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1 de dez. de 2014

Platão: Político - Parte II



No artigo anterior, acompanhamos o raciocínio de Platão até onde ele conclui que entregamos as rédeas do Estado aos políticos por serem homens que possuem a ciência que lhes é necessária. No entanto, elegemos “titicas de tiriricas”. Mas, qual seria o retrato do político, do homem “real” (no sentido de régio mesmo)?

A pesquisa sobre o que é o político existe para nos tornar melhores dialéticos a propósito de todos os assuntos possíveis, pois é preciso aprender a distinguir os astuciosos, mágicos sofistas, dos verdadeiros políticos.

Examinemos o gênero de governo exercido sobre a cidade e vejamos se os políticos estão acima de seus súditos “tal como o pastor divino, ou no mesmo nível”, pois a arte que prima por cuidar dos seres humanos é a “arte” do rei (real) e do político.

Esse “cuidado” pode ser exercido pela força, como fazem os tiranos ou pode ser aceito de boa vontade pelo povo: trata-se da política, que é a arte que se ocupa da pólis (cidade).

Para que possamos ter uma régua que nos auxilie a elogiar ou censurar – seja lá o que for –, precisamos ponderar sobre a arte da medida, que versa sobre grandeza e pequeneza, excesso ou falta.

O maior, por exemplo, só é maior com relação ao menor; E vice-versa: “(...) aquilo que ultrapassa o nível da medida, ou permanece inferior a ele, seja em nossa conversa, seja na realidade, não é exatamente, a nosso ver, o que melhor denuncia a diferença entre os bons e os maus?”.

Com o raciocínio acima, Platão conclui que somos forçados a admitir que, seja para o grande, seja para o pequeno, há dois modos de existência e dois padrões. Um desses padrões é a relação recíproca e outro é a relação de ambos com o que ele denomina como sendo “a justa medida”.

A “arte da medida” é o que nos permite aferir que, profissionalmente, Fulano é superior a Ciclano, entretanto, inferior ao que seria ideal, perfeito, desejável, por exemplo.

Para que abarquemos a arte de medir, precisamos distinguir, de uma lado, as artes para as quais o número, os cumprimentos, as profundidades, larguras e espessuras se medem por seus opostos (pouco/muito; curto/cumprido; raso/profundo; largo/estreito; fino/grosso, etc.) e, de outro lado, todas aquelas que se referem à justa medida, a tudo aquilo que é conveniente, oportuno e devido, a tudo que conserva o meio entre dois extremos.

Essas duas divisões amplas diferem entre si. E a ciência da medida se aplica a todas as coisas que se transformam: “A regra exata seria, quando nos apercebermos de que um certo número de coisas possui algo em comum, não abandoná-la antes de haver distinguido, naquilo que tem em comum, todas as diferenças que constituem as espécies (...)”. É assim que encontramos dois gêneros de medida, conforme os caracteres que lhes atribuímos.

Para Platão, certas realidades possuem suas semelhanças naturais, fáceis de se descobrirem, em objetos que falam aos sentidos, mas no caso das maiores e mais preciosas realidades, das que não possuem imagens criadas que deem aos homens uma intuição clara, nos embaraçamos com argumentos: “(...) Assim é necessário procurarmos saber dar a razão de cada coisa e compreendê-la; pois as realidades incorpóreas que são as maiores e mais belas, revelam-se apenas à razão e somente a ela (...)”.

Sobre os modos de governar, sabemos que a monarquia é uma das formas de poder político. Governo de pequeno número – aristocracia –, também. E há ainda a terceira forma de constituição, que é a soberania das massas, denominamos democracia.

A monarquia pode ser tirânica ou pode ser mesmo uma realeza. Num governo de pequeno número, podemos ter uma aristocracia ou uma oligarquia: “Apenas, na democracia, é indiferente que a massa domine aqueles que tem fortuna (...)”.

A questão é discernir: “Em qual dessas constituições reside a ciência do governo dos homens, a mais difícil e a maior de todas as ciências possíveis de adquirir? Pois essa é a ciência que é necessário considerar se quisermos saber que rivais devemos afastar do rei competente, concorrentes que pretendem ser políticos (…), embora não o sejam de maneira alguma”.

