SE VOCÊ PENSAR, VAI DESCOBRIR QUE TEMOS MUITO A APRENDER.

luciene felix lamy EM ATO!

luciene felix lamy EM ATO!
Desfrute-o com vagar: há + de CEM artigos entre filosofia, literatura, mitologia, comédias e tragédias gregas (veja lista completa logo abaixo, para acessar clique sobre o título).

ELEITO UM DOS MELHORES BLOG'S NA WEB. Gratíssima por seu voto amigo(a)!

1 de dez. de 2013

Movimentos filosóficos helenísticos: O epicurismo (Parte II)

 “Devemos indagar por ocasião de todos os desejos: o que há de acontecer quando o meu apetite for satisfeito, e o que acontecerá se ele não o for?”. Epicuro

Nem movimento hippie, nem punk, tampouco o grunge, nas últimas edições trouxemos as principais ideias propostas por três movimentos que surpreenderam os antigos greco-romanos, conquistando muitos adeptos: o cinismo de Diógenes de Sínope, o estoicismo de Zenão e o epicurismo, de Epicuro.

Para concluir esse breve resumo de algumas das ideias propostas por Epicuro, versaremos sobre a importância de controlar, de “calibrar” nossos desejos para conquistar o prazer de uma vida feliz que, além de ser a principal característica do epicurismo é também a maior fonte de mal-entendidos e de preconceitos quanto a essa corrente filosófica.

Em sua “Carta a Meneceu”, Epicuro foi bem claro: “Quando dizemos que o prazer é o fim [télos = propósito, objetivo, finalidade] da vida, não nos referimos aos prazeres da gente dissoluta [desregrada, devassa, libertina] e aos que residem no gozo, como acreditam aqueles que ignoram nossa doutrina”. Obviamente, há prazeres vis e prazeres legítimos, edificantes.

O desvirtuamento do que é uma vida prazerosa se acentuou quando o epicurismo foi adotado em Roma, tornando-se sinônimo de lascívia, de indolência.

O prazer (em grego, hedoné) para Epicuro é a ausência de sofrimento e não sensualidade, luxúria. O que ele intenta, através de sua filosofia é certa “tranquilidade prazerosa” atestando que o prazer já está “programado” em nossos genes.

Cícero, discípulo de Epicuro, escreveu: “Todo animal, desde o nascimento, busca o prazer e foge da dor como o maior dos males [...].”, afirmação esta que sabemos ter sido corroborada, séculos depois, pelo “Pai” da psicanálise, Sigmund Freud.

Cordero chama a atenção para o fato de que essa relação entre a dor a ser evitada e o prazer a ser alcançado é essencial para que possamos compreender o que é o prazer para Epicuro, que em uma de suas Máximas Capitais afirma: “A eliminação do sofrimento é limite do alcance do prazer. Quando o prazer está presente, a dor, a pena, ou ambos de uma só vez, estão ausentes”.

Podemos pensar a felicidade e o prazer como sendo frutos da ausência de sofrimentos, sem dúvida, mas como percebemos os sofrimentos?

Através da sensação, indica o epicurismo: “É a sensação que detecta tanto o sofrimento como o momento em que este cessa, mas os estímulos sensoriais chegam à alma, que é a que efetivamente sente”.

Sendo assim, é a alma que deve analisar quais prazeres ela precisa eleger e quais convêm de que se abstenha para que não soframos: “Esse controle da alma se exerce sobre os desejos, já que o prazer é a concretização de um desejo”, insiste Epicuro.

Desejo em grego é “epithymía”, sendo que o prefixo “epi” significa dirigir-se, ir até. E, “thymós”, significa peito, coração. O desejo, então, é uma tensão em busca de algo, um anseio por algo que preencha o peito.

Mas é ela, nossa alma, a responsável por permitir ou impedir que esse desejo se realize, ou seja, que se transforme em prazer.

Para a filosofia epicurista, nossos desejos podem ser estratificados como sendo: 

a) naturais e necessários; 
b) naturais, mas desnecessários ou ainda, 
c) nem naturais nem necessários: vazios.

Quanto aos nossos desejos naturais e necessários, a alma deve admiti-los, pois seu objetivo é assegurar a sobrevivência do ser humano: “Este é o clamor da carne: não ter fome, não ter sede, não ter frio. Quem alcança tais estados pode rivalizar com Zeus”. 


Além de comer, beber e vestir-se, morar, ter amigos e filosofar (que, segundo Epicuro é o que vai nos curar de todos os sofrimentos) também são desejos naturais e necessários.

Há outros desejos que, mesmo sendo naturais, são desnecessários e podemos optar por satisfazê-los ou ignorá-los. Entre eles está o desejo sexual e a tendência à beleza estética que “se trata de um desejo desnecessário, pois se pode prescindir dele para viver e, mais grave, pode ser pernicioso [doentio, nocivo] (...).”, pois, desenfreados, extrapolam, driblando o senso de saciedade.

Por fim, há os desejos que nem são naturais nem necessários, que Epicuro denomina-os de “vazios”, pois são ilimitados, como é o vazio. Como exemplos desses tipos de desejos, Epicuro cita o desejo de que a alma seja imortal, de acumular riquezas ou de amar infinitamente, tornando-nos ciumentos.

Segundo Epicuro, “Um estudo dos desejos deve condicionar toda escolha e toda recusa à saúde do corpo e à imperturbabilidade da alma, que é o fim da vida bem-aventurada”, sofremos quando estamos carentes de algo. Cessou a carência, surge o prazer.

Mas salienta que, uma vez que o sofrimento oriundo de uma carência cesse, isso não significa que o prazer possa aumentar: “Essa situação de quietude, de calma, de tranquilidade, caracteriza-se pela presença daquilo que Epicuro chama de ‘o prazer em repouso’”, diz o estudioso Néstor Luis Cordero.

