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1 de jan. de 2013

CONSUMO versus CONSUMISMO - Bauman (Parte II)

 
A sociedade de consumidores (doravante “SC”) projeta uma cosmovisão que nos contagia, direcionando nosso olhar sobre a felicidade e a infelicidade. Estamos conscientes dessa contaminação?
 
Os valores com os quais a sociedade se compromete motiva os comportamentos individuais. Hoje, a tal ‘busca da felicidade’ move, alimenta e alavanca o PIB. Busquemos elucidar, no intrincado engodo de nossa SC, aonde a melancolia encontra refúgio.
 
O ‘Pai da Psicanálise’, Sigmund Freud, apontou que, basicamente, o ser humano busca o prazer e evita a dor, ao que Zygmunt Bauman corrobora: “desejam a felicidade e evitam a infelicidade”. E esclarece: “os dois conceitos assinalam a distância entre a realidade tal como ela é e a uma realidade desejada (...)”.
 
A atual SC orquestra uma ‘renegociação do significado do tempo’, perpetuando o prazer que, incansável e incessantemente, queremos repetir. Dogmática, a ‘obrigação’ de ser feliz, o tempo todo, tornou-se vício.
 
O valor supremo da SC está numa vida feliz e é a essa ‘vida feliz’ que todos os outros valores são instados a justificar seu mérito: “A sociedade de consumidores talvez seja a única na história humana a prometer a felicidade na vida terrena, aqui e agora e a cada ‘agora’ sucessivo. Em suma, uma felicidade instantânea e perpétua”, afirma o sociólogo.
 
Ser feliz a todo instante se tornou tão imperativo que “(...) a infelicidade é crime passível de punição, ou no mínimo um desvio pecaminoso que desqualifica seu portador como membro autêntico da sociedade (...)”. Até a lua é de fases, mas a nós, nem por um instante, é permitido "minguar".
 
Habitando uma sociedade que tem como télos (propósito, objetivo, finalidade) reforçada imposição do prazer, somos levados a nos autoavaliar ininterruptamente, sem perspectiva histórica, pela acumulação e repetição de momentos apoteóticos “em um grau desconhecido e dificilmente compreensível a qualquer outra sociedade de que se tem registro”. Prima-se pela constância em felicidade, sempre atrelada ao poder de consumo, proporcionada por maiores rendimentos.
 
Mas, quanto ao impacto do dinheiro sobre o sentimento de felicidade, Bauman cita que Richard Layard recolheu evidências de que isso só ocorre até o patamar que coincide com a satisfação das necessidades básicas, de sobrevivência, essenciais ou naturais.
 
Ocorre que a SC induz à ampliação desse patamar: “tenta afastar, ou pelo menos marginalizar, substituindo-os por desejos mais flexíveis e grandiosos e por vontades mais caprichosas e impulsivas”, afirma o sociólogo.
 
Contrariando o que os marqueteiros insistem em garantir e as crenças mundanas endossam, ganhar mais não garante, necessariamente, aumento no volume da felicidade: “o consumo não é um sinônimo de felicidade nem uma atividade que sempre provoque sua chegada”. Atentemos ao fato de que, inócuo o consumo como ‘fator de felicidade’, naufraga quando se trata das necessidades do ser ou das realizações pessoais.
 
A infelicidade – melancólico desconforto – que a SC acarreta, parece notória. O estudioso destaca alguns sintomas evidentes: extenuantes jornadas de trabalho, falta de autoconfiança, conflitos e fracassos nas relações amorosas e/ou familiares, insegurança sobre estar ou não estabelecido de maneira razoável, a necessidade de ‘ter razão’ e o excesso de informações, que tendem a crescer em frequência, volume e intensidade.
 
De fato, com tantas as informações disponíveis, se faz necessário desenvolver a habilidade de filtrar as indesejadas. Segundo Ignacio Ramonet: “Nos últimos 30 anos se produziu mais informação no mundo do que nos 5 mil anos anteriores (...) Um único exemplar da edição dominical do New York Times contém mais informação do que a que seria consumida por uma pessoa culta do século XVIII durante toda a vida”.
 
Entretanto, por ser mais capaz de discernimento, desconfio que uma pessoa ‘culta’, consuma com qualidade, alcançando maior plenitude.
 
Bauman esclarece que o conceito de ‘melancolia’ representa, em seu uso atual “não tanto um estado de indecisão, uma hesitação, entre seguir um ou outro caminho, mas um recuo em relação às próprias divisões. Ele representa um ‘desenredamento’ em relação à ‘estar atado a qualquer coisa específica’”.
 
Paralisante, a melancolia é “um distúrbio resultante do encontro fatal entre a obrigação e a compulsão de escolher/o vício da escolha e a incapacidade de fazer opção (...) e pela indisponibilidade de critérios fidedignos capazes de separar o relevante do irrelevante e a mensagem do ruído”.
 
A ser afugentada a qualquer custo, a infelicidade constitui a matéria-prima da SC que, paradoxalmente, “prospera enquanto consegue tornar perpétua a não satisfação de seus
membros (...)”. Curiosamente, o pharmakon que essa sociedade oferece gera ainda mais daquilo que se diz combater, a insatisfação.
 
O renomado sociólogo alerta que o medo é a principal causa da variedade líquido-moderna de infelicidade e que uma economia orientada para o consumo “promove ativamente a deslealdade, solapa a confiança e aprofunda o sentimento de insegurança.”.
 
Como uma Hydra, a SC satisfaz cada desejo, cada vontade com tal incompletude que a pseudo-satisfação fomenta mais do mesmo, outros novos desejos e vontades: “O que começa como um esforço para satisfazer uma necessidade deve se transformar em compulsão ou vício”.
 
Vício encorajado, avidamente perseguido e propositalmente aporético, pois a promessa deve ser enganadora, ou ao menos exagerada: “O domínio da hipocrisia que se estende entre as crenças populares e as realidades das vidas dos consumidores é condição necessária para que a sociedade de consumidores funcione de modo adequado”.
 
O tempo todo, somos bombardeados com mais opções e ‘incríveis’ ofertas: “É o excesso da soma que neutraliza a frustração causada pelas imperfeições ou defeitos de cada uma delas e permite que a acumulação de experiências frustrantes [try again] não chegue a ponto de solapar a confiança na efetividade essencial dessa busca”.
 
 
Vislumbra-se uma vida de abundantes novos recomeços, novas chances e oportunidades de renascimento: “(...) a construção e reconstrução da autoidentidade, com a ajuda dos kits identitários fornecidos pelo mercado (confira no vídeo abaixo) continuará sendo a única estratégia plausível ou ‘razoável’ que se pode seguir num ambiente caleidoscopicamente instável no qual ‘projetos para toda a vida’ e planos de longo prazo não são propostas realistas, além de serem vistos como insensatos e desaconselháveis”.
 
O espaço que os consumidores líquido-modernos necessitam, diz Bauman, só pode ser conquistado expulsando outros seres humanos – em particular os que não se enquadram, os tipos que se preocupam ou podem precisar da preocupação dos outros.
 
Dotada de instrumentos de coerção e meios de persuasão ocultos, a SC avalia, recompensa e penaliza segundo a prontidão da resposta ao consumo, nos levando a perseguir esse objetivo de vida como sendo o alfa e o ômega de nossa existência.
 
 
Pautada por uma dinâmica perversa, a SC, além de orientar a distribuição do apreço e dos estigmas sociais (reduzido a poder ou não poder TER), confunde o ser humano, fazendo-o sentir-se inadequado, indigno, incapaz de SER.
 
 
 

 
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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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