Quer reine ou não, só merecem o título de rei os que possuem a ciência real: “E quer governem a favor ou contra a vontade do povo; quer se inspirem ou não em leis escritas; quer sejam ricos ou pobres, é necessário considerá-los chefes, de acordo com o nosso atual ponto de vista, desde que governem competentemente por qualquer forma de autoridade que seja”. Para o filósofo, os chefes seriam possuidores da ciência verdadeira e não de um simulacro de ciência.

Quanto às leis, diz estar claro que, de certo modo, a legislação é função real; entretanto o mais importante não é dar força às leis, mas ao homem real, dotado de prudência, isso porque a lei jamais seria capaz de estabelecer, ao mesmo tempo, o melhor e o mais justo para todos, de modo a ordenar as prescrições mais convenientes: “A diversidade que há entre os homens e as ações, e por assim dizer, a permanente instabilidade das coisas humanas, não admite em nenhuma arte, e em assunto algum, um absoluto que valha para todos os casos e para todos os tempos”. Embora seja precisamente este “absoluto” que a lei procura.

Se é impossível, ao que permanece sempre absoluto, adaptar-se ao que nunca é absoluto, por que é necessário fazer as leis se elas não são a regra perfeita?

O que acontece com o legislador é que “tendo que prescrever obrigações de justiça e contratos recíprocos, jamais seria capaz, promulgando decretos gerais, de aplicar, a cada indivíduo, a regra exata que lhe convém”. Não há como, a cada momento, aproximar-se de cada indivíduo a fim de prescrever exatamente o que deve ou não fazer.

As leis estabelecem o que convém à maioria dos casos e dos indivíduos, e assim de modo geral, legisla para cada um, por meio de leis escritas ou não, contentando-se, neste caso, em dar força de lei aos costumes nacionais: “(...) se alguém conhece leis melhores que as existentes não tem o direito de dá-las à sua própria cidade senão com o consentimento de cada cidadão”.

Um chefe pode ou não lançar mão da persuasão, ater-se às leis escritas ou livrar-se delas, desde que governe utilmente, afirma Platão: “Não é nisto que reside a verdadeira fórmula de uma administração correta da cidade, segundo a qual o homem sábio e bom administrará os interesses de seu povo?”.

E, citando o capitão de uma embarcação como exemplo, aponta que este: “(...) longe de escrever um código, mas tendo sempre sua atenção voltada para o bem do navio e seus marinheiros, estabelece a sua ciência como lei e salva tudo o que com ele navega, assim também, de igual modo, os chefes capazes de praticar esse método realizarão a constituição verdadeira, fazendo de sua arte uma força mais poderosa do que as leis.”.

E nos pergunta se não será verdade que os chefes sensatos podem fazer tudo, sem risco de erro, desde que observem esta única e grande regra: distribuir em todas as ocasiões, entre todos os cidadãos, uma justiça perfeita, penetrada de razão e ciência, conseguindo não somente preservá-la, mas também, na medida do possível, torná-la melhor.

Esses são atributos do homem que detém a ciência real e faz jus ao cargo político que ocupa, pois é incontestável “Que a massa, qualquer que seja, jamais se apropriará perfeitamente de uma tal ciência de sorte a se tornar capaz de administrar com inteligência uma cidade (…)”.

Platão chama a atenção para o fato de que, não havendo, para nós, senão uma única constituição exata, aquela a que nos referimos (a perfeita, a ideal), sabes que as demais devem, para substituir, procurar naquela (na perfeita, na ideal) as suas leis escritas e agir de acordo com o que hoje se aprova.

Cabe ainda ao chefe dotado de ciência real, proibir a todas as pessoas de transgredir as leis e punir aquele que ousar fazê-lo, pois em qualquer domínio em que se estabeleçam leis e códigos escritos, impõe-se jamais permitir ao indivíduo ou à massa qualquer ato que possa infringi-los, no que quer que seja.

Faz-se necessário ouvir os ensinamentos de Platão, sempre perfeito, sempre atual. Com os votos sinceros de um Natal de Amor e um Ano vindouro de paz e prosperidade, prossigamos, amigos!

Luciene Felix Lamy
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana da
Galleria Borghese, Roma
Acesse “Cursos & Palestras” em: lucienefelix.blogspot.com
E-mail: mitologia@esdc.com.br

1 de nov. de 2014

Platão: Político - Parte I


(...) devemos sempre procurar reconhecer nossos parentes
pela maneira por que conversam.” Platão

No discurso intitulado “Político”, Platão (427-347 a.C.) aponta o caminho para que se chegue à compreensão do que seria desejável que fosse o político, colocando-o entre os sábios.