Talvez, o que traduza bem essa sensação agradável de bem-estar e de serenidade seja o tão famoso quanto almejado “estar em paz”.

Para que tenhamos uma vida realmente feliz é necessário que saibamos escolher bem quais desejos iremos satisfazer e aos quais devemos recusar. Para sacar desse discernimento possuímos “sagacidade” (phrónesis), que Epicuro diz ser até superior à filosofia: “caso se escolha satisfazer o desejo de filosofar, é porque a sagacidade – que é prévia – escolheu bem”.

Assim como na Escola de Diógenes (os cínicos), para os epicuristas, uma das características dos sábios é justamente a autossuficiência (autarquia) que nos livra da tirania de sermos reféns da necessidade de bens exteriores, como diz Cordero: “Quem está acostumado a viver frugalmente, encontra um autêntico prazer em não precisar de nada; quem está acostumado à abundância, por outro lado, nunca estará satisfeito e será escravo da tirania e de falsas necessidades”.


Estarmos cônscios de que a morte não deve ser temida (vide as razões no artigo anterior, clicando aqui), sabermos escolher com lúcida sagacidade quais desejos serão privilegiados e que a liberdade é possível, isso é ser Sábio. Se agirmos assim: “viverás como um deus entre os homens”, diz Epicuro.

Dezembro. Vivenciamos o encerramento de mais um ciclo; o momento é oportuno para um balanço de vida, rever nossos sonhos e refletirmos sobre quais desejos eleger para que possamos atingir a plenitude dessa vida prazerosa e feliz acenada por Epicuro. Um Ano Novo de Paz, amigos.

1 de nov. de 2013

Movimentos filosóficos helenísticos: o epicurismo (Parte I)


Assim como a palavra “cínico”, hoje em dia, não se refere mais à escola filosófica fundada por Diógenes de Sínope (Movimentos filosóficos helenísticos: os cínicos, AQUI.), mas designa alguém dissimulado, o termo “epicurista” nomeia erroneamente alguém “escravo dos prazeres”, especialmente os sexuais, mas para essa escola, o prazer, que é o valor supremo, na verdade é a ausência de dor e de sofrimentos.

O epicurismo surgiu na mesma época que o estoicismo de Zenão (Movimentos filosóficos helenísticos: o estoicismo, AQUI.) e foi fundado pelo filósofo grego Epicuro (341 a.C.) que, por volta dos 35 anos se estabeleceu em Atenas e adquiriu um terreno cercado por jardins para erigir sua escola, que ficou conhecida como “O Jardim”, onde veio a ensinar até os setenta anos.

Segundo Néstor Luis Cordero, tanto Epicuro quanto o epicurismo foram longe e, em meados do séc. II a.C., o epicurismo instalou-se em Roma: “(...) e o primeiro filósofo que escreveu em uma língua não grega foi um epicurista, Lucrécio”, aponta o estudioso.

Também como Diógenes e Zenão, Epicuro não encontrou as respostas que buscava nas escolas já estabelecidas (na Academia, de Platão ou no Liceu de Aristóteles), pois elas colocavam a felicidade como meta de uma longa série de estudos, e para o imediatista Epicuro, “o ser humano vive ‘hoje’, e a filosofia que conduz à felicidade, é uma atividade urgente, quase um serviço de primeiros socorros”, ressalta Cordero.

Epicuro escreveu muito, mas dele chegaram apenas três cartas e duas coleções de máximas ou sentenças, conhecidas tardiamente e que são chamadas de “as Máximas capitais” e “Sentenças Vaticanas”, guardadas na biblioteca do Vaticano.

Para e escola epicurista, a causa da infelicidade humana é sermos vítimas “do que se diz”, principalmente sobre os deuses, a morte e o sofrimento.

Para eles, se escutarmos a voz da natureza, tais temores desaparecem, mas para isso é necessário filosofar. E filosofar seriamente e não meramente fazer de conta: “Não se trata de aparentar ter uma boa saúde, diz Epicuro, mas de estar saudável de fato”.

A filosofia é como um medicamento que deve ser administrado o quanto antes: “Que ninguém, quando jovem, tarde em filosofar, nem, quando velho, se canse de filosofar, pois nunca é nem demasiado cedo, nem demasiado tarde para obter a saúde da alma”, roga Epicuro, na “Carta a Meneceu”, disponível abaixo.

Cordero afirma que para a escola epicurista, o conhecimento da verdadeira natureza das coisas constitui a física (ciência da phýsis), e a aplicação dos conhecimentos que dela são obtidos fazem parte da ética (lembremo-nos, que os estoicos ressaltavam a lógica).

Epicuro nomeia o conhecimento dessa realidade de “fisiologia”, etimologicamente “conhecimento da phýsis” e aponta que esse conhecimento leva à felicidade, que é o “viver bem”.

Evitando prolongar-se nas investigações, os epicuristas adotaram a física dos atomistas, estabelecendo como princípios da realidade as partículas indivisíveis, os “átomos” e o espaço no qual eles vagueiam, em todas as direções.

Para Epicuro, esclarece Cordero, apenas do ponto de vista metafórico pode-se falar de um “para cima” e de um “para baixo” no movimento desses átomos no vazio e pode-se então imaginar uma “queda” dos átomos: “Em função desta queda, atribui-se a Epicuro a possibilidade de que, em algum momento, se produza um “desvio” na trajetória, o que justificaria a liberdade da vontade”.

Tanto a natureza quanto os seres humanos, tudo é constituído por átomos e vazio e para os epicuristas a alma também é material: “Aqueles que afirmam que a alma é incorpórea, falam para não dizer nada, pois, se o fosse, seria incapaz de padecer ou de atuar sobre qualquer outra coisa” (Epicuro, em “Carta a Heródoto”, 67).

