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1 de fev. de 2012

AMOR CORTÊS - Pedagogia do Amor Nobre

Consagração de Lancelot, cavaleiro da Corte do Rei Arthur, por sua Rainha Guinevere
    
 "Yo soy yo y mi circunstancia y si no la salvo a ella no me salvo yo".
Ortega y Gasset (Filósofo espanhol)


É com preocupante desgosto que constatamos o desserviço que a produção cultural contemporânea presta a toda nossa sociedade. Na atual Idade Mídia, seja através da web (sites, blogs, youtube, twitter, tumblr, redes sociais, ‘correntes’ por e-mails, etc.,) ou dos veículos midiáticos mais clássicos (TV, cinema, rádio, jornais, revistas e CD’s), nunca tantos puderam produzir tanto e, pior, compartilhar tanto lixo.

Sujeito moral, o homem intenta refrear os ímpetos instintivos que comunga com os demais animais não racionais e está cônscio da relevância da educação nesse processo na formação de seus valores e, consequentemente, de seu caráter.

Segundo o historiador francês Georges Duby, renomado estudioso da sociedade feudal: “Como todos os organismos vivos, as sociedades humanas são o lugar de uma pulsão fundamental que as incita a perpetuar sua existência, a se reproduzirem no quadro de estruturas estáveis.”. 

O estudioso afirma ainda que a permanência dessas estruturas é, nas sociedades humanas, instituída conjuntamente pela natureza e pela cultura.

Envoltórios jurídicos e litúrgicos sempre se empenharam em impor interditos a fim de normatizar as pulsões que culminam na proliferação de práticas desordenadas da copulatio: “No centro desses mecanismos de regulação, cuja função social é primordial, tem o seu lugar, com efeito, o casamento.” Sem dúvida, a aliança de casamento é o mais importante ato social.

Se a ‘natureza’ por sua própria índole já opera de forma pervertida, sem educação moral a estrutura social basilar estatela-se no caos. Sendo assim, não surpreende que em nossa sociedade, sobretudo na classe cultural inferior – incontestavelmente predominante – emirja, instantaneamente, a cega adesão e o culto à libertinagem.

Sobre o conceito de “libertino”, Fernando Savater explica que A moralidade sexual estava ligada a essa estrutura da família e da propriedade, a tal ponto que, entre os romanos, por exemplo, os únicos que estavam submetidos a estritos tabus sexuais eram os 'pater familias' ou as matronas, aqueles que possuíam coisas, ao passo que os escravos não tinham moralidade sexual, ou seja, ninguém os criticava por serem promíscuos ou incestuosos.”. 

Esclarece ainda que “Quando alguns dos escravos eram libertados por seus senhores passavam a se chamar libertos. Ao entrarem no mundo das pessoas livres, eles conservavam os costumes da escravidão, condutas mais abertas e menos escrupulosas que as das pessoas com famílias estabelecidas. Daí vem a palavra libertinagem, ou seja, o comportamento desses libertos (...)” .

A educação moral legada por filósofos, literatos, juristas e eclesiásticos contribuiu significativamente para que os menos favorecidos, aos poucos, normatizassem seus costumes.

Na antiga Grécia, por exemplo, semelhante às tragédias, temos nas fábulas do inspirador de La Fontaine – Esopo (séc. VI a.C.) – toda uma lúdica Paidéia (em sua peculiar pedagogia, ele dava voz aos animais) de cunho moralizante. Mítico, Esopo foi enaltecido por Platão, Aristófanes, Heródoto e muitos outros filósofos.

Na literatura, mulheres em posição e ações de destaque foram então, exceção à regra. Inferiorizada em relação ao homem, desde o advento da supremacia do patriarcado sobre o matriarcado, somente pontualmente a História registrou as façanhas de grandes estadistas, intelectuais ou guerreiras indômitas como Cleópatra, Aspásia de Alexandria e Joana D’Arc, respectivamente.

No entanto, por volta do Século XII, surge na aristocrática Europa feudal uma pedagogia literária que põe em relevo o papel da Dama (dominas) no universo do poder.        

Trata-se dos romances de cavalaria que enalteciam o “Amor cortês” (l’amour courtois), o fino amor, o amor gentil e delicado: “um gênero de literatura de sonho, de evasão, de compensação (...) um modelo de relação e de conjunção sentimental e corporal entre um homem e uma mulher (...)”, o Romance.