Inicialmente, classifica todas as ciências em duas: ciência prática e ciência teórica. Afirma que se um leigo, um cidadão qualquer for capaz de dar conselhos a um médico ou a um soberano, é inegável que isso se deve ao fato de que nesse indivíduo existe a “ciência” (aqui entendida como conhecimento) que o próprio médico ou soberano deveria ter.

Assim como não há diferença entre o governo de uma casa, de uma empresa e o de uma pequena cidade, só há uma ciência, quer se diga real, política ou econômica. Que “ciência” será essa?

A ciência de um verdadeiro rei, diz Platão, é a ciência própria do rei e aquele que a tiver, seja rei ou simples cidadão, em virtude de sua arte, tem todo direito ao título real.

Ressalta que para manter-se no poder, um rei não recorre à força física, mas à força de sua inteligência e de sua alma, de onde conclui que o rei tem muito mais relação com a ciência teórica do que com as artes manuais e todas as artes práticas, fazendo da ciência política e do político, da ciência real e do homem real, uma só unidade.

Com o intuito de classificar a ciência teórica, dizendo encontrar sua dualidade de conhecimento, Platão esclarece que a arte do cálculo, por exemplo, faz parte das ciências teóricas, nos dá a conhecer a diferença entre os números, mas não tem outra função que vá além de julgar essas diferenças (numéricas).

E, trazendo como exemplo o arquiteto, esclarece que esse profissional não trabalha como operário, mas dirige os operários, apontando que sua contribuição é de um conhecimento e não uma colaboração manual.

É correto dizer que o arquiteto participa da ciência teórica, no entanto, uma vez traçado o plano, ele não deve considerar-se livre e abandonar a tarefa como faria o calculista, pois cabe-lhe ainda indicar a cada um dos operários tudo quanto lhes compete fazer até que determinado trabalho esteja concluído, tal qual havia planejado.

Assim, todas essas ciências são teóricas, diz o filósofo, incluindo as que participam da arte do cálculo, mas os dois gêneros que elas formam diferem, pois um deles, em seus cálculos, apenas julga, e outro, além de julgar, também dirige.

Permeado por esse raciocínio, Platão distinguirá em toda a ciência teórica uma parte a que chamará de diretiva e outra que chamará de crítica. E será na ciência teórica diretiva que se inserirá o rei, pois na realidade, como um “senhor”, ele ordena, comanda, dirige.

Platão parte então para averiguar se também a arte de dirigir permite qualquer divisão: “Penso que do mesmo modo que na arte dos comerciantes se distinguem os produtores dos revendedores, da mesma forma se diferencia o gênero real [dos reis e dos políticos] do gênero dos arautos [mensageiros].

Os comerciantes, afirma, compram mercadorias produzidas por outrem, e as revendem a terceiros. E assim também, a família dos arautos (poderíamos interpretar hoje como sendo os jornalistas) recebe as decisões alheias para transmiti-las a terceiros, diz ele: “Confundiremos a arte do rei com a do intérprete, do patrão de barco, do adivinho, do arauto e muitas outras semelhantes, que têm em si, realmente [a arte do rei], um poder diretivo?”.

Nesse momento, Platão prossegue a comparação propondo forjar, por analogia, um outro nome, pois nenhum existe para designar esse gênero de dirigentes cujo mando deriva deles mesmos.

E ressalta que esta característica servirá para divisão, colocando o gênero real [dos reis e dos políticos] na classe autodirigente, sem que tenhamos que nos preocupar com as demais classes e darmos a ela outro nome qualquer, pois sua pesquisa tem por objeto o dirigente e não o oposto do dirigente.

Se o gênero em questão (o gênero real, da classe autodirigente) está bem separado dos outros por meio desta oposição, do poder pessoal e do poder de empréstimo, afirma que é mister que o dividamos novamente, se encontrarmos possibilidade para isso: “Quando pensamos em dirigentes, no exercício de alguma direção, não vimos também que as suas ordens tem sempre como finalidade alguma coisa a ser produzida? (…) Não é difícil dividir-se em duas partes tudo o que se produz – seres inanimados e seres animados”.

