis à vida e ao bem estar (morar, comer, beber, dormir, saúde, estudos, lazeres... prazeres!); Outra é o consumismo.

Desenfreado, o consumismo excede a necessidade, culminando na profusão de mercadorias, na ostentação do luxo e num portentoso descarte de lixo.

Analisar o fenômeno do consumismo é fundamental para que possamos compreender um aspecto funesto e nevrálgico da sociedade em que vivemos.

Da obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, “Vida Para Consumo – A transformação das pessoas em mercadoria” trazemos uma breve reflexão sobre o Capítulo intitulado “Consumo versus Consumismo”.

Segundo o autor, o fenômeno do consumo “tem raízes tão antigas quanto os seres vivos (...) é parte permanente e integral de todas as formas de vida (...)”.

Mas, enquanto o consumo constitui uma característica e ocupação de todos os seres humanos enquanto indivíduos, o consumismo, alerta o estudioso, é um atributo da sociedade.

Não precisamos de uma lupa superpoderosa para observar que, nos últimos séculos, galopando cada vez mais em mega escala, rumamos a um consumismo vertiginosamente apoteótico: de uma natural necessidade de segurança, conforto e, até sobrevivência mesmo, o que justifica o consumo, ao abismo propulsionado do vício do consumismo.

Governado por nossas ‘vontades’, o consumismo se tornou o propósito de nossa existência quando nossa capacidade de ‘querer’, ‘desejar’, ‘ansiar por’, passou a sustentar a economia (oikós = casa + nomós = norma) mediando o convívio humano.

Bauman afirma que o ‘consumismo’ é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros (neutros quanto ao regime), transformando-os [e transmutando-os] na principal força propulsora e operativa da sociedade.

O ‘consumismo’ chega, diz ele, quando o consumo assume o papel-chave que na sociedade de produtores era exercido pelo trabalho.

Passa a ser central quando “a capacidade profundamente individual de querer, desejar e almejar deve ser, tal como a capacidade de trabalho na sociedade de produtores, destacada [‘alienada’, o termo aqui empregado não em conotação pejorativa] dos indivíduos e reciclada/reificada numa força externa que coloca a ‘sociedade de consumidores’ em movimento e a mantém em curso como uma forma específica de convívio humano, enquanto ao mesmo tempo estabelece parâmetros específicos para as estratégias individuais de vida que são eficazes e manipula as probabilidades de escolha e conduta individuais”.

Ou seja, o coletivo mais que se sobrepõe: dita o modus vivendi/modus operandi do indivíduo que se afoga, ‘engolfado’ pelo ‘Todo’.

A revolução consumista, diz o sociólogo, é uma questão que exige investigação mais atenta, diz respeito ao que ‘queremos’, ‘desejamos’ e ‘almejamos’, e como as substâncias de nossas vontades, desejos e anseios estão mudando no curso e em consequência na passagem ao consumismo.

Equivocadamente, pensamos que os consumistas se empenham pela apropriação e acumulação de objetos pelo conforto e/ou respeito que outorgam a seus donos, mas, embora essa possa ser a principal motivação, na verdade, foi “um tipo de sociedade comprometida com a causa da segurança estável e da estabilidade segura, que baseia seus padrões de reprodução a longo prazo em comportamentos individuais criados para seguir essas motivações” que serviu de esteio para alicerçar a pedra fundamental do consumismo.

Àquela em que Bauman nomeia fase “sólida da modernidade” foi basicamente orientada para a segurança e, norteada por esse anseio, “apostou no desejo humano de um ambiente confiável, ordenado, regular, transparente e, como prova disso, duradouro, resistente ao tempo e seguro...”.

Lícito, sem dúvida, todo esse afã constituiu a matéria-prima convincente e “bastante conveniente para que fossem construídos os tipos de estratégias de vida e padrões comportamentais indispensáveis para atender à era do ‘tamanho é poder’ e do ‘grande é lindo’: uma era de fábricas e exércitos de massa, de regras obrigatórias e conformidade às mesmas, assim como de estratégias burocráticas e panópticas de dominação que, em seu esforço para evocar disciplina e subordinação basearam-se na padronização e rotinização do comportamento individual (...)”.

Assim, afirma o renomado sociólogo, foi-nos incutido que a posse de um grande volume de bens garantiria uma existência segura, imune aos caprichos do destino: “Sendo a segurança a longo prazo o principal propósito e o maior valor, os bens adquiridos não se destinavam ao consumo imediato – pelo contrário, deviam ser protegidos da depreciação ou dispersão e permanecer intactos”.

Não era exatamente pelo desfrute imediato que ansiávamos, ao contrário, esse modelo preconizava que se adiasse (quase indefinidamente) a fruição dos bens arduamente conquistados, acumulados e estocados.

No começo do século XX, o ‘consumo ostensivo’, diz ele, portava um significado bem distinto do atual: “consistia na exibição pública de riqueza com ênfase em sua solidez e durabilidade, não em uma demonstração da facilidade com que prazeres imediatos podem ser extraídos de riquezas adquiridas (...)”.

Bens resistentes e preciosos, como joias e palacetes ricamente ornamentados, “Tudo isso fazia sentido na sociedade sólido-moderna de produtores – uma sociedade que apostava na prudência, na durabilidade (...)”.

Mas o desejo humano de segurança e os sonhos de um ‘Estado estável’ definitivo não se ajustam a uma sociedade de consumidores, alerta Zygmunt Bauman: “(...) o consumismo, em aguda oposição às formas de vida precedentes, associa a felicidade não tanto à satisfação de necessidades (...), mas a um volume e uma intensidade de desejos sempre crescentes, o que por sua vez, implica o uso imediato e a rápida substituição dos objetos destinados a satisfazê-la”.

A insaciabilidade – maldição de Tântalo! –, permeia nosso ambiente líquido-moderno, inóspito ao que é estável, à placidez de um ‘Tempo Eterno’.

O pensador Stephen Bertman cunhou os termos ‘cultura agorista’ e ‘cultura apressada’ para denotar a maneira como vivemos atualmente: “O consumismo líquido-moderno é notável, mais do que por qualquer outra coisa, pela (até agora singular) renegociação do significado do tempo”. Ser feliz? Só se for para já!

Nem cíclico, tampouco linear, o tempo agora é pontilhista*: “(...) fragmentado, ou mesmo, pulverizado numa multiplicidade de ‘instantes eternos’ – eventos, incidentes, acidentes, aventuras, episódios –, mônadas contidas em si mesmas, parcelas distintas, cada qual reduzida a um ponto cada vez mais próximo de seu ideal geométrico de não-dimensionalidade”.