Em seu poema, o epicurista romano Lucrécio afirma: “A alma está contida na totalidade do corpo; ela é seu guardião, pois assegura sua salvação; raízes comuns os unem mutuamente, e não pode separá-los sem destruí-los”.

Para Epicuro, aquele que vive bem encontra calma e serenidade e isso ocorre, quando a filosofia nos cura das principais doenças da alma: o medo dos deuses, o medo da morte, o medo do sofrimento.


Quanto aos deuses, ressalta o intérprete, se sabemos o que são, não há nada a temer. Mas só temos “suposições” e não “pré-concepções” e, como Cícero diz: “somente ele [Epicuro] viu com clareza que os deuses existiam, já que a própria natureza imprimiu sua noção no espírito dos homens. Com efeito, qual é a razão humana que não tem, sem que se lhe precise ensinar, uma pré-concepção dos deuses?”.

Sendo assim, as imagens dos deuses não entram pelos sentidos, mas antes, são percebidas nos sonhos: “Mas a pré-concepção dos deuses torna-se efetiva no interior de cada indivíduo. Os deuses existem objetivamente, mas apenas se consolidam quando se forma a pré-concepção, e esta se produz em uma parte da alma”.

Para os epicuristas, os deuses são modelos de conduta individuais, pois cada indivíduo elabora sua “pré-concepção” em função da vida bem-aventurada a que cada um aspira, aponta o autor.

E isso é assim porque “os deuses são seres vivos incorruptíveis e bem-aventurados”, e não deve se lhes atribuir nada que prejudique esse estado, diz Epicuro.

Os deuses existem, então, tal como os concebemos na pré-concepção deles, mas não existem da maneira que se “supõe” que existam, quer dizer “como crê o vulgo”, que se apega a “suposições”, ressalta Epicuro.

Epicuro contesta a crença na existência de deuses tradicionais, os que estão a todo tempo nos observando, julgando e castigando e no chamado “deus dos filósofos”, que se encarregam primeiro de produzir e depois de regular a ordem universal: “O mundo não foi fabricado pela divindade, uma vez que é completamente defeituoso”, escreve o epicurista romano Lucrécio.

Epicuro insistiu que não é ímpio quem elimina os deuses da massa, e diz-se que Lucrécio assimila essas opiniões da massa à da religião de seu tempo, enaltecendo-o como “um grego que teve a coragem de olhar de frente a religião”, que com seu peso “esmagava a espécie humana”.

Os deuses, para Epicuro, tomam forma, ou seja, adquirem “realidade”, apenas no interior do ser humano e, mesmo assim, têm uma consistência muito tênue (o que o aproxima do ateísmo) e essa certa “impotência” divina garante que sejam incapazes de influir na vida humana. Se for assim, por que temê-los? O temor aos deuses não tem sentido, conclui.

Quanto à morte, temê-la é causa de grande infortúnio, mas um conhecimento preciso da realidade dela dissipa tal temor: “Acostuma-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois todo bem e todo mal residem na sensação, e a morte é a privação da sensação”, roga Epicuro.


A sensação é a base do conhecimento e não experimentamos nenhuma sensação da morte, portanto, não devemos temê-la, pois não podemos senti-la: “Quando estamos vivos, a morte não está presente, e quando ela estiver presente, já não estaremos vivos”, diz Epicuro.

A opinião de que a morte nos faz sofrer não tem fundamento, é mera suposição, o filósofo francês Michel de Montaigne esclarece dizendo: “Na realidade, o que mais dizemos temer na morte é a dor, seu pregoeiro habitual”.

Mas, a morte e os demais sofrimentos podem esperar, prossigamos.


EPICURO (341 a.C.)
CARTA SOBRE A FELICIDADE (a Meneceu)

Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito.

Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz.

Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.

Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas.

Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

Acostuma-se à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar viver. É tolo, portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.

Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos.

A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no momento, a maioria das pessoas a foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.

O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal. Assim, como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve.

Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades.

Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi um frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.

Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.

Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida.

E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.

Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.

É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.

Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.

Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.

Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.

Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não é só conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temos as vicissitudes da sorte.

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam as pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é a ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma.

Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.

De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ele é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.

Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremos ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves?

Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanham a censura e o louvor?

Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas; o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável.

Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos
homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e de grandes males.

A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.

Medita, pois, todas estas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.

Epicuro *
Do livro: “Carta sobre Epicuro”, Editora Unesp, ed. bilíngue, grego/português, trad. Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore, 1997, SP

PS: Confiram imagens do Curso de Mitologia em Roma, acessando: www.cursodemitologiaemroma.blogspot.com

1 de out. de 2013

Movimentos filosóficos helenísticos - os estoicos


Nós ignoramos as causas que a razão universal estabelece, mas tudo está entrelaçado, de maneira que nada é fruto do acaso”. Néstor Luis Cordero

A moral roga que suportemos “estoicamente” os reveses da vida. Mas, no que consiste e por quais linhas se pauta essa escola que surgiu em Atenas, por volta de 310 a.C.?

As bases do estoicismo foram lançadas por Zenão, da cidade de Cítio, no Chipre, que se tornou ouvinte do cínico Crates, discípulo de Diógenes de Sínope (clique aqui e confira o artigo anterior).

Aos poucos, Zenão foi se tornando independente, construindo seu próprio caminho, reunindo-se com seus seguidores em frente a um dos pórticos da ágora.

Na ágora, em Atenas, havia pórticos (grego, stoá) e por Zenão estar sempre por lá, identificaram-no como sendo “o do pórtico”, e de “estoico” (stoikós) os que costumavam acompanhá-lo.