Como o amor de Abelardo e Heloísa, Tristão e Isolda, o amor cortês prima pela distinção dos amantes e um dos mais famosos é o clássico “Le Chevalier à la charrette”, de Chrétien de Troyes, que narra as aventuras de Sir Lancelot, fiel cavaleiro da corte o Rei Arthur e da Rainha Guinevere (confiram o resumo da Obra que postarei nos próximos dias, aqui em nosso Blog).

À literatura do amor virtuoso, cortês, coube o papel fundamental de educar, de civilizar os afoitos jovens cavaleiros. Estamos na Idade Média, de modo que, ou se é membro do clero, da nobreza ou da cavalaria. Os demais, por residirem nas Vilas, são denominados vilões.

Disciplinar os instintos, conter a volúpia, dosar o ímpeto, represar a lascívia, enfim, platonizar o amor. Para tanto, bastava que o jovem se encantasse por uma mulher nobre, casada e, fiel como a Desdêmona de Otelo, retratada posteriormente por Shakespeare.

Tal ousadia trazia ao jogo do amor cortês um componente altamente perigoso, mas também irrecusável a um destemido cavaleiro: pôr a vida em risco pelo amor de uma mulher resolutamente casta, inacessível.

O adultério feminino era a pior das subversões e uma mulher honrada, jamais, em hipótese alguma poderia ceder aos caprichos do cavaleiro que lhe fizesse a corte: “(...) a justa [luta] amorosa opõe dois parceiros desiguais, um dos quais, por natureza, está destinado cair (...). Pelas leis naturais da sexualidade. Pois, trata-se bem disso, que o véu das sublimações, todas as transferências imaginárias do corpo para o coração não chegam a dissimular.”. Mesmo que, insistentemente, profira com veemência não desejar possuí-la, mas somente merecê-la, a glória (entenda-se prêmio) do vassalo é apoderar-se do tão sonhado corpo da amada.

Impensável em nossos dias de “Amor líquido” (como conceituou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, vide artigo já publicado neste Blog), de imediatez e facilidades vãs, viver “um amor ao mesmo tempo ilícito e moralmente elevado, passional e autodisciplinado, humilhante e exaltante, humano e transcendente”, significava exercitar-se e treinar extenuadamente por semanas, às vezes, meses, empenhando-se em vencer uma árdua batalha ou duelo, para então, vitorioso em combate, ser agraciado com um olhar mais detido, um aceno, um menear de cabeça ou tímido sorriso. Toda dádiva exige uma contra-dádiva, nisso consiste a vassalagem. Uma verdadeira Dama jamais destrata um cavaleiro.

Arquitetar a oportunidade – por mais remota que fosse – de dedicar-lhe um triunfo, de se oferecer um poema, uma rosa ou jóia rara, preciosa; esperar pela possibilidade de manifestar, respeitosamente, o quão sincero e sublime era esse sentimento. Eis a razão do viver de um nobre cavaleiro.

Segundo Jardel D. Cavalcanti: “O amor cortês se fincava na tríade prisão da qual não se pode fugir ao se amar: sujeito/objeto/falta”. Some-se a isso que também implica valores caros à nobreza, tais como altivez, honra, fidelidade, moderação, controle: “Na sua extrema ‘delicadeza’, o amor não podia ser o do clérigo, nem o do ‘plebeu’, isto é, do homem de dinheiro. Ele caracterizava, entre as pessoas da corte, o cavaleiro.”, tamanho refinamento é de difícil assimilação entre despudorados e levianos libertinos.

Da literatura do amor cortês legada pelos medievos (que muitos denominam rasa e erroneamente de ‘Idade das Trevas’) temos, portanto, uma proposta pedagógica que, – "Cherchez la femme!", como diria Alexandre Dumas – pela retidão das Damas (Mestres) educava-se chevaliers: “Graças à revolução amorosa, os homens refinaram-se, poliram-se, tornaram-se um pouco mais civilizados, corteses, aprendendo a cortejar a dama até onde ela o permitisse.” Sublime, balizado por consagrar-se ao respeito, ao pudor, ideal delicado, nunca o Amor resplandeceu tanto. Terno. E Eterno.


 









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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

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Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

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TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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