Agora, imediatamente. E o motivo da pressa é, em parte, o impulso de adquirir e juntar. Mas o motivo mais premente que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de descartar e substituir, aponta Bauman. Entediante, esse enfadonho ‘viciante círculo vicioso’ gera angústia, melancolia.

Mesmo os que encontram uma real necessidade de algo, “logo tendem a sucumbir às pressões de outros produtos ‘novos e aperfeiçoados’”. Vem-nos à mente a imagem do cão correndo em círculos, a perseguir o próprio rabo.

E, ao “sentir a infinidade da conexão, mas não estar engatado em coisa alguma”, sobrevém sorrateira melancolia, o que Bauman aponta como sendo a aflição genérica do consumidor.

Isso, abordaremos oportunamente. Desejo a todos os distintos amigos leitores, Abençoado Natal e Um Ano Novo repleto de felicidades.


(*) “Fazendo uma analogia com o movimento pontilhista de mestres como Sisley, Signac ou Seurrat, Pissaro ou Utrilo”.



1 de nov. de 2012

O último dia de um condenado - Victor Hugo



A morte só pertence a Deus! Com que direito os homens põem a mão nessa coisa desconhecida?” Victor Hugo, em Os Miseráveis.


Victor Hugo (1802-1885) é considerado o maior escritor francês do séc. XIX. Em 1829, com 27 anos, ele publica o que afirma ser um manifesto contra a pena de morte: “Le Dernier jour d'un condamné”. Mesmo os familiarizados com as tragédias, concordarão que essas linhas guardam os pensamentos mais dilacerantes com os quais já nos deparamos.

Segundo Bénédicte Houart, a grande repercussão dessa obra contribuiu para que Portugal fosse o primeiro país europeu a abolir a pena de morte, em 1876. Victor Hugo se congratulou: “felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa (…). A Europa imitará Portugal. Morte à Morte! (…) A liberdade é uma imensa cidade da qual todos somos concidadãos”.


Não sabemos qual delito o atormentado cometeu, mas entrevemos tratar-se de um homicídio.
Condenado à morte!”.

É com essa dramática sentença que Hugo inicia sua obra para, logo a seguir, nos fazer adentrar a psique do infeliz que, outrora, era um homem cheio de vida: “Cada dia, cada hora, cada minuto trazia consigo uma ideia nova (...). Entretinha-se desenvolvendo-as umas após outras, sem ordem e sem objetivo, bordando com arabescos inesgotáveis esse rude e frágil tecido de vida (...). Podia pensar no que quisesse, era livre.” Tão livre quanto nós.

O relato abarca as seis semanas que antecedem a degola. Atordoado por portentoso sofrimento psíquico, o condenado tenta amenizar o inaceitável absurdo de estar ciente de sua hora, aventando sobre quantos, sem o saber, não morrerão antes dele, quantos não caminham e respiram e, no entanto, passarão à sua frente, para depois reconhecer no funesto, o abominável de sua situação.

Limitado à calamitosa condição de prisioneiro, conversa com os outros detidos, que lhe ensinam a falar o calão (gíria dos ladrões e criminosos): “É uma linguagem [de] (…) palavras estranhas, misteriosas, feias, sórdidas (...)”. Alguns desses termos chulos são falados até hoje. Mas, embora berço e linguagem os distinguisse, a solidariedade o comovia, pois sabia que esses homens eram os únicos que se apiedavam dele.

Imbuído de articular para si mesmo o angustiante tormento que vivencia, escreve suas memórias de condenado, como diz, inacabadas, mas nem por isso incompletas: “Não haverá nesse corpo a corpo do pensamento agonizante, nessa progressão aritmética da dor, nessa espécie de autópsia intelectual de um condenado, mais do que uma lição para aqueles que julgam e condenam? Talvez que a sua leitura lhes torne a mão menos ligeira quando se tratar outra vez de atirar um corpo pensante, uma cabeça humana, para aquilo que eles chamam a balança da justiça?”.

Questiona se os ‘operadores’ da justiça “teriam refletivo sobre essa lenta sucessão de torturas que a expedita formulação de uma condenação à morte encerra”, se teriam meditado haver nesse homem que despedaçam “(...) uma alma que não se preparou para morrer”.

O cérebro do condenado à morte agoniza a cada linha é sua tortura é de magnitude tal, que nos faz invejar a condição dos condenados aos trabalhos forçados na prisão perpétua.

Sabe que deixará a mãe, mulher e filhinha ainda pequena. Admite que esteja a ser punido com justiça, mas ignora o que essas “três viúvas pela lei”, fizeram para merecer tal infortúnio.

Fica indignado com a postura algo vaga, fria e formal com que todos veem aos condenados. Nem mesmo o titular capelão da prisão se exime desse distanciamento: “Mas o que me diz esse ancião? Nada de sentido, nada de carinhoso, nada de emocionado, nenhum derrame da alma, nada que se soltasse do seu coração e se dirigisse para o meu, nada que nos tornasse um do outro cúmplices”.

Conclui que esse comportamento deve-se ao fato de já estar acostumado ao que faz estremecer os outros, que já envelheceu a encaminhar homens para a morte e que por isso tudo é mecânico.

Anseia por uma alma sensível, por um padre ‘comum’ que compreenda: “Há um homem que está prestes a morrer, e é preciso que sejais vós a confortá-lo. É preciso que estejais presente quando lhe atarem as mãos, quando lhe cortarem o cabelo; que subais para a carroça com o vosso crucifixo para lhe esconder da vista o carrasco (...); que o abraceis no degrau do cadafalso, e que permaneçais junto dele até que sua cabeça e o seu corpo jazam cada qual para seu lado”.

Victor Hugo nos comove: “Então, que mo tragam, de coração a palpitar, a tremer da cabeça aos pés; que me atirem para os seus braços, que me ponham de joelhos a seus pés; e ele há de chorar, e havemos de chorar ambos, e ele será eloquente, e eu sentir-me-ei reconfortado, e o meu coração, demasiado cheio, esvaziar-se-á no seu, e ele tomará a minha alma em suas mãos, e eu abraçarei o seu Deus”.
 

Durante toda via-crúcis rumo ao cadafalso, não escapa ao aflito nenhum detalhe de tudo o que, pela última vez seus olhos podem enxergar. Ao ouvir os festivos “comerciantes de sangue humano”, ávidos em negociar lugares para o horrendo espetáculo: “Quem quer um lugarzinho? Quem quer um lugarzinho?”, sentiu raiva e teve vontade de gritar-lhes: “E quem quer o meu?”.

Após o término da ‘toilette do condenado’, ao se deparar o clamor da multidão, “um mar de cabeças na praça”, pondera que “Por mais que um rei fosse amado, a festa não seria tão grande”. Tomado de incredulidade, confessa ter sido para esse temido momento que tinha tentando guardar todo o seu sangue-frio.