É desse modo que a parte diretiva da ciência teórica deve ser dividida, diz ele. E é natural que a ciência real não dirige, do mesmo modo que a arquitetura, coisas sem vida: seu papel é muito mais nobre: “É sobre os seres vivos que ela reina e é sobre eles que ela [a ciência real] sempre exerceu seu império”.

Não consideremos o político, roga o filósofo, como o lavrador que cuida do seu boi ou o tratador que cuida de seu cavalo, mas sim como o criador de todos os cavalos ou de todos os bois, da criação de rebanhos” ou “criação coletiva”.

Para mostrar que há duas espécies de rebanhos e, ao mesmo tempo, conseguir que este inquérito, em lugar de ser relativo a um duplo objeto, mas se faça apenas em relação à sua metade, conclui que a criação de homens é diversa da dos animais.

A arte política se refere aos que ele denomina “bípedes implumes”, aos que andam sobre a terra. Política é a arte de pastorear homens, de cuidar dos que vivem em comunidade.


Sobre o político, Platão chama a atenção para o fato de que, pastor e alimentador do rebanho humano, ele é mais importante do que dez mil outros que pretendam sê-lo.

E é por isso que lhes entregamos as rédeas do Estado, por serem homens que possuem a ciência que lhes é necessária. Mas ainda não o separamos suficientemente dos seus rivais para mostrá-lo, unicamente, em sua pureza. É o que Platão fará. Prossigamos, amigos!


Confira acima, as novidades na página "Cursos & Palestras".



20 de out. de 2014

Curso de Mitologia Greco-Romana em SP


Amigos, havendo interesse, envie e-mail para: "mitologia@esdc.com.br", pois as vagas são limitadas.

Programa completo e custos, acesse a página acima intitulada "Cursos & Palestras".

Grata,

luciene felix lamy

2 de set. de 2014

Vaidade... “Vanitas vanitatum et omnia Vanitas”*

São Jerônimo (que traduziu a bíblia do hebraico e aramaico para o grego e o latim) por Caravaggio (1605-6)
Galleria Borghese, Roma.

"A vaidade é um princípio de corrupção”. Machado de Assis

A todo o momento, morrem pessoas. Na mitologia grega, foi dessa justificativa que se valeu o soberano do Olimpo, Zeus, imbuído de convencer seu irmão, Hades, a aceitar presidir o reino dos mortos: “Governarás sobre um reino no qual, a todo instante, não cessará de chegar novos súditos”.

Recentemente, tivemos a notícia da partida de algumas personalidades famosas, na área da literatura, da academia, da política e do meio empresarial: Ariano Suassuna, Rubem Alves, João Ubaldo Ribeiro, Vladimir Garcia Magalhães, Robin Williams, Eduardo Campos e Antônio Ermírio de Moraes, para citar alguns.

Morrer é inevitável. E é justamente essa consciência da finitude o que nos define. Temos, uns mais, outros menos, uma espécie de prazo de validade aqui no mundo. Isto posto, como nos pautarmos por valores que garantam uma vida feliz, bem sucedida? O que podemos legar ao futuro quando a inevitável nos arrebatar?

Ponderar sobre a morte é, paradoxalmente, ponderar sobre a vida e nas “tentações” que se apresentam a nos iludir, nos desviando do caminho mais virtuoso e edificante. Um desses engodos está na vaidade: “humano, demasiado humano”, como diria o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. E é sobre uma lição acerca da vaidade, representada num movimento artístico específico, que iremos versar. Esse movimento chama-se “Vanitas”.

Harmen Steenwijk – 1640

O tempo muda, e com ele, emergem novos conceitos, que respaldados pelo “zeitgeist” (Espírito do tempo) vigente impõe-se como modismo. Alguns modismos, como os “Vanitas”, tornam-se “clássicos”.

Em tempos d’outrora, distintivo (“chique”) mesmo era pendurar um enigmático “Vanitas” na parede da biblioteca (ocupada hoje pelo home-teather) e ter assim, assunto para se encetar uma boa prosa filosófica (vida, morte e tempo), enquanto se finalizava o agradável jantar saboreando um licor.

Pieter Gerritsz – 1630

Mas, o que é um “Vanitas”? Um “Vanitas” (do latim, vacuidade, futilidade, algo vão, sem valor) é a representação dramática de um gênero singular de natureza morta surgida no norte da Europa e países baixos, especialmente no século XVII, com forte conteúdo simbólico de cunho moralizante que busca chamar a atenção para o quão efêmera é a vida, fugidios seus prazeres, vãs suas glórias e para a irreversibilidade dessa condição que nos distingue do Criador: mortais.