No cinismo de Diógenes, as ideias eram apaixonantes, mas marginais, já as de Zenão caíram no gosto do povo, dos escravos e até dos poderosos porque “(...) o tipo de vida proposto pelo estoicismo não diz respeito à exterioridade do ser humano, mas sim a seu foro íntimo”, afirma o estudioso Néstor Luis Cordero.

Esse universalismo interior ofereceu um norte ao emergente cidadão do cosmos (kosmopolités), pois toda diferença de nacionalidade, de raça e até mesmo de status social é tida como antinatural. 

A identificação com essa escola foi tal, que o estoicismo se propagou pelo Império Romano e prolongou-se por muito tempo.

Segundo Cordero, costuma-se distinguir o estoicismo em três etapas: o período “antigo”, iniciado por Zenão e seus discípulos Cleantes de Asso e Crisipo de Soles; um período “intermediário”, com as figuras de Panécio de Rodes e Possidônio de Apameia; e o período “tardio”, cujos representantes de destaque foram Sêneca, o Imperador Marco Aurélio e o escravo Epiteto.

Algumas respostas ao problema do conhecimento, sobre a realidade das coisas e a conduta a ser seguida já havia sido pensadas por filósofos anteriores, ressalta o autor, mas dependia da habilidade do pensador encontrar um nexo entre domínios tão diversos e complexos.

O estoicismo é a primeira escola filosófica que se apresenta como um sistema (que é um conjunto de respostas relacionadas entre si, que se complementam umas às outras) organizando-se sobre três principais eixos interligados, formando uma unidade: física, ética e lógica.

A filosofia é como um animal: ossos e tendões são a lógica; sangue e carne, a física; e a alma é a ética. Essas três partes se encontram reunidas na máxima que resume a filosofia estoica: “É preciso viver segundo a natureza [phýsis]”.

Para tanto, supõe um conhecimento (do qual se ocupa a física), alcançado de certa maneira (do que se ocupa a lógica) e tudo isso para que vivamos de certo modo, cujas normas sejam ditadas pela ética (terreno da alma).

Notoriamente, o âmbito privilegiado é o da ética (alma) e, prática, a filosofia estoica é um exercício cotidiano, já que “viver segundo a natureza” pressupõe um exercício constante.

Por isso, os estoicos retomam dos cínicos o termo áskesis que é “refinar graças a um exercício” diário, pois, quem deseja os louros deve preparar-se diariamente: “se o ser humano quer ser feliz, deve exercitar-se a todo momento na técnica que consiste em viver segundo a natureza”.

Para eles, somente uma vida segundo a natureza conduz à felicidade, que é o bem supremo. Mas, diferente dos cínicos que propunham um atalho, os estoicos apresentam um programa original.

A convivência social já não é o que costumava ser e Zenão não encontra respostas satisfatórias nem na Academia nem no Liceu, para ele, urge que o ser humano alcance a felicidade, cujas regras devem ser ditadas pela phýsis.

Diz-se que do oráculo, Zenão ouviu: “Toma o aspecto dos mortos” e ele interpretou que deveria estudar os filósofos do passado: “É assim que sua doutrina da natureza recolhe vários elementos dos pensadores pré-socráticos, que interpretavam a phýsis abarcando toda a realidade (em função de certos elementos ou princípios) e que sublinhavam seu caráter material e mesmo vital”.

Como todos os gregos, salienta Cordero, os estoicos defendiam a eternidade da matéria, já que não admitiam a noção de criação: “E como a única entidade éter é a divindade, os estoicos assimilavam deus à natureza”.

A física – estudo da natureza – ensina de que maneira uma substância divina onipresente organiza, controla e dirige o mundo: “(...) a totalidade da realidade é divina” e no materialismo dos estoicos – que é muito especial – estão incluídos também valores, sentimentos e as qualidades morais.

Retomam a definição do que existe e do que não existe proposto por Platão no Sofista e assentam que: “existe aquilo que é capaz de atuar ou de sofrer uma ação”, considerando que a vergonha, por exemplo, é uma emoção: faz-nos enrubescer, ou seja, influencia no corpo, e se influi é porque é material.

Diógenes Laércio postula que: “os princípios de todas as coisas são de dois tipos: o que atua (agente) e o que padece (paciente). O que padece é a matéria; o agente é o lógos que se encontra nela, quer dizer, a centelha divina (deus). Este, que é eterno, modela tudo por intermédio da matéria”. Eis a teoria exposta por Zenão.

Os dois princípios [agente e paciente] são eternos e opostos: limitada, a matéria é passiva, e o lógos, ativo. Quando os dois princípios se unem – pois um ‘fecunda’ o outro (o lógos é chamado espermático ou seminal) –, a realidade que resulta é ativa e passiva ao mesmo tempo.

O lógos, que é divino fecundará a matéria: “O lógos tem um projeto do que pensa fazer, como o carpinteiro tem em mente o plano de sua mesa. O lógos “racionaliza” sua produção, e por esta razão apenas no estoicismo o termo lógos adquire plenamente o sentido de ‘razão’”.

E, como é divino, o universo é fabricado com materiais preexistentes, por uma razão divina. Essa originalidade da teoria estoicista influenciará a doutrina cristã.

Sendo o lógos imanente à matéria, fecunda-a de dentro dela mesma. Eles se inspiram em Heráclito: “(...) o lógos está presente na matéria como um sopro ígneo que, como o fogo do ferreiro, molda a matéria (...)”.

Cordero aponta que Crisipo associará a esse sopro ígneo a noção de pnéuma, “espírito” (noção também adotada pelo cristianismo), que também é material, mesmo que não o enxerguemos, como o vento.

Em maior ou menor grau, o pnéuma-lógos está presente em tudo o que há por “simpatia” (syn+pathós) universal.