Estava preparado, mas não estava pronto: “Esta multidão na qual todos me conhecem e eu não conheço ninguém.... É uma sensação insuportável esse peso de tantos olhares sobre nós”.

Ao avançar pelo pátio atulhado da populaça que ria e batia os pés na lama, sentiu-se “violentamente conquistado pelo terror. Receei desfalecer, ó última vaidade! Então, atordoei-me voluntariamente, para estar cego e surdo a tudo, exceto ao padre (...). Ó meu Deus, tende piedade de mim (...)”.

Ao ver um magistrado que acabara de chegar, uniu as mãos e arrastando-se de joelhos, implorou que o agraciasse: “A minha graça! A minha graça! Repeti, ou, por piedade, só mais cinco minutos”.

Em desespero: “Estou sozinho. – Sozinho com dois policiais. Oh! O povo horrível com os seus gritos de hiena! Quem sabe não lhe escaparei? (...) É impossível que não me concedam uma graça! Ah! Miseráveis!”. Pressente... O carrasco sobe a escada.

Mesmo cônscios de que por trás de todo berço existe um túmulo, ignorar o quando de nosso último suspiro constitui indicativo incontestável da benevolência divina.
 


Quando Victor Hugo veio a falecer, em 22 de maio de 1885, cerca de um milhão de pessoas acompanharam seu cortejo fúnebre, em Paris.

Sugiro que assistam ao vídeo sobre a obra: http://vimeo.com/30504904
 
E que realmente desfrutem dessa magnífica obra, preferencialmente ao som de Korsakov:
 
 
 
 
Último "Curso de Mitologia Grecoromana" do ano: dias 22 e 23 de novembro.
 
 
 

1 de out. de 2012

Como distinguir o amigo do bajulador - Plutarco (II)


Para que servem os amigos, quando se tem o sucesso? Eurípides

De fato, são sobretudo as pessoas felizes que precisam dos amigos que falam com franqueza e rebaixam o excesso de seu orgulho: pois há poucos homens que se mantêm sensatos na prosperidade.” Plutarco

No artigo anterior, vimos com Plutarco porque somos responsáveis por nos cercarmos de bajuladores.
 
Dentre os indícios daquele que quer se passar por amigo, mas não é, alertou que o bajulador visa somente seu próprio bem e bajula àqueles de quem possa obter benefícios; que é invejoso e, evita se opor às opiniões dos bajulados. Se faz de semelhante, mas a inconstância e a volubilidade o denunciam.
 
A fim de saber lidar com esses oportunistas que intentam agradar a todo custo e para que não nos tornemos assim, prossigamos em sua obra.
 
O bajulador, diz o sábio, faz questão que o bajulado ganhe dele em tudo, pois não aspira à igualdade. Enquanto o amigo é agradável, mas eventualmente é também causa de desprazer (se achar que deve sê-lo), o bajulador crê que deve ser somente agradável e o que mais faz é elogiar.
 
Isso é prejudicial, pois embota uma noção isenta sobre nós mesmos: “(...) Mas que terríveis consequências tem comumente esse louvor que, acostumando-nos a olhar nossos vícios como virtudes (…) tira do mal a vergonha que ele naturalmente deve inspirar.”, afirma Platão.
 
Flagramo-los quando observamos as concessões e deferências fingidas que concedem – não à experiência, à virtude ou à idade –, mas à riqueza e ao poder.
 
Por conta da existência de uma vasta corja de bajuladores, Carnéades dizia que a única coisa que os filhos dos reis e dos ricos aprendem convenientemente é montar a cavalo e mais nada, pois: “(...) o cavalo, incapaz de distinguir um simples particular de um notável, ou um rico de um pobre, e bem longe de se preocupar com isso, sacode da sela todo aquele que não sabe montar”. São francos.
 
A verdadeira franqueza, diz Plutarco, aquela que caracteriza a amizade, empenha-se não apenas em corrigir, mas também em curar as falhas. A aparente franqueza do bajulador, se posta em prova, revela-se branda, superficial, desprovida de peso e energia.
 
Embora anseie pela reputação de inimigo do vício, o bajulador se revela quando é grosseiro e intratável com os domésticos e demais subordinados, enérgico em apontar as faltas dos parentes, dos amigos e, diante de estranhos, não manifesta respeito, mas desprezo aos que não lhe interessam.
 
Afetado por uma “altiva severidade”, porém omisso com coisas sérias, finge que não vê as faltas capitais, que ignora as questões reais de quem lhe interesse: “Mas fica furioso quando se trata de se manifestar sobre os pecadilhos leves e exteriores (…)”. Assim, busca construir sua reputação.
 
Bajulações podem ser perigosas se se dirigem a homens pouco habituados a refletir. O único meio de lutar contra isso é tomar consciência das próprias falhas: “(…) nossa alma é a sede de duas faculdades; uma é dotada de sinceridade, beleza e razão, a outra, desprovida de senso, é um teatro de mentiras e violentas paixões (…).”
 
Atento à nossa vulnerabilidade, o bajulador faz “suscitar a elevação insuportável e oca do orgulho (...)”.
 
Plutarco dá-nos o pharmakon: se formos “(...) conscientes de nossas ambições, de nossas indelicadezas e de nossas covardias, é impossível que não desmascaremos um bajulador: [que] é o apologista infatigável de nossas paixões (...)”.
 
Reconhece-se o bajulador por sua devoção. Eles nos cercam, diz Plutarco, com “a solicitude afetada de uma cortesã (...)”. Ao contrário, a conduta do amigo, citando Eurípides, “é simples como uma palavra de verdade, sem rodeios e sem dissimulação (...)”.
 
O remédio é evitar ansiarmos por uma plateia que nos aplauda o tempo todo: “Escolhe como amigos aqueles que não fazem concessão, mas que um ferrolho defenda tua corte dos perversos (…)”.
 
Infelizmente, comumente, agimos de maneira inversa, procuramos “fugir dos que não nos fazem nenhuma concessão (…), enquanto [deixamo-nos acompanhar por] esses vis impostores, que só sabem agradar por bajulações servis (...)”.
 
Os serviços prestados pelo bajulador dispensam a moral: “(...) qualquer coisa infame e vergonhosa que se lhe queira ordenar, ele está pronto a esforçar-se para agradar (...)”. Ao revés, um bom amigo não participa do que é desonesto: “Deve-se ajudar seu amigo em seus empreendimentos, mas não em seus crimes; deve-se ser um conselheiro e não um conspirador, um fiador, não um cúmplice, um companheiro de infortúnios, sim, por Zeus, mas não um conivente nos erros”.
 