Com o enaltecimento dos “Vanitas”, o gênero “natureza-morta” – o patinho feio da pintura –, tão apreciado pelos holandeses, foi alçado a patamar de honra.

Hendrik Andriessen – 1650

A morte era uma realidade muito próxima e os pregadores calvinistas eram fascinados pelos interditos do Livro de Eclesiastes, no Velho Testamento. Do ponto de vista filosófico, arrisco dizer que o gênero é “Existencialista”.

Uma obra dessa natureza, que é um imperativo chamado para reflexão sobre valores, expressava que a alma do detentor estava consciente da insignificância da vaidade humana. O paradoxo é que se pagava muito caro por tamanha insígnia de sapiência: ostentar um “Vanitas” era caríssimo, acessível somente às pessoas de posses.

Pieter Claesz – 1625

Nesse tipo de obra, explicitando perecividade e finitude, observamos a presença de figuras que aludem e contrapõe: 1) vida terrestre espiritual e contemplativa e, 2) vida terrestre hedonista, luxuriosa e sensual.

São recorrentes, então, insígnias de poder (colunas clássicas, coroas, tiaras, mitras, medalhas, elmos, escudos, emblemas heráldicos, espadas e outros adereços que remetam à honra), símbolos de fortuna e riqueza (moedas de ouro ou prata, tecidos requintados, sedas, veludos, bordados e brocados, pedras preciosas, pérolas, conchas e outros objetos preciosos), referências aos prazeres libidinais e luxuriosos (espelhos, cartas de baralho, vinhos, instrumentos musicais tais como flautas e charamelas), alusões à perecividade (flores frescas ou já murchando, frutas suculentas ou apodrecidas, relógios, ampulhetas, bolhas de sabão, borboletas, fio de vela já se apagando), além dos emblemas de imortalidade (livro) e de finitude (o crânio humano), impondo o inexorável destino comum a todos nós, que é morrer.

Adriaen van Utrecht – 1642

Condenador dos prazeres mundanos, pois erigido sob o solo do discurso de cunho religioso moralizante de apelativo fervor puritano, o melancólico “Vanitas” encontra respaldo na Bíblia judaico-cristã.

De lá para cá, muitas caveiras se passaram e o uso alegórico do crânio ganhou outros significados (que o diga o renomado estilista brasileiro, Alexandre Herchcovitch). E isso porque, a visão que temos da morte passa por “n” perspectivas: temor, reverência, respeito, angústia, perturbação, sarcasmo, cinismo, deboche e até provocação.

Diante dela, difícil é ser indiferente. Independente disso, intensamente expressiva em suas representações, a morte paira a espreita, triunfa sobre as frivolidades mundanas, sejam quais forem e, alheia ao que pensemos que seja, é o que é.

Edwaert Collier – 1693

Ao passar todo esse sermão através das pinceladas, um “Vanitas” pretende repreender a ignorância sobre os falsos valores, advertindo que: “(...) os seus vícios e horrores, as suas paixões desonestas, desvairadas de cegas, funestas, os seus apetites venais insaciáveis, as suas perigosas irracionalidades, as suas pulsões inconfessáveis (...)”, tem um fim. Esse é o drama.

A arte, como alertava o poeta grego Píndaro (518-438 a.C.), lembra ao homem o que ele deve ser. Assim como o desvario da nobreza dos séculos XVII foi sacudido pelos “Vanitas”, a atual sociedade líquida (termo cunhado pelo sociólogo Zygmunt Bauman), voltando a contemplar essas obras e, ponderando sobre esses ensinamentos, se enriquecerá, tornando essa breve passagem, mais digna e honrosa possível.

Philippe de Champaigne – 1671


(*) “Vanitas vanitatum et omnia Vanitas” (Vaidade das vaidades, tudo é vaidade) Eclesiastes.

1 de ago. de 2014

A atemporalidade dos ensinamentos de Maquiavel - Parte II


“O homem circunspecto, quando chega a ocasião de ser impetuoso, não o sabe ser, e por isso se arruína, porque, se mudasse de natureza, conforme o tempo e as coisas, não mudaria de sorte”. Nicolau Maquiavel

Finalizamos o artigo anterior (AQUI) insistindo que as pessoas são levadas pelas aparências, daí a importância de se aparentar possuir boas qualidades. Até aqui, parece-me que não mudamos muito desde o renascimento.