O pnéuma, que é o lógos ígneo, vai se misturando com a matéria de forma progressiva e hierárquica: numa rocha (minimamente), nos vegetais (phýsis), nos animais (psyché, princípio de movimento) e nos seres humanos (diánoia, o raciocínio), diz o autor.

Esse universo – “simpatético”, uma vida segundo a natureza – não comporta a dicotomia teoria/práxis, mas presume que a teoria só tem sentido em função da ação prática e que esta supõe uma teoria prévia: “Assim como os médicos têm sempre à mão uma caixa de primeiros socorros para os casos de urgência, deves ter à mão para qualquer ocasião os preceitos que te permitem conhecer as coisas divinas e humanas para atuar em cada caso com a certeza de que há um encadeamento mútuo de todas as coisas”, recomenda Marco Aurélio.

Diferente de Platão, que no Fédon opõe o corpóreo ao racional, no estoicismo a natureza, em seu conjunto é racional (interpenetrada pelo lógos): “Um ser 'natural' é um ser 'naturalmente racional', apto a conhecer”. Cordero afirma que no estoicismo, a busca pela felicidade não conflita com nossas “tendências naturais”.

O imperativo “Viver segundo a natureza” visa a busca racional pela felicidade e significa tomar consciência do estado natural do ser humano, adequando condutas que não violentem nem ponha em perigo esse estado natural.

A moral estoica, diz o autor, constituiu um autêntico inventário de noções que descrevem esse estado natural e o tipo de ações que devem ser realizadas em função do mesmo.

Cícero afirma que o ser vivo tem uma “tendência (ou inclinação) a amar sua natureza, quer dizer, tudo o que é capaz de conservá-la, e a fugir de tudo o que pode destruí-la.”, e o ser humano possui a razão, que é o que rege sua vida natural e permite “julgar, apreciar e valorar tudo o que a natureza oferece”.

Para Cícero, o ser vivo sente-se como em sua casa na natureza, mas não é o homem quem se apropria da natureza, mas a natureza que se apropria do ser humano.

Há noções valiosas (áxios), boas, justamente porque estão de acordo com a natureza (justiça, sabedoria) e não valiosas (anáxios) e más porque são contrárias à natureza (injustiça, loucura).

O senso comum apontará cada uma delas como sendo boa ou má, mas há também a vida, a morte, a saúde, doença, prazer, dor, riqueza e pobreza – indiferentes –, pois “tudo depende do uso que se lhes dê, o que supõe a responsabilidade do sujeito moral”.

Obviamente, alguns são preferíveis enquanto outros são “suprimíveis” e entre os preferíveis, tudo aquilo que é positivo segundo a natureza, diz Cordero, merece o nome de “conveniente”.


Às ações apropriadas, adequadas, estoicos romanos denominaram “officium”, que é uma contração de “opus facio”, “faço o que devo”, afirma o autor. E tudo o que se opõe às ações convenientes é chamado de ‘falta’ (hamárthema), termo que os cristãos transformaram em ‘pecado’.

Ações convenientes que permitem alcançar a excelência ou virtude (areté) são ditas “perfeitas” (kathórtoma) e trazem a presença do bem supremo em cada ser humano, que é o summum da ética estoica: “a excelência é o cume do ser racional enquanto racional”, dizia Diógenes Laércio.

A meta da maioria dos filósofos gregos era atingir a excelência, a consciência daquilo que nos falta: “Quem alcança a excelência ‘possui’ o bem supremo, que é um habitus, uma posse (latim habeo, possuo) que é inalienável. O indivíduo excelente pode estar privado de tudo (liberdade, bens, etc.), mas ninguém pode despojá-lo de seu bem supremo.”.

O sujeito moral estoico sabe escolher, devido à faculdade da phrónesis (prudência, sagacidade) que é o que nos previne contra nosso pior inimigo: as paixões, que, como alerta Diógenes Laércio “é um movimento da alma irracional e contrário à natureza”, pois em vez de nos incitar a viver ‘segundo’ (katá) a natureza, nos leva a atuar ‘contra’ (pará) ela.


Se considerarmos que nossa natureza é ser racional, tudo o que vai ‘contra’ essa faculdade é irracional e prejudicial, pois a alma, em vez de raciocinar, pode muito bem se deixa levar “pelo que se diz” e, por vaidade e ganância, por exemplo, seguindo falsos valores, enreda-se em ciúmes, raiva, mágoas, etc. Esse caráter das paixões será denominado pelos estoicos romanos de “perversio” ou “perturbatio”.

O antídoto contra esse embotamento seria ver as coisas como elas são “o bem reside no bom uso das representações”, diz Epiteto. E Cordero enfatiza: “A origem da paixão é um erro de apreciação, de juízo”.

Como exemplo do engano causado pelas errôneas representações, citam o caso da criança que, não fazendo juízo prévio de um tirano, não o teme, pois não faz ideia do pavor e repulsa que esse causa, como ocorre nos adultos: “É a representação do tirano que te dá medo”.

Antifonte dirá que o mundo se divide entre sábios e ignorantes e que todos nós podemos chegar a ser sábios, caso levemos uma vida de acordo com a natureza.


Quem for capaz de vencer as paixões e viver segundo a razão (ou seja, segundo a “natureza”, que é “racional”) torna-se “sábio” (sophós): “O sábio não é apático (privado de “pathós”, paixão), mas antes imperturbável, já que sabe distinguir entre aquilo que depende de nós e aquilo que escapa ao nosso controle”.

Riqueza, fama ou honras não dependem de nós, mas das circunstâncias, são frágeis; já nossos desejos, tendências e aversões, estão em nossas mãos. Assim, é sábio regularmos nossa vida em função do que depende de nós, sempre mediante uma prévia representação correta das coisas.