Plutarco afirma que “nada é mais doce que partilhar com muitas pessoas os sentimentos de uma benevolência recíproca (...)”. Razão pela qual é natural que nos empenhemos para que outros também desfrutem de nossos bons amigos.
 
O bajulador não pensa assim, pois teme ser desmascarado: “(…), sentindo que, em comparação com um amigo verdadeiro, sólido e de boa índole, se reconhecerá como ele é frívolo, falso e trapaceiro (...)”. Nesse contexto, tenta afastar os amigos do bajulado. Quando não consegue, finge bajulá-los enquanto semeia calúnias e fomenta intrigas.
 
É nossa boa impressão sobre nós mesmo, insiste o autor, uma das causas que nos torna vulneráveis à bajulação. Convém acalentar o hábito de considerar nossas faltas, nossos erros, atentarmo-nos à autocrítica e às críticas apontadas com franqueza pelo amigo, quando agimos mal.
 
Por outro lado, se queremos ser amigos e não bajuladores dos demais, é preciso compreender o tipo de franqueza que os distingue.
 
A franqueza deve ser moderada, pois: “Se é vergonhoso tornar-se bajulador procurando agradar, não o é menos entregar-se, para evitar a bajulação, a uma franqueza imoderada, que destrói a amizade e a solicitude”. Pronunciar palavras mordazes a um homem infeliz, longe de curar ou aliviar seu mal (preocupação de um amigo), extenua-se um coração já magoado e, aquele que pensa que dizer injúrias é falar com franqueza, não passa de um grosseiro, diz Plutarco.
 
Enquanto a discreta franqueza que prodigaliza uma lição moral é do domínio da amizade e da nobreza – “(...) impossível resistir a uma franqueza cuja doçura dê mais peso à advertência” –, as censuras frias revelam estreiteza de espírito. A prepotência deve ser excluída da franqueza: “(...) devemos, de alguma maneira, varrer todo traço de insolência, ridículo, gracejo ou zombaria (…) a franqueza pode admitir habilidade e elegância, contanto que a benevolência preserve a dignidade (...)”.
 
Ocasião favorável para usar de franqueza com um amigo é aquela em que ele se torna humilhado e embaraçado pelas censuras que outros lhe fizeram a respeito de seus erros.
 
Mas, para tanto, necessita-se de autoridade moral. Plutarco ensina que, se um homem frívolo e sem valor moral se põe a falar com franqueza, pode-se objetar: “Todo coberto de pústulas, queres cuidar dos outros?”.
 
Sensível, o autor diz que uma alma afetada por uma paixão violenta não suporta franqueza demais. São as correções ditadas por um genuíno sentimento de benevolência e amizade que nos orientam e confortam.
 
Após delicada franqueza numa advertência ao amigo, evitemos findar a conversa com palavras mordazes que possam humilhá-lo, deixando-o à mercê de sofrimentos. Solidário, o verdadeiro amigo jamais nos abandona.
 
 



Último "Curso de Mitologia Grecoromana" do ano: dias 22 e 23 de novembro.

1 de set. de 2012

Como distinguir o amigo do bajulador - Plutarco (I)


 “O cúmulo da injustiça é querer passar por justo sem ser.” Platão
 
 
Ao tratar da sutil distinção entre um verdadeiro amigo e um mero oportunista, Plutarco (69-120 d.C.) nos leva a refletir sobre nossas próprias falhas, revelando o quão somos responsáveis por nos cercarmos de bajuladores, expondo-nos a riscos desnecessários.
 
Logo no início da obra, o autor chama a atenção para o fato de que é ao acalentarmos um excesso de amor-próprio – tão salutar quando em boa medida – que não fazemos um julgamento íntegro e imparcial sobre nós mesmos: "o amante é cego a respeito do que ele ama.", diz ele.
 
Superestimando nossos talentos, preparamos o terreno para as ações dos bajuladores. Esse embotamento é propício a que nos acessem: "cada um de nós é o primeiro e o maior adulador de si próprio.". Ansiosos pela confirmação de nossos dotes, regojizamo-nos a toda aprovação.
 
Plutarco ressalta que quem gosta de bajulação está perdidamente enamorado de si. O efeito nocivo disso abarca muito mais do que imaginamos: "supondo-se que a verdade seja divina e seja, segundo Platão, o princípio 'de todos os bens para os deuses e de todos os bens para os homens'", o bajulador é inimigo dos deuses e dos homens, pois nos ilude, tornando-nos cegos no que diz respeito às nossas virtudes e nossos vícios. Sabota o famoso imperativo "Conhece-te a ti mesmo".
 
Ele afirma que assim como os vermes penetram de preferência nas madeiras tenras e odoríferas, são as almas bondosas e generosas – no entanto narcísicas – que acolhem e nutrem a bajulação. E, o bajulador “não acompanha os indigentes, os anônimos ou os desprovidos de recursos (…)", por isso, os mais pobres tanto se orgulham dos amigos sinceros.
 
O sábio alerta que espreitar as ardilosas manobras dos bajuladores para apanhá-los em flagrante e impedi-los de nos prejudicar não é uma questão irrisória, pois com o passar do tempo, esses invejosos caluniadores envenenam e destroem reputação, amores, lares, sonhos, carreiras e outras amizades.
 
Enquanto o amigo quer bem ao amigo, o bajulador quer bem somente a si mesmo e, seduzidos por glória e poder, ocorrendo alguma indesejável alteração na roda da fortuna do bajulado, abandona-o rapidamente.
 
É prudente não esperar passar por reveses para descobrir quem possui um coração sincero e honesto e quem é falso e desonesto: "é preciso pô-lo à prova antes de recorrer a ele (...) não é após ter sido enganado, mas precisamente para não sê-lo, que devemos pôr à prova e desmascarar o bajulador".
 
Nobreza e dignidade caracterizam a verdadeira amizade que, além de somar prazer e encanto aos sucessos, alivia sofrimento, os embaraços das más fases. O amigo é, de fato, condescendente com o agradável e o útil e, é nessa vestimenta emprestada que o bajulador se insinua.
 
Assim como o ouro falso muito se assemelha ao verdadeiro, o bajulador imita a benevolência e a boa vontade do amigo, tenta parecer sempre simpático e divertido, além de evitar se opor às nossas opiniões.
 
Obviamente, não é porque alguém nos louva que devemos desconfiar, "(...), pois o elogio é tão conveniente para a amizade quanto a censura no momento oportuno.". Aliás, será do amigo que virão francas repreensões, que devem ser ouvidas "(...) com confiança e acolhidas com reconhecimento, na convicção de que são necessárias (...).".
 
