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2 de jan. de 2012

DESTINO, LIBERDADE E ÉTICA


"O confronto entre a Razão e o Destino é prova decisiva da reflexão filosófica"
Henrique Claudio de Lima Vaz


Provavelmente, em algum momento de extrema angústia, perplexo, você ergueu os olhos aos céus e, munido da mais aguda e desperta ratio, empreendeu uma luta hercúlea, buscando explicação lógica para uma pequena ou portentosa tragédia pessoal.

Os tragediógrafos gregos, Ésquilo, Sófocles e Eurípides, versaram sobre as atemporais mazelas da vida. Esses premiados literatos registraram de forma magistral o inexorável peso do Destino e dos caprichos Fortuna (Tyché) sobre o Homem.

Do alinhavar da predestinação implacável à paulatina descoberta do Homem enquanto portador de uma alma (psyche) em relação com os demais, a tragédia grega assinala a aurora do Ethos – hábito, conduta – que culmina em nosso ‘habitat’.

Será então, embalada por esse avanço (ainda que tímido) na liberdade de agir que emergirá uma nova conduta, um novo Ethos.

Como reitera o filósofo Henrique Claudio de Lima Vaz, “a descoberta da alma assinala a emergência de uma nova figura do indivíduo no centro da reflexão ética.”. Ao presunçoso, mas desamparado filho da physis (natureza), logra êxito o lógos verdadeiro.

Reféns dos tais “desígnios” (Destino/Fortuna), tornamo-nos também, filhos da virtude e da razão.

Em contraponto às inescrutáveis razões da physis, onde o indivíduo sofístico erige e circunscreve o palco do Ethos movido pela cega vontade de poder (subjugado pela hybris, a desmedida e, portanto refém do Destino), desponta o herói (ou heroína, como Antígona) e, na sequência, emerge o ponderado indivíduo socrático, cujo Ethos é circunscrito no agir virtuoso, na ação justa, portanto, razoável.

Lima Vaz aponta que na ação razoável, “que é igualmente a práxis justa e virtuosa, deverão conciliar-se desejo, razão e liberdade.” Essa possibilidade fora negada ao herói trágico, pois, encapsulado por seus desejos e paixões, o não deliberar restringia seu potencial de liberdade.

Os “nós” desse entrelaçamento são didaticamente expressos pelo filósofo Mario Sérgio Cortella: “Ética é o conjunto de princípios e valores que usamos para decidir as três grandes questões da vida: quero [desejo]? devo [razão]? posso [liberdade]?”.

Cortella então prossegue, chamando a atenção para o fato de que: “Tem coisas que eu quero, mas não devo; que eu devo, mas não posso e que posso, mas não quero (...). Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é o que você pode e é o que você deve.” Seria perfeito!

E, se mesmo agindo somente depois de prudente deliberação, de forma sensata, segundo a excelência do Bem, a “realidade enigmática e hostil do mundo e da vida”, o Destino, se opor à ação virtuosa, revelando-se cego e fatal? Noutras palavras, “como ousar prolongar o caminho da Ética como ciência do ethos no interior da obscuridade impenetrável que envolve a temerosa montanha do Destino?”, indaga Lima Vaz.

Essa interrogação, diz ele, encontrará no mundo antigo a resposta da mais impressionante grandeza e da mais desoladora resignação: “quando o Estoicismo tiver elevado a razão do Sábio à própria altura do Destino, então transfigurado em pronoia, providência racional.”.

O que a reflexão ética platônico-aristotélica busca estabelecer é o melhor ajuste possível entre lógos e Ethos.

Destino e Fortuna acabam obscurecendo esse ajuste, pois são duas faces incompreensíveis da realidade: “de um lado, a rígida cadeia da necessidade [Destino] que parece ligar seres e acontecimentos nos vínculos de uma infringível ordem universal; de outro, a Fortuna volúvel que distribui de maneira imprevisível a sorte de cada um.”.

Quando o imponderável se apresenta, mesmo diante da conduta sensata do justo e, surpresos indagamos: “POR QUÊ?” é que “a primeira face [Destino] ergue-se enigmática”, diz Lima Vaz.

Já a segunda face (Fortuna), também por não obedecer a uma lógica alcançável “ameaça com a sem-razão de uma total contingência as razões do agir segundo a virtude”.

Como garantir àqueles que agem virtuosamente o justo direito a uma felicidade “que se sobreponha à inelutabilidade do Destino e à inconstância da Fortuna?”.

As primevas reflexões sobre Destino e Fortuna nasceram no mito arcaico ANTES “de encontrar no discurso filosófico o seu desaguadouro natural”. As tragédias explicitam o confronto “entre o pungente sentimento de impotência em face do Destino e da Fortuna e a inquebrantável energia e a força criadora com as quais o homem grego enfrenta os desafios da ação (práxis)”. Desde então, o homem segue “plasmando a sua existência e organizando o seu mundo segundo as normas da razão (lógos) e o alvo da excelência (areté)”.

Quando a Paidéia (pedagogia) das tragédias tem por alvo a excelência (areté), diz Werner Jaeger, “mostra que a experiência do Destino e da Fortuna, longe de alimentar um resignado fatalismo na alma grega, estimulou todas as suas energias para responder, com a criação da Ética e da Política, à ameaça do niilismo moral (...)”.

Nas tragédias áticas trava-se o embate entre Razão X Destino/Fortuna. Ou, como poeticamente se expressa Lima Vaz: “o entrecruzamento da linha horizontal da vida traçada pelo precário e trabalhoso saber humano e a linha vertical do majestoso desígnio divino que desce das alturas de uma inalcançável transcendência”. Eis a essência do mistério que envolve nossas angústias.

A famosa inscrição no Templo de Apolo, em Delfos: “Conhece-te a ti mesmo”, diz ele, “conduzirá ao recesso mais íntimo do indivíduo, que a tradição consagrará com o nome de ‘consciência moral’”.

Mas, quais são os remédios capazes de curar dos males da existência quando, mesmo sendo razoáveis, virtuosos e dignos, surpreendidos pelo Destino (Moira), deparamo-nos com assombrosos obstáculos, aparentemente instransponíveis?

Lima Vaz afirma que essas interrogações são decisivas e que acompanham a formação do pensamento ético e em torno das quais se adensa, pouco a pouco, a ideia de uma ‘vida interior’ do virtuoso, da alma (psyche) no sentido socrático e, será no âmbito dessas ideias que o Destino e a Fortuna serão finalmente compreendidos pelas razões de uma “Razão superior”.

Para o filósofo, é possível “descobrir no homem aquela parte de seu ser – a melhor – pela qual ele é capaz de libertar-se da cadeia dos males e elevar-se à verdadeira eudaimonia [felicidade] (...) pela convicção de que a práxis obediente à norma do lógos torna-se capaz de vencer os males advindos do Destino”.

Consciência moral – co-autoria, responsabilidade dos homens, – não somente capricho dos deuses embasa a tal “consciência tranqüila, limpa”. Assim, alcançamos o que ele chama de “uma nova e superior forma de felicidade que tenha a sua sede na interioridade racional da psyche [Alma] e seu fundamento no lógos verdadeiro”.

Será na estrutura lógica do agir humano que a liberdade – contraprova do Destino – terá assegurado seu lugar: À luz do Sol do Bem (...) a sombra do Destino recua (...).”, e isso, repito, não é de pouca monta.

Destino e Fortuna são instáveis fluxos dispensadores de penas e alegrias, de onde é possível emergir a grandeza e nobreza inata do homem, capaz de aprender com o sofrimento. PORQUE faz parte.

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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