Sábio é aceitar o que escapa ao nosso controle, regularmos nossa vida em função do que depende de nós, harmonizando nossa vontade com o que nos acontece, de maneira que nada aconteça apesar de nós, que nada ocorra contra a nossa vontade, diz Epiteto: “A liberdade consiste em aceitar a necessidade cósmica”.

É preciso desejar que ocorra o que vai ocorrer, roga o estoicismo. Os estoicos pensam no destino de modo diferente dos antigos filósofos e poetas trágicos, não é um poder impessoal, mas uma realidade natural, afirma Néstor.

Aulo Gélio, no séc. II escreveria para Crisipo dizendo que “o destino era um certo ordenamento natural e eterno da eternidade, segundo o qual uma das coisas sucedem outras e vão se substituindo, em um entrelaçamento inviolável”.

E Cícero responde que “o destino em questão não é o da superstição, mas sim o da física, causa eterna das coisas, segundo a qual o passado se produziu, o presente se produz e o futuro se produzirá”.

Cordero diz que tudo está relacionado não apenas no espaço, como também no tempo, e somos atores do que ocorrerá, ainda que não o saibamos. Os estoicos apreciavam a adivinhação, que Crisipo dizia ser a capacidade de detectar os sinais que os deuses enviam aos homens.

A escola estoica afirma que uma gota de vinho lançada ao mar modifica sua composição, que somos artífices de tudo o que ocorre no universo, responsáveis pelo equilíbrio (ou desequilíbrio) cósmico.


Referências bibliográficas: Néstor Luis Cordero




Para um maior aprofundamento: Rachel Gazolla



1 de set. de 2013

Movimentos filosóficos helenísticos: os cínicos


“As novas leis da cidade são arbitrárias e já não observam o equilíbrio cósmico.” Néstor Luis Cordero


Sobre propostas que fundamentem nosso agir, sabemos algo dos hippies, dos punks e dos grunges, por exemplo, mas talvez saibamos pouco sobre os movimentos que surgiram na Grécia, como os cínicos, estoicos e epicuristas. Ponderemos sobre os cínicos.

Segundo o estudioso Néstor Luis Cordero, em sua obra “A invenção da Filosofia”, a proposta dos cínicos se inspira em uma dicotomia que surgiu na época da sofística, entre os partidários das leis da pólis (consagração dos costumes) e os defensores das leis da natureza (phýsis).

Cordero afirma que tanto Platão quanto Aristóteles concebiam que a excelência humana é alcançada no exercício político, ou seja, na participação social, na pólis.

A pólis de Platão e Aristóteles foi uma estrutura social formada por um conjunto de cidadãos unidos por leis estabelecidas por seus membros e “consolidadas por organismos coletivos de poder, o que supõe uma autonomia [...] total”.

A Atenas de Aristóteles, no entanto, testemunhou o desmoronamento dessa estrutura quando, derrotada na Batalha de Queroneia (338 a.C.), passou a ser parte do império macedônico de Felipe, pai do lendário Alexandre, o grande: “As leis de uma cidade ocupada já não são autônomas, e a democracia que subsiste é somente formal”.

Na “época helenística”, progressivamente foram desaparecendo as pequenas cidades-estados, reduzidas ao denominador comum identificado, genericamente, como sendo a “Grécia”. E as coisas continuaram assim, inclusive séculos depois, quando essas cidades-estados passaram a integrar o Império Romano.


Sendo a filosofia, como bem salienta o autor, um reflexo de seu tempo, testemunha-se uma sutil alteração: “o cidadão (polítes) transforma-se em cidadão do universo (kosmopolítes)”.

Perdido em meio à globalização imperial que o cerca, o indivíduo dirige seus pensamentos para seu interior, em estabelecer os meios de garantir sua plenitude, sua felicidade, pois “A participação natural nos assuntos da cidade, fonte da excelência humana”, enfraqueceu.

A nova maneira de filosofar não se pauta mais no modelo da harmonia que se poderia encontrar na pólis, mas no que se encontra à disposição na própria natureza. O tecido da “lei” da pólis (que se dá quando um costume, um hábito se torna objetivo, normativo) se esgarça.

Nesse momento histórico e dos povos, as leis da cidade tornam-se arbitrárias, corruptíveis, inconstantes, enquanto as leis da natureza são imutáveis. Encontrando nela um “norte”, as escolas helenísticas conclamavam que era preciso viver de acordo com a natureza, “pois somente ela determina o útil e o nocivo”. Obviamente, cada escola (cínicos, estoicos e epicuristas) buscou interpretar a natureza a seu modo.

Os cínicos (do grego kynikós = como um cão), os primeiros a testemunhar e reagir à perda da autonomia de Atenas, surgiram durante o reinado de Alexandre e tomaram a palavra “natureza” ao pé da letra, desconsiderando as normas sociais e identificando-se especificamente com os cães de rua.

Segundo Cordero, o cínico era um filósofo desapegado que vivia de maneira selvagem, marginal, tal qual um cão.


Espelhavam-se na figura de Sócrates, de quem Antístenes – fundador do cinismo – teria sido ouvinte. Filho de uma escrava, Antístenes não possuía cidadania ateniense, necessária para adquirir uma propriedade (como Platão), nem fortuna pessoal para alugar uma (caso de Aristóteles); por isso, contentou-se em ocupar um ginásio abandonado conhecido como Cinosargo (mesmo nome do fiel cão de Ulisses).

Discípulo de Antístenes, Diógenes da cidade de Sínope é o lendário propagador do movimento. Teria sido por volta de 380 a.C. que Diógenes, fugindo de Sínope por falsificação de moedas, ingressou ao grupo dos “do Cinosargo”.


Diógenes, como Sócrates nada escreveu, tornou-se um personagem sobre o qual muitos escreveram. Mais largado ainda e com muito mais bom humor, desdenhava os superpoderosos monarcas enxergando-os como míseros escravos. Hilárias são as frases que se atribuem a ele: “Já que nos tratam como cães, agiremos como tais”.