Amigo sincero nos elogia com prazer, mas nos censura a contragosto. Considerando que, nem o prazer do desfrute do que há em comum, tampouco os elogios são critérios distintivos, é realmente difícil distinguir entre o amigo e o bajulador que exerce seu ofício com mais habilidade e talento, tomando parte em nossas emoções e adotando hábitos semelhantes aos da amizade.
 
Plutarco salienta que a vontade de ajudar, de prestar serviços e, de algum modo tornar-se útil a fim de favorecer a quem se preza, caminha na esteira da amizade: "a ponto de um amigo, diz-se, ser mais indispensável que o fogo e a água.".
 
O bajulador, "entregando-se aos bons ofícios, se dedica sem cessar a ostentar zelo, diligência e prontidão". Astuto camaleão, assim ele procede.
 
Uma amizade é fundamentada na semelhança de costumes, na identidade dos estilos de vida: "a similitude dos gestos e das aversões”. O bajulador sabe disso e se modela a fim de imitar àqueles de quem buscam ganhar confiança.
 
Corroborando a afirmação acima, cita ainda um poema em que diz que, "o velho, por seus discursos, sabe agradar ao velho, e a mulher à mulher, e a criança à criança, o doente ao doente e, quando o indigente encontra seu semelhante, sente menos a sua miséria".
 
O verdadeiro bajulador, diz Plutarco, imiscui-se em nossas atividades, partilha nossos segredos. Em função de sua postura amigável, conjugada com certa gravidade assumida diante de tudo o que é nosso, entregamos de bandeja a oportunidade de se instalar em nosso ego sedento de afeto.
 
Eles estão sempre atentos a transitar por entre afortunados, assediando-os. Desmascará-los exige que estejamos preparados para recusar o útil e agradável de suas palavras e atitudes encantatórias (abrindo mão de falso julgamento sobre nós mesmos) a fim de repelir o mal OU expor-nos a algum dissabor enquanto o pouparmos de um crivo mais lúcido.
 
Cônscio de que a franqueza é a linguagem característica da amizade, o bajulador nos ilude: "(...) afetam uma sinceridade que não é nem espontânea nem salutar (...)", e sabe usar dessa artimanha.
 
Como distinguir aquele que não é nem se tornou nosso semelhante e, entretanto, quer se passar por tal?
 
Primeiro, diz ele, é preciso examinar se seus princípios são duráveis e inabaláveis: "Se sua vida é regrada, e dirigida num mesmo e único plano”, isso requer tempo.
 
A psique do bajulador não tem consistência, pois ele confunde todos os valores morais: "ele leva uma vida apoiada na exigência de um outro e não na sua própria exigência". Com um, jura ser pacato; com outro, diz que adora sair. Isso o leva a, ora fazer-se de íntegro com uns; ora a compactuar injustiças com outros.
 
Embora uma boa autoestima seja algo benéfico, é um descompassado componente 'narcísico' que nos coloca na mira deles, pois não existe bajulador sem o prazer em ser bajulado.
 
Sua inconstância e volubilidade, no entanto, podem ser os indícios reveladores de sua natureza. Para percorrer essa trilha, antes, convém abrirmos mão da tolice que é a confirmação de juízos exacerbados sobre nós mesmos. A isso, um ego pueril sempre reluta.
 
 
PS: Em outubro, prosseguiremos com esse legado de Plutarco (II).



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1 de ago. de 2012

Pigmalião e Galatéia - A idealização do ser amado


"Eu aprendi que ninguém é perfeito, até que você se apaixone por essa pessoa.” Shakespeare.
                         
"As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam". Bernard Shaw.                     
            
                  
Todos os mitos versam sobre algum drama que vivenciamos. Paul Diel afirma que: “Os mitos falam do destino humano sob seu aspecto essencial; destino resultante do funcionamento sadio ou doentio (evolutivo ou involutivo) do psiquismo.”. O que pode haver de salutar ou doentio no anseio pela personificação do ser amado, previamente idealizado?

O poeta romano Ovídio (início da era cristã), em sua obra “Metamorfoses”, relata-nos o mito de Pigmalião, um habilidoso escultor que, chocado com tanta leviandade e abominando o comportamento despudorado das mulheres, decide viver solteiro.

Para se distrair, esculpe então a estátua de uma donzela incomparavelmente bela. Primoroso e requintado em todos os detalhes, uma vez concluída, ele se apaixona perdidamente por sua obra, que passa a chamar de Galatéia.

Iludido com a materialização de tamanha perfeição – “era como se estivesse viva e somente o recato impedisse de mover-se” –, ele a enfeita, abraça, beija, faz elogios e lhe mima com inúmeros presentes tais como joias, flores e elegantes vestes.

Esperançoso, no festival de Vênus (Afrodite), celebrado em Chipre, Pigmalião implora à deusa por uma bela e virtuosa companheira: “Se vocês podem nos dar tudo, todas as coisas, ó deuses, rezo para que minha mulher possa ser como minha menina de marfim.”.

Comovida,  a deusa do amor e da beleza, fazendo a chama do altar se erguer três vezes, dá indícios de que atenderá a seu pedido. Mas não encontrando na terra nenhuma mortal que atingisse a perfeição de beleza física de tão amada escultura, decide dar vida à pedra.

Ao regressar à sua casa, Pigmalião deita-se ao lado de Galatéia, a quem chama de adorada esposa e, ao beijá-la, sente-a corar, percebe que “as veias pulsam sob seus dedos”. Atônito e extremamente agradecido, Pigmalião une-se à sua Galatéia e gera uma bela menina chamada Pafos.

Guiado pelo mito, o dramaturgo irlandês George Bernard Shaw (1856-1950), escreve a peça intitulada “Pigmaleão” (comédia satírica) – que inspirou o musical “My Fair Lady” e os filmes (comédias românticas) de mesmo título, inclusive o de 1964, com a adorável Audrey Hepburn. Nos filmes, firmando aposta com um amigo, o professor Higgins decide transformar uma humilde florista ambulante numa refinada dama da sociedade.

Atingido seu intento, apaixona-se pela ‘obra’ que criou, mas tem seu amor recusado pela moça. Empenhando-se, no entanto, o professor acaba por conquistá-la.

Explorando o mito, nos fins dos anos sessenta, os psicólogos americanos Robert Rosenthal e Lenore Jacobson mostram que acalentar alguma idealização pode se revelar profícuo numa relação. Focando na relação professor/alunos, eles se dedicaram à análise do quanto o otimismo de nutrir boas expectativas pode se revelar benéfico.

