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1 de ago. de 2012

Pigmalião e Galatéia - A idealização do ser amado


"Eu aprendi que ninguém é perfeito, até que você se apaixone por essa pessoa.” Shakespeare.
                         
"As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam". Bernard Shaw.                     
            
                  
Todos os mitos versam sobre algum drama que vivenciamos. Paul Diel afirma que: “Os mitos falam do destino humano sob seu aspecto essencial; destino resultante do funcionamento sadio ou doentio (evolutivo ou involutivo) do psiquismo.”. O que pode haver de salutar ou doentio no anseio pela personificação do ser amado, previamente idealizado?

O poeta romano Ovídio (início da era cristã), em sua obra “Metamorfoses”, relata-nos o mito de Pigmalião, um habilidoso escultor que, chocado com tanta leviandade e abominando o comportamento despudorado das mulheres, decide viver solteiro.

Para se distrair, esculpe então a estátua de uma donzela incomparavelmente bela. Primoroso e requintado em todos os detalhes, uma vez concluída, ele se apaixona perdidamente por sua obra, que passa a chamar de Galatéia.

Iludido com a materialização de tamanha perfeição – “era como se estivesse viva e somente o recato impedisse de mover-se” –, ele a enfeita, abraça, beija, faz elogios e lhe mima com inúmeros presentes tais como joias, flores e elegantes vestes.

Esperançoso, no festival de Vênus (Afrodite), celebrado em Chipre, Pigmalião implora à deusa por uma bela e virtuosa companheira: “Se vocês podem nos dar tudo, todas as coisas, ó deuses, rezo para que minha mulher possa ser como minha menina de marfim.”.

Comovida,  a deusa do amor e da beleza, fazendo a chama do altar se erguer três vezes, dá indícios de que atenderá a seu pedido. Mas não encontrando na terra nenhuma mortal que atingisse a perfeição de beleza física de tão amada escultura, decide dar vida à pedra.

Ao regressar à sua casa, Pigmalião deita-se ao lado de Galatéia, a quem chama de adorada esposa e, ao beijá-la, sente-a corar, percebe que “as veias pulsam sob seus dedos”. Atônito e extremamente agradecido, Pigmalião une-se à sua Galatéia e gera uma bela menina chamada Pafos.

Guiado pelo mito, o dramaturgo irlandês George Bernard Shaw (1856-1950), escreve a peça intitulada “Pigmaleão” (comédia satírica) – que inspirou o musical “My Fair Lady” e os filmes (comédias românticas) de mesmo título, inclusive o de 1964, com a adorável Audrey Hepburn. Nos filmes, firmando aposta com um amigo, o professor Higgins decide transformar uma humilde florista ambulante numa refinada dama da sociedade.

Atingido seu intento, apaixona-se pela ‘obra’ que criou, mas tem seu amor recusado pela moça. Empenhando-se, no entanto, o professor acaba por conquistá-la.

Explorando o mito, nos fins dos anos sessenta, os psicólogos americanos Robert Rosenthal e Lenore Jacobson mostram que acalentar alguma idealização pode se revelar profícuo numa relação. Focando na relação professor/alunos, eles se dedicaram à análise do quanto o otimismo de nutrir boas expectativas pode se revelar benéfico.

Nossa expectativa, nossa percepção, quer seja de pessoas, quer seja da realidade tem efeito sobre as pessoas que conhecemos, convivemos, sobre a própria realidade e também na maneira como nos relacionamos.

Segundo a teoria que denominaram “Efeito Pigmalião” (ou efeito Rosenthal), ao confiar previamente no benéfico, o benéfico se presentifica. Se partirmos do pressuposto de que alguém ou alguma situação é favorável (bondosa, cortês, virtuosa), consequentemente estaremos contribuindo para que essas características se presentifiquem.

Para o estudioso Douglas McGregor: “quem tem expectativas ruins sobre os outros, não acredita neles ou não vê suas qualidades, costuma colher o pior dessas pessoas; já quem tem expectativas positivas, tende a obter o melhor de cada uma delas.”.

Se decidirmos antecipadamente que alguém é vulgar, idiota ou inimigo, por exemplo, estaremos ‘dando o tom’ e o que surgir alinhar-se-á mais facilmente a essa expectativa.

No afã da realização de um ideal de parceria, esquadrinhamos em nossa psique as características desejáveis (sobretudo no cônjuge) e, meio que cegos ao direito à individualidade, nos esquecemos de que as pessoas têm personalidade própria e que é improvável que alguém venha a atender inteiramente aos nossos anseios.

Embora essa esperança de correspondência abarque a todos àqueles que nos cercam – em maior ou menor grau, idealizamos os pais, irmãos e até mesmo os amigos –, será ao projetar nossos ‘ideais’ no parceiro e nos filhos que mais poderemos nos sentir desapontados. Prevenidos com uma consciência mais realista em relação à diversidade, às fraquezas humanas, enfim, munidos de certa sensatez, amenizaríamos algumas desilusões.

No caso de Pigmalião – talentoso artista –, seu desejo foi plenamente atendido. Para nós, demais mortais, uma pretensão exagerada pode culminar – em maior ou menor grau – n’alguma frustração. Insistir em ‘tirar leite de pedra’, então, pode até terminar em tragédia, como exibem os noticiários.

Constatamos que, no mito, graças à crença no poder de uma divindade, Pigmalião teve a benção de ver se materializar o ideal de perfeição que ansiava encontrar numa esposa. O professor de “My Fair Lady” pelos seus esforços, pôde – além de fazer emergir na humilde mocinha, a distinta dama que a habitava –, aflorar nela o amor que sonhava. E o “Efeito Pigmalião” também pode contribuir nesse sentido.

Obviamente, nada garante que nossas expectativas serão plenamente realizadas, sobretudo quando elevamos padrões e almejamos nada menos que a 'perfeição' (e isso quando nem mesmo nós somos assim, 'perfeitos'). Mas, no caminho que leva à concretização desse ideal, é salutar que, ao invés de pedras nas mãos, tenhamos flores.






















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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

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Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

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TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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