Maquiavel prossegue então, esclarecendo que, dentre as características que podem nos fazer desprezíveis constam: ser volúvel, leviano, pusilânime e irresoluto.

E dentre as qualidades admiradas, lista a grandeza, a coragem, gravidade e fortaleza, além da firmeza daqueles cujas sentenças são irrevogáveis, o que faz com que nem passe pela cabeça de alguém nos enganar.

Quem tem poder, sempre terá "bons" amigos. Castigos, reprimendas, enfim, imposição das penas, devem sempre ser delegada a terceiros, já das boas notícias, dos agraciamentos e demais benfeitorias, devemos nos encarregar pessoalmente.

Não convém que permitamos que alguém nos odeie, mas se isso for mesmo inevitável, que – ao menos – evitemos ser odiados pela maioria, pois uma boa reputação sempre nos defende. Fazer coisas vis, pouco dignas nos torna desprezíveis no conceito das pessoas e não há fortaleza que nos proteja disso (que o Governo de Israel, atente a isso em Maquiavel).

Por isso é tão importante que se trabalhe no sentido de, em cada ação, conquistar fama de grande homem: “Nada faz estimar tanto um príncipe como os grandes empreendimentos e o dar de si raros exemplos”, diz Maquiavel.

Diz ainda que é estimado quem sabe ser verdadeiro amigo e verdadeiro inimigo: “(...) isto é, quando, sem qualquer preocupação, age abertamente em favor de alguém contra um terceiro”. E comprova, por A+B que tomar partido será sempre mais útil do que conservar-se neutro.

A tibieza (ficar em cima do muro) deve ser evitada porque, segundo ele, “se dois poderosos vizinhos teus se puserem a brigar, ou são de qualidade que, vencendo um deles, tenhas que temer o vencedor ou não”.

Salienta que em qualquer caso será sempre mais útil tomar partido e fazer guerra de fato porque, se não estivermos ao lado de quem vencer, seremos sempre presa dele, do vencedor. E, detalhe: com grande prazer por parte do derrotado, já que optamos por nos abster: “E não tens razão nem coisa alguma em tua defesa nem quem te acolha”.

Por outro lado, quem vence não quer amigos suspeitos, que não ajudem nas adversidades. E assim, numa polêmica, o “mosca morta” que não se decide sobre qual parte apoiar não poderá contar nem com quem venceu nem com quem perdeu.


Perspicaz, Maquiavel aponta que aquele que não é teu amigo pedirá que sejas neutro e aquele que é teu amigo pedirá que tomes partido abertamente: “E os príncipes irresolutos, para se afastarem destes perigos, seguem, as mais das vezes, aquela linha neutra, e quase sempre são mal sucedidos”. É interessante como essa teoria pode ser confirmada até mesmo nos mais prosaicos e ordinários conflitos familiares ou empresariais.

Quando tomamos coragem e nos colocamos abertamente ao lado de um dos que estiverem em conflito, se aquele ao qual aderimos vencer, ainda que seja poderoso ele terá obrigações para conosco e será compelido a nos devotar amizade: “e os homens não são nunca tão maus que queiram oprimir a quem devem ser gratos”.

Por outro lado, Maquiavel afirma que se aquele a quem ajudamos vier a perder a questão, ele nos socorrerá quando puder, e, nesse caso, ficaremos ligados a uma fortuna (sorte) que pode ressurgir: “A prudência está justamente em saber conhecer a natureza dos inconvenientes e adotar o menos prejudicial como sendo bom”.

O Florentino reitera que um príncipe deve mostrar-se amante das virtudes e honrar os que se revelam grandes numa arte qualquer. Deve também, nas épocas apropriadas, proporcionar festas e espetáculos ao povo, além de dar provas de afabilidade e munificência, mantendo sempre integral, contudo, a majestade da sua dignidade, a qual não deve faltar em nada.

Sobre aqueles que elegemos para participar de nossa vida, diz ser de grande importância saber escolher, pois “A primeira conjetura que se faz, a respeito das qualidades de inteligência de um príncipe, repousa na observação dos homens que ele tem ao seu redor”. Eis sua releitura do famoso “Diz-me com quem andas...”.