Nossa expectativa, nossa percepção, quer seja de pessoas, quer seja da realidade tem efeito sobre as pessoas que conhecemos, convivemos, sobre a própria realidade e também na maneira como nos relacionamos.

Segundo a teoria que denominaram “Efeito Pigmalião” (ou efeito Rosenthal), ao confiar previamente no benéfico, o benéfico se presentifica. Se partirmos do pressuposto de que alguém ou alguma situação é favorável (bondosa, cortês, virtuosa), consequentemente estaremos contribuindo para que essas características se presentifiquem.

Para o estudioso Douglas McGregor: “quem tem expectativas ruins sobre os outros, não acredita neles ou não vê suas qualidades, costuma colher o pior dessas pessoas; já quem tem expectativas positivas, tende a obter o melhor de cada uma delas.”.

Se decidirmos antecipadamente que alguém é vulgar, idiota ou inimigo, por exemplo, estaremos ‘dando o tom’ e o que surgir alinhar-se-á mais facilmente a essa expectativa.

No afã da realização de um ideal de parceria, esquadrinhamos em nossa psique as características desejáveis (sobretudo no cônjuge) e, meio que cegos ao direito à individualidade, nos esquecemos de que as pessoas têm personalidade própria e que é improvável que alguém venha a atender inteiramente aos nossos anseios.

Embora essa esperança de correspondência abarque a todos àqueles que nos cercam – em maior ou menor grau, idealizamos os pais, irmãos e até mesmo os amigos –, será ao projetar nossos ‘ideais’ no parceiro e nos filhos que mais poderemos nos sentir desapontados. Prevenidos com uma consciência mais realista em relação à diversidade, às fraquezas humanas, enfim, munidos de certa sensatez, amenizaríamos algumas desilusões.

No caso de Pigmalião – talentoso artista –, seu desejo foi plenamente atendido. Para nós, demais mortais, uma pretensão exagerada pode culminar – em maior ou menor grau – n’alguma frustração. Insistir em ‘tirar leite de pedra’, então, pode até terminar em tragédia, como exibem os noticiários.

Constatamos que, no mito, graças à crença no poder de uma divindade, Pigmalião teve a benção de ver se materializar o ideal de perfeição que ansiava encontrar numa esposa. O professor de “My Fair Lady” pelos seus esforços, pôde – além de fazer emergir na humilde mocinha, a distinta dama que a habitava –, aflorar nela o amor que sonhava. E o “Efeito Pigmalião” também pode contribuir nesse sentido.

Obviamente, nada garante que nossas expectativas serão plenamente realizadas, sobretudo quando elevamos padrões e almejamos nada menos que a 'perfeição' (e isso quando nem mesmo nós somos assim, 'perfeitos'). Mas, no caminho que leva à concretização desse ideal, é salutar que, ao invés de pedras nas mãos, tenhamos flores.






















1 de jun. de 2012

MEDEIA e a Tragédia da Alienação Parental


Medeia é a famosa personagem da tragédia grega que, abandonada, assassina os próprios filhos a fim de se vingar do marido.

Alienação parental também é uma dissimulada forma de ‘assassínio’: independente da idade cronológica, inocentes são consciente ou inconscientemente ‘sacrificados’ como forma de retaliação a um ultraje que se acredita ter sofrido.

Nesse peculiar modo de destruição, preserva-se o corpo (soma) enquanto velada e sorrateiramente, aniquila-se a alma (psyché). E são muitos os que, embora vivos, se sentem mortos.

Como pode o amor avizinhar-se de tamanha fúria, transmutando o que outrora era doce, no mais amargo fel?

Antigas e ao mesmo tempo atuais, tragédias são atemporais. Será sobre as potestades que presidem ‘medéicos’casos de alienação parental, que versaremos.


Na comovente peça, escrita em 341 a.C. pelo premiado tragediógrafo grego Eurípides (Salamina, 480 – Macedônia, 406 a.C.), Medeia é a nobre (filha do rei Eétes) que se apaixona por Jasão e se empenha ferrenhamente para que ele reconquiste a elevada posição social que almeja.


Após auxiliá-lo, casar-se e gerar um casal de filhos, a estrangeira se vê traída, pois fora preterida em favor de uma nova aliança, dessa vez com a filha de Creonte. Narro o drama nesse link: http://www.esdc.com.br/audio/02.mp3


A tragédia, ao fazer emergir o embate entre o ‘pré-direito’ x ‘direito’, como diz Rachel Gazolla, no Capítulo intitulado "Para não ler ingenuamente uma tragédia grega", de sua obra “Pensar mítico e filosófico” (Edições Loyola), trata da dramatização de antigos – e até então, intocáveis valores, que alicerçavam famílias e fratrias – diante dos novos (e constantemente retocados) rumos que a pólis do discurso prenuncia.

E, na cidade, em caótica ebulição, alimentando o conteúdo desses episódios: uniões com estrangeiros, novos contratos sobrepujando os antigos, direitos antigos versus novas leis, que a retórica faz eclodir e, claro, o dramático modo pelo qual essas inescrutáveis e invisíveis instâncias – titânicas (ctônicas) ou olímpicas – se fazem notar.

Entrelaçando retórica e política à poética, as tragédias (trágos = bode + aoidé = canto) – consideradas por Aristóteles educativas por excelência, pois formadoras do espírito – remontam aos rituais que explicitam sagrados interditos e tensões que afloram quando se menospreza o peso do sagrado.


Nos primórdios “do uso de uma linguagem técnico-jurídica”, a tragédia inculca penalidades por profanação de valores, como o são o cosmos e as leis antigas (como em Antígona: http://lucienefelix.blogspot.com.br/2008/01/embate-entre-lei-divina-thmis-e-lei-dos.html ) que, quando infringidos, são tratados no sacro tribunal do Areópago, que vigia e responde pelos crimes mais graves, a saber, os de sangue.

Mas a tragédia, ritual político-religioso que visa ensinar aos novos cidadãos os antigos paradigmas aristocráticos do bem agir, aos poucos, vai se laicizando: de Sófocles a Eurípides, na Atenas de Péricles, os gregos já contam com tribunais e uma assembleia (laica e isonômica) para a discussão de grandes delitos ou corriqueiras desavenças.

Graças à logógrafos como Lísias, Górgias e Protágoras, muitas peças contendo acusações, defesas e sentenças são organizadas e devidamente arquivadas para consulta e/ou modelo: o lógos bem concatenado persuade e a retórica ameniza a penalidade ou, até mesmo, liberta criminosos.

A instância que hoje denominamos de ‘jurídico’ já está presente no modo da poesia dialógica encenada da aconselhadora tragédia. A kátharsis (purificação) não redime, mas expondo, alertando e punindo o réu diante do público, ensina.