Rechaçando tudo o que era supérfluo, Diógenes trazia consigo apenas um grande jarro (semelhante a um barril), seu tríbon (um manto grosseiro que usava tanto para se cobrir quanto para dormir) e uma lanterna acesa até mesmo durante o dia, que dizia trazer para ajudá-lo a procurar um homem que fosse justo.


Pioneiro na crítica à sociedade de consumo, ele desprezava as pessoas que dependiam de seus bens e tornavam-se escravas deles e das convenções e regras sociais que certa posição exigia. Não tardou a angariar seguidores que o imitassem.


Semelhantes aos cães, que satisfazem suas necessidades, inclusive as sexuais, como lhes apraz, os cínicos primavam pela falta de pudor (anáideia) contra a falsa moral vigente. Após masturbar-se em praça pública, Diógenes lamentava: “Pena que a fome não passe alisando o estômago”. Conta-se que quando pessoas “respeitáveis” fugiam de sua presença, desprezava-os ironizando: “Não temam, nós cães não comemos carniça”.


Essa e muitas outras sacadas espirituosas de Diógenes estão disponíveis em nosso Blog, inclusive a mais famosa que ousou proferir ao próprio Alexandre. Reza a lenda que após ouvir do poderoso que lhe concederia o que desejasse, Diógenes pediu apenas que ele saísse da frente do sol que o aquecia. O temido conquistador teria proferido: “Se não fosse Alexandre, gostaria de haver sido Diógenes”.

Por não ter uma doutrina, instituição ou tratados específicos, o movimento cínico foi tomado mais como mera provocação, uma filosofia de ocasião; mas há controvérsia, pois segundo Cordero: “os cínicos representam fielmente o sentido que teve a filosofia desde suas origens: assentar as bases de um modo de vida.”.

Privilegiando uma didática provocativa, “o cínico quer despertar a consciência da massa globalizada vítima de necessidades impostas por falsos valores [...].”.

O credo cínico proclamava: “necessário é aquilo que satisfaz a vida do ser humano; o supérfluo, ao contrário, faz dele um escravo que destrói a natureza e que termina por acabar com os recursos naturais”.

Na theoría dos cínicos, a excelência humana consiste na obtenção da felicidade, esse é o propósito (télos) da vida. E sem delongas: “Infeliz, tu pretendes filosofar e arruínas com longos discursos o melhor da vida humana”, repreendia Diógenes.

Como atalho, os cínicos propõem a áskesis, uma espécie de exercício cotidiano que supõe pôr em prática uma força física e moral. Assim como a prática conduz a excelência, a áskesis permite ao infeliz tornar-se feliz: somos infelizes porque permitimos que nos imponham falsos valores e falsas metas, devemos então suprimir os dois pilares sobre os quais se apoia a sociedade: o luxo e o prazer, que tanto
 causam sofrimentos e infortúnios.

O afã por prazeres não encontra limites e debilita o caráter. Esforça-se e desgasta-se muito para satisfazê-los. Na verdade, o homem teria uma personalidade forte se fosse capaz de resistir às privações e sofrimentos.


A palavra sofrimentos (pónos) – diz Cordero –, significa uma “experiência dolorosa” (daí “pena”): “Quando esse tipo de experiência se acaba, sobrevém o único tipo de prazer admitido pelos cínicos: a ausência de sofrimento.”. Os cínicos praticavam a áskesis para poderem suportar as penas (pónoi).

Afirma também que a áskesis apoia-se sobre três pilares: autossuficiência, liberdade e apatia.

A autossuficiência é a situação de quem se satisfaz com o que tem. Isso conduz à liberdade, pois o indivíduo torna-se independente, não se submetendo às obrigações externas.

Mas o autor salienta que há dois tipos de liberdade: a recusa das convenções (o que permitiria fazer o que se quer) e a aceitação voluntária de fatos que não dependem de nós (tsunamis, doenças, morte).

Chegamos então ao 3º pilar da áskesis: para se enfrentar os reveses inerentes à vida eles propõem a apatia, a ausência de páthos, de emoção e de paixão.


Por fim, avaliemos: escolhemos viver como estamos vivendo ou nos deixamos manipular por valores impostos pelos outros?

1 de ago. de 2013

Um inimigo do povo – Henrik Ibsen (Parte II)



“Os poderosos, os mesquinhos, os interesseiros, cultivam a ignorância para se manterem no poder e obter lucros e vantagens”. Henrik Ibsen

Por quanto tempo ainda, esse clássico magistral, de 1882, permanecerá tão atual?

Prosseguindo com o artigo anterior, os editores do jornal A Voz do Povo, concluem que o artigo-denúncia do médico, Dr. Stockmann é arrasador e animam-se, crendo que o jornal dedicará grandes espaços para mostrar a incapacidade administrativa do prefeito: “Sim, mas essa gente não se derruba no primeiro golpe...”.

Para o doutor, agora não é só pelo esgoto, mas é toda sociedade que é preciso limpar, desinfetar: “(...) vejo que só os jovens poderão realizar o sonho de uma vida melhor”, e se entusiasma: “Basta que nos conservemos unidos.”.

Depois que sai da redação, os editores conversam que a educação cívica e a consciência dos cidadãos é importante, mas ponderam que quando um homem tem bens, o importante é protegê-los, e não meter-se em questões políticas.

O prefeito adentra sorrateiramente à redação, pela porta dos fundos. Apela à sensatez do Editor para que não publique a denúncia do médico, dizendo que ele tem certa influência. 

Esse confirma que sim, mas que é somente sobre os pequenos contribuintes, nada mais. E o prefeito: “Os pequenos contribuintes, a classe média, aqui como em toda parte, são os mais numerosos, os que decidem”.