Evita-se o erro na escolha – seja do cônjuge, dos funcionários ou dos amigos – ao saber reconhecer as qualidades de competência e fidelidade. Isso é ser sábio.

O autor deve ter presenciado tantas, mas tantas intrigas que insiste em salientar inúmeras vezes, o quão é importante que não confiemos em ninguém: “Não desejarias cair só por creres que encontrarias quem te levantasse. Isso ou não acontece, ou, se acontecer, não te dará segurança, porque é fraco meio de defesa o que não depende de ti”, ressaltando que só são bons, certos e duradouros os meios de defesa que dependem de nós mesmos e do nosso valor.

Maquiavel reconhece que muitas pessoas comungam da opinião de que as coisas do mundo são governadas pela fortuna e por Deus, de modo que a prudência dos homens não pode corrigi-las e que, por isso, poderíamos achar ser desnecessário nos incomodarmos, deixando que a sorte nos governe.

Afirma pensar que a fortuna seja mesmo árbitra de metade de nossas ações, mas que, no entanto, ainda assim, ela, a fortuna, nos deixa governar quase a outra metade. 


Comparando a fortuna (o acaso) a um rio impetuoso que quando se encoleriza alaga e destrói tudo, chama a atenção para o fato de que, quando as coisas se acalmam, os homens podem sim, fazer os reparos necessários, precaverem-se para os reveses.

É assim que acontece com a (má) fortuna, diz ele: “O seu poder é manifesto onde não existe resistência organizada, dirigindo ela a sua violência só para onde não se fizeram diques e reparos para contê-la”.


Não é raro testemunharmos o sucesso e a ruína de muitos, mesmo que não tenha havido mudança na sua natureza, nem em algumas das suas qualidades. A razão disso é: “que quando um príncipe se apoia totalmente na fortuna, arruína-se segundo as variações daquela”. Claro: a "Roda da Fortuna"... Roda.

Apropriado é, segundo Maquiavel, combinar o modo de proceder com as particularidades dos tempos, e “infeliz o que faz discordar dos tempos a sua maneira de proceder”. Adequação é a palavra-chave, nesses casos.

Na busca por glória e riquezas, os homens costumam proceder de modos diversos: uns são circunspectos, outros impetuosos; Uns agem com violência, outros com astúcia, paciência e, cada um, por estes diversos modos pode alcançar seus objetivos: “Vê-se que, de dois indivíduos cautelosos, um chega ao seu desígnio e outro não, e do mesmo modo, dois igualmente felizes, com dois modos diversos de agir, são um circunspecto e outro impetuoso, o que resulta apenas da natureza particular da época, e com a qual se conforma ou não o seu procedimento”. Ele insiste em alertar que quando os tempos mudam, quem não altera seu modo de proceder, se arruína.

E, quando a fortuna se altera – e a única certeza, como já disse Heráclito, é a mudança –, convém alterarmos também nosso modo de agir, adequando-o conforme as exigências das novas circunstâncias. Ajustemos o leme. Constantemente.

1 de jul. de 2014

A atemporalidade dos ensinamentos de Maquiavel - Parte I


"Ao imitarmos os caminhos já percorridos pelos grandes homens, mesmo que não alcancemos totalmente suas virtudes, aproveitaremos muita coisa."

Do clássico “O Príncipe” (confira artigo já publicado AQUI), podemos extrair ensinamentos úteis em nosso cotidiano, seja na vida pessoal, para o convívio entre familiares e amigos, bem como no mundo “corporativo”, com a chefia e os subalternos.

Ao escarafunchar os meandros que regem os conchavos políticos, Maquiavel evidenciou nuances da natureza humana, por isso, embora sua análise tenha aflorado no renascimento, o legado dele é atualíssimo e precioso aos que quiserem aprender sobre a sorte, o papel da astúcia e da prudência em suas relações.

Maquiavel nos ensina que os homens mudam de boa vontade de senhor quando supõem que irão melhorar, e que é justamente essa crença o que os faz lutar contra quem estiver no poder.

Alerta que são nossos inimigos todos aqueles que se sentem ofendidos por ocuparmos lugar de destaque e ressalta que não podemos conservar como amigos aqueles que nos puseram ali, pois estes não podem ser satisfeitos como pensavam.