Numa época em que cada vez mais e com maior frequência, grandes impasses entre o mundo ‘invisível’ (leis de Antígona) e o mundo ‘visível’ (leis de Creonte) começam a ser decidido na oralidade (via persuasão) o trágico emerge como reduto onde o ‘invisível’ de uma ‘instância inefável’ se manifesta sequestrando o juízo de quem a subestima.


São inúmeras as leituras e os ensinamentos a serem extraídos dos mitos e das tragédias: a vingança impetrada pelo cônjuge traído e/ou abandonado, como Medeia, é um ‘clássico’ e, por isso mesmo, atualíssimo, vide as alienações parentais.


Se o encerramento de contratos antigos fosse lúcida e pacificamente aceito... Mas como diz o amigo Kleber Sernik, “o ‘SE’ num joga”, então, perscrutemos as potências que, em fúria cega, desencadeiam o ódio.


Curiosamente, filhas do mesmo pai e nascidas no mesmo instante, gêmeas opostas, ‘estrelas’ de grandes tragédias são elas: Afrodite e as Erínias (Moiras, as Fúrias), intensas dýnamis (potência), presentes no cerne de toda polemós.

Em sua origem mítica, Afrodite, a arrebatadora deusa do amor e da atraente beleza, detentora do poder que promove a união, nasce do esperma dos órgãos genitais de Ouranós (o Céu), ceifado por Chronos (o Tempo).

Concomitantemente, do sangue vertido por tal violenta foice, surgem atentas Erínias, que governam a sinistra fatalidade do Destino, o lote de cada um nessa vida; instâncias cruéis, sob cujos domínios, nem mesmo os deuses escapam.

Uniões ilícitas (como a do inocente Édipo), amores desprezados ou ultrajados, desencadeiam guerras, vinganças, retaliações. Sabemos que o rapto de uma mulher casada, sela o fim de uma antiquíssima e rica dinastia e que a predileção de Hipólito por uma austera e casta divindade (Ártemis) em detrimento de outra (Afrodite) culmina na morte do jovem.


Expoente mor de alienação parental, pois portadora de uma terrível hamartía (marca da falta, erro), Medeia anseia pela desforra contra Jasão e, nisso, seu comportamento assemelha-se ao daqueles que militam denegrindo o ex-cônjuge. Sim, ela os mata. E afirma retirar ‘forças’ para empreender tão nefasta façanha, imaginando o martírio do ‘ex’.


Envoltos pela atér (cegueira que leva ao desvario, à ação desvairada e por fim à ruína), ressentidos, mas cônscios de que essas dissimuladas atitudes realmente afetam àqueles por quem miseravelmente nutrem aversão, alienadores parentais (independente de raça, credo, condição econômica ou grau de instrução), quando tomados por um mau daímon (a presidir furor, maldição e vingança) ignoram os incomensuráveis e muitas vezes irreversíveis danos psíquicos naquelas Almas que dizem (e até acreditam!) zelar.


Ao arregimentar os frutos do que outrora fora amor, alienadores parentais desferem-lhes sutis – mas certeiros – golpes psíquicos. Afastando-os gradativamente, física e/ou afetivamente, atingem não somente o progenitor desmoralizado, mas também negam aos próprios filhos o direito à plena eudaimonia (felicidade).

Oriundo do período arcaico, o ‘bode expiatório’ ressoa: “Recusar o sagrado não basta para retirá-los de nós”, afirma Rachel Gazolla. É no inocente – caprichosa exigência do trágico – que recai a expurgação. Sobre esses, o míasma (tenebroso que cai sobre uma família e seus descendentes).


Saibamos ler os sinais dos deuses, ponderando. A própria filosofia, “Herdeira da tragédia, saberá demonstrar que os limites da autonomia da ação não são fáceis de reconhecer, e que a reflexão para o bom agir deve ser um objetivo do homem comum.”, aponta a estudiosa.

Ampliar categorias mentais que incluam o simbolismo sagrado presente nos interditos explicitados nas tragédias – “Qual homem que não tendo qualquer autoridade a temer, se comporta com Justiça?”, indaga Platão –, nos permite reconhecer, considerar o “invisível” e respeitá-lo. Se não por legítimo amor à prole, por mera questão de bom senso mesmo.

Reconhecimento, consideração e respeito não como uma ameaça à decisão de romper um ‘contrato’ de união, pois não há mesmo como garantir o desejo de querer estar junto por toda a vida, mas como alerta à covardia que é envolver os próprios filhos numa doentia vingança pessoal, abusando de suas fragilidades, tornando-os joguete do ego ao, “medeicamente”, recrutá-los como trunfo. 


Elucidativa palestra proferida no Colégio Sion, pelo Prof. Flavio de Leão Bastos sobre Alienação Parental:

















Trechos de "MEDEA", de Pasolini - Com Maria Callas:


Todos os demais vídeos com a Diva, Maria Callas, encontram-se disponíveis no youtube.


Referências Bibliográficas:

Medeia - Hipólito - As Troianas - Eurípides. Trad. Mário da Gama Kury. Jorge Zahar Editor (6ª edição) Rio de Janeiro, RJ (2003).

Minicurso: Tragédia Grega - Sobre a Retórica e o Jurídico - Ministrado pela Profª Drª Rachel Gazolla durante o XIX Simpósio Interdisciplinar de Estudos Greco-romanos - Tema: Dialética e Retórica - na PUC-SP, de 14 a 17 de Maio de 2012.

Pensar Mítico e Filosófico - Estudos sobre a Grécia Antiga (Para não ler ingenuamente uma tragédia grega), Rachel Gazolla. Edições Loyola. São Paulo, SP (2011).



Dedico ao meu Amor, Marcelo Lamy, que a despeito de continuar ou não sendo o bom marido que é, sempre será o melhor pai que nossos filhos poderiam ter.

1 de mai. de 2012

Do mito ao lógos - A Descoberta da Filosofia


“Viajante sem bagagem, a filosofia viria ao mundo sem passado, sem pais, sem família?”


O renomado historiador Jean-Pierre Vernant (1914-2007) afirma que pensamento racional possui registro civil. Data: século VI; Local: Grécia, precisamente nas cidades gregas da Ásia Menor (Jônia, Mileto, Sicília, etc.).

E, se os pré-socráticos Anaxímenes, Anaximandro, Tales, Empédocles, Parmênides e Heráclito, para citar alguns, são seus pais, os magnânimos aedos (poetas) são seus avós.

Iniciando uma nova forma de reflexão sobre a natureza, “Os filósofos jônios abriram o caminho que a ciência não fez depois senão seguir”, diz Burnet, apontando o pontapé inicial do que hoje chamamos ‘pensamento científico’.