Salienta ainda que quem pagará por esses gastos será a cidade, que a Estação Balneária ficaria por fechada pelo período mínimo de dois anos, que isso acabará com o turismo. O editor se preocupa: “E de que viveremos durante esse tempo, nós os proprietários?”.

O prefeito o tranquiliza dizendo que redigiu uma breve exposição sobre o caso, onde indica, as obras que são possíveis realizarem sem ultrapassar os recursos dos cofres.

Ao perceber que o Dr. Stockmann também chega à redação, o prefeito se esconde.

Antes exultante por ter a seu favor, a opinião pública, ao perceber o boné e a bengala do prefeito sobre a mesa, compreende que já não pode contar com a imprensa. O dono do jornal declinara.

O médico se exalta: “Só quero que publiquem meu artigo e eu vou mostrar como se defende uma ideia quando se tem a convicção de que se está certo”.

Ao ouvir a negativa, pergunta se não é ele que manda no jornal: “Não, senhor doutor, são os assinantes”. O prefeito surge e emenda: “Felizmente.”.

O diretor do jornal argumenta: “É a opinião pública, doutor. As pessoas esclarecidas, os proprietários de casas, a classe média, são eles que dirigem os jornais.”.

Asseguraram ao prefeito que o dele, sim, será publicado. O médico se dispõe a pagar pela impressão do seu, mas o editor afirma que não irá contra a opinião pública.

O Dr, Stockmann, então, tem a ideia de convocar uma assembleia popular. Para presidi-la, o prefeito indica o presidente da Associação dos Pequenos Proprietários de Imóveis, Sr. Aslaksen.

O prefeito pede a palavra: “(...) a meu juízo, nenhum dos cidadãos aqui presentes deseja que circulem boatos, rumores tendenciosos sobre a situação sanitária da Estação Balneária e da população”.

Inúmeras vozes o corroboram: “Não, não, não! Nada disso! Protestamos!”.

E prossegue: “Em vista disso, proponho que a assembleia não autorize o médico da Estação Balneária a ler o seu relatório (...) pode-se verificar que (...) tende, no fundo, a impor aos contribuintes um gasto inútil”.

O diretor do jornal toma a palavra e reitera que o doutor pretende que se promovam mudanças na estrutura de poder da cidade, que suas ideias custariam dinheiro aos cidadãos e que, por isso, é contra. É aplaudido.

Afirma que o jornal sempre defendeu as ideias progressistas e democráticas: “não é dever do jornalista estar sempre de acordo com a vontade do leitor? Não recebeu ele uma espécie de mandato tácito que o obriga a combater sem tréguas, para o bem daqueles cuja opinião representa?”.

Chocado, o médico confessa uma descoberta de muito mais alcance do que o envenenamento das águas: “Descobri que todas as fontes morais estão envenenadas e que toda a nossa sociedade repousa sobre o solo da mentira (...) vi a colossal estupidez das nossas autoridades...”.

Insiste que o assusta a enorme irresponsabilidade das pessoas que detêm o poder na comunidade, que tudo o que sabem fazer é destruir. O inimigo mais perigoso da verdade e da liberdade entre nós, diz ele, é a enorme e silenciosa maioria dos concidadãos que o priva da liberdade e o impede de dizer a verdade.

O público contesta: “A maioria sempre tem razão!”.


Contesta a pseudo-verdade de que a voz do povo é a voz da razão, perguntando que sentido tem as verdades proclamadas pela massa, que é manobrada pela mídia e pelos poderosos: “É a unanimidade, a massa – enfim, essa satânica e compacta maioria –, é ela, quem envenena as fontes de nossa vida e empesta o solo em que nos movemos”.

Vocifera que a doutrina segundo a qual a massa, a multidão constitui-se a essência do povo é perversa, pois atribui ao homem vulgar e ignorante, que representa as mazelas sociais, os mesmos direitos dos seres distintos que compõem uma elite intelectual.

Vozes protestam: “(...) Vamos por no olho da rua este sujeito que diz estes absurdos contra o povo.”.

Resoluto, o médico denuncia que a imprensa manipula o pensamento da população para ter vantagens. “Somos, sim, somos animais! (...), entre nós, há poucos animais de raça. Ah! Existe uma distância terrível entre o homem “de raça” e o homem “vira-lata”. E isso não tem nada a ver com classe social.”.

Esclarece que para se encontrar a plebe de que fala não se deve procurar somente nas classes mais baixas, mas principalmente nas classes sociais privilegiadas que também acolhe sua cota de plebeus “(...) enquanto um homem não tiver eliminado o que há de vulgar para atingir a verdadeira distinção espiritual.”.

Aponta para o prefeito: “Ele é um plebeu! Aqueles que obedecem e pensam somente pelas cabeças dos outros sempre serão plebeus morais! (...) Somente o pensamento livre, as ideias novas, a capacidade de um pensar diferente do outro, o contraditório, podem contribuir para o progresso material e moral da população”.

Atesta que verdadeiro grande mal é a pobreza, são as miseráveis condições de vida que esmagam muitas pessoas: “(...) Todos aqueles que vivem de mentiras devem ser exterminados como ervas daninhas!”.

Infectam todo o país: “E se todo o país ficar infectado com este nível de corrupção merecerá ser reduzido ao nada junto com seu povo!”. Um homem de bem não deve encobrir imundícies. É por isso que o idealista se manifesta.
Related Posts with Thumbnails

ESCOLHA & CLIQUE (leia no topo). Cultura faz bem ao Espírito!


Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

Você se sentiu ofendido...

irritado (em seu "phrenas", como diria Homero) ou chocado com alguma imagem desse Blog? Me escreva para que eu possa substituí-la. e-mail: mitologia@esdc.com.br