Diferente de Burnet, Cornford fiz que a ‘física’ jônia não corresponde ao que denominamos ‘ciência’, pois não é produto da observação e tampouco faz experimentos, mas na verdade “Transpõe, numa forma laicizada e em um plano de pensamento mais abstrato, o sistema de representação que a religião elaborou.” É sobre essa transposição do mito ao lógos que versaremos.

Considerando que o pensamento verdadeiro não poderia ter outra origem senão ele próprio, Vernant afirma que foi na Escola de Mileto que o lógos se libertou do mito.

Inteligência, raciocínio e espírito de observação são qualidades que o distanciamento permite entrever no ‘milagre grego’, diz ele: “através da filosofia dos jônios, reconhece-se a Razão intemporal encarnada no tempo. O aparecimento do lógos introduziria, portanto, na história uma descontinuidade radical.”.

É sabido que o pensamento racional interroga seu passado tentando “estabelecer o liame que une o pensamento religioso e os começos do conhecimento racional.”.

Os arcaicos mitos cosmogônicos (a palavra cosmos em grego significa ‘ordem’), ou seja, que buscam ordenar a origem (gens) da physis (natureza) são retomados pelos filósofos que estabelecerão a partir daí suas cosmologias (ordem lógica).

Os primeiros filósofos utilizaram um material conceitual análogo ao dos poetas inspirados pelas musas (Homero e Hesíodo) e deram uma resposta distinta ao mesmo tipo de pergunta: como pode emergir do caos [ápeiron] um mundo ordenado?

Enquanto o mundo dos poetas é ordenado através da partilha dos domínios das instâncias da natureza entre os deuses (Zeus, o Fogo; Hades, o Ar; Poseidon, a Água e Gaia, a Terra), o cosmos dos jônios organiza-se “segundo uma divisão das províncias, uma partilha das estações entre forças opostas que se equilibram reciprocamente.”. Senso assim, não nomeiam divindades, mas elementos.

Vernant esclarece que é assim que por detrás dos elementos dos jônios (ar, fogo, terra e água), perfila-se a figura de antigas divindades da mitologia: “Ao tornarem-se ‘natureza’, os elementos despojaram-se do aspecto de deuses individualizados; mas permanecem as potências ativas, animadas e imperecíveis, sentidas ainda como divinas.”.

Chamando a atenção para o fato de que não se trata de uma vaga analogia, o autor diz que entre a filosofia de um Anaximandro e a Teogonia [obra sobre a origem dos deuses] de um poeta como Hesíodo (séc. VIII a.C.), as estruturas se correspondem até no pormenor.

Eis então, no mito e no lógos nascente, duas formas de traduzir níveis diferentes de abstração, explicitando o mesmo tema de ordenamento do mundo.

Para o historiador, esse novo “processo de elaboração conceitual [ao invés de deuses, são o úmido, o seco, o quente, o frio] que tende à construção naturalista do filósofo já está em gestação no hino religioso de glória a Zeus que o poema hesiódico celebra”.

O mito da Teogonia, por exemplo, é a ilustração de um drama ritual, um modelo da festa real da criação do Ano Novo babilônico, no mês de Nisan: “Através do rito e do mito babilônicos, exprime-se um pensamento, que não estabelece ainda entre o homem, o mundo e os deuses, uma nítida distinção de planos.” No mito, natureza (deuses) e sociedade (homens) estão confundidas.

Noutra passagem da Teogonia, a emergência do mundo prossegue com sucessivos nascimentos que se operam SEM a intervenção de Eros, ou seja, não por união, mas por segregação, tal como o que relata o aparecimento do mar, que surge da terra.

Eros, esclarece Vernant, é o princípio que aproxima os opostos – como o macho e a fêmea – e que os une: “Enquanto não intervém, a gênese processa-se por separação de elementos previamente unidos e confundidos.

Na Teogonia, diz Cornford, reconhece-se a estrutura de pensamento que serve de modelo a toda filosofia nascente – a física jônia, – e nos apresenta o seguinte esquema de análise:

no começo, há um estado de indistinção onde nada aparece;
desta unidade primordial emergem, por segregação, pares de opostos: quente e frio; seco e úmido, que vão diferenciar no espaço quatro províncias: o céu de fogo, o ar frio, a terra seca, o mar úmido;
os opostos unem-se e interferem, cada um triunfando por sua vez sobre os outros, segundo um ciclo indefinidamente renovado, no nascimento e na morte de todo ser vivo (plantas, animais e homens), na sucessão das estações do ano, enfim, de todo fenômeno.

Vernant ressalta que a obra de Cornford tinha por preocupação essencial restabelecer, entre a reflexão filosófica e o pensamento religioso que a tinha precedido, o fio da continuidade histórica, mas “marca uma virada na maneira de abordar o problema das origens da filosofia e do pensamento racional. Intentando combater a teoria do milagre grego que apresentava a física jônia como a revelação brusca e incondicionada da Razão (...)”, pois, na filosofia jônia o mito é ‘racionalizado’.

Procurou então, os aspectos de permanência e, ao insistir o que aí se pode reconhecer de comum: “(...) se tem por vezes o sentido de que os filósofos se contentam em repetir, em uma linguagem diferente, o que já dizia o mito”.

Buscar na filosofia o que há de mais antigo, destacando o que há de verdadeiramente novo “aquilo que fez precisamente com que a filosofia deixe de ser mito para se tornar filosofia.”, faz surgir um pensamento atrelado a uma nova gramática, com amplitude, limites e condições diversas.

Se o conhecimento das coisas, na mitologia, é poeticamente inspirado pelas musas, na filosofia ele é provocado pela racionalização, ou seja, toma a forma de um problema explicitamente formulado a ser resolvido. O conhecimento de saberes que o mito explicita está dado; na filosofia, deve ser buscado.

A cosmologia (ordenamento do lógos, portanto lógico) dos primeiros filósofos revela que suas noções fundamentais (segregação a partir da unidade primordial, luta e união incessante dos opostos, mudança cíclica e eterna) emergiram de um pensamento mítico, cosmogônico: “Os filósofos não precisaram inventar um sistema de explicação do mundo: acharam-no já pronto.”.

O portentoso abismo entre o Espírito (Ouranós, o céu) e a Matéria (Gaia, a terra) amainado pelo mito foi ‘aberto’ pelos desbravadores pré-socráticos. Da agonia, nos consolam melhor os deuses; À aventura, nos inquieta mais a filosofia.


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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

Você se sentiu ofendido...

irritado (em seu "phrenas", como diria Homero) ou chocado com alguma imagem desse Blog? Me escreva para que eu possa substituí-la. e-mail: mitologia@esdc.com.br