Orienta que convém que estejamos sempre presentes e disponíveis, pois nossos subalternos ficam satisfeitos em saber que somos acessíveis: “assim, terão maiores razões de amá-lo, se é o caso, ou de temê-lo”.

O florentino diz ser importante que os insatisfeitos sejam minoria, dispersos e reduzidos à pobreza, pois, segundo ele, a ordem das coisas é que quando um novo poderoso chega, todos aqueles que se acham enfraquecidos não hesitem em lhe dar adesão, movidos que estão pela inveja.

Prudência (a pré-vidência, o ver antes) é uma virtude a ser sempre acalentada, pois se deve “não só remediar o presente, mas prever os casos futuros e preveni-los com toda perícia (...), e não deixar que se aproximem os acontecimentos, pois deste modo o remédio não chega a tempo (...)” e isso torna a moléstia incurável.

Os prudentes se empenham em conhecer os males possíveis com antecedência e providenciam curá-los, enquanto que aqueles que os ignoram, deixando as contendas aumentarem a ponto de serem conhecidas de todos, não encontram mais meios de remediar os malefícios que florescem.



Ao pressentir perturbações, devemos agir imediatamente, não permitindo jamais que sigam seu curso, pois àqueles que se esquivam de uma atitude mais afirmativa para evitar uma guerra estejam cônscios de que guerra não se evita, apenas protela-se. 

E isso é temerário, pois redundará em proveito dos outros. Adiar o enfrentamento de uma situação que requer atitude firme é contribuir para sua própria desvantagem.

O desejo de conquistar é coisa verdadeiramente natural e ordinária, diz Maquiavel. E os homens que podem fazê-lo serão sempre louvados e não censurados. Querer e não poder é que constitui um erro merecedor de censura.

Salienta que uma regra que nunca ou muito raramente falha é a de que, quando alguém é causa do poder de outrem, arruína-se, pois se trata de um poder oriundo de astúcia ou força e, qualquer destas é suspeita ao novo poderoso.



Algumas figuras tornaram-se referência, mesmo sob condições extremamente adversas, foram “príncipes” por mérito próprio, pelo seu valor e não por sorte. Ele diz que se examinarmos as vidas e as ações de Moisés, Ciro, Rômulo e Teseu, por exemplo, concluiremos que eles não receberam da fortuna (sorte) mais do que a ocasião de poder amoldar as coisas como melhor lhes aprouve.


Se não tivesse se apresentado determinada ocasião (nos casos citados, de sérias dificuldades), as qualidades pessoais desses teriam se apagado. E sem as virtudes, capacidades e talentos que eles tinham, de nada teria adiantado aparecer a ocasião propícia.




Maquiavel explica que àqueles que conquistam posição de destaque por mérito próprio, enfrentando os transtornos, penam na conquista, mas em contrapartida, conseguem manter a posição mais facilmente que aqueles que, tendo nascido “em berço de ouro”, herdaram renome, patrimônio e fama de seus antepassados. Para esses, o começo pode ser fácil, mas a manutenção do posto não se dá facilmente.



E isso porque aquele que ganha o posto de destaque de “mão beijada”: “(...) está na dependência exclusiva da vontade e boa fortuna de quem lhes concedeu (...), duas coisas extremamente volúveis e instáveis”.

Sucesso que surge de modo súbito é frágil: ao primeiro golpe da adversidade, aniquilam-se. A não ser que saibam preparar-se para conservar aquilo que a sorte lhes pôs no regaço e estabeleçam solidamente as bases fundadas anteriormente por outros.

É fundamental ter crédito junto aos subalternos. Citando frei Savonarola, ele nos lembra que a causa do fracasso dele foi justamente não poder mais contar com o apoio do povo.

Para Maquiavel, é mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se possa imaginar porque, segundo ele “Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo que se deveria viver, que quem se preocupar com o que deveria fazer em vez do que se faz, aprende antes a própria ruína, do que o modo de se preservar”.

No que tange à administração das finanças, convém que sejamos lúcidos, gastando pouco para não nos vermos obrigados a contrair dívidas, para termos sempre com o que nos defendermos e principalmente para não empobrecermos, tornando-nos desprezíveis.

Sem dúvida, é agradável ser amado, mas é ainda mais seguro, ser temido [e poderoso]: “É que os homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ambiciosos de dinheiro, e, enquanto lhes fizerem bem, todos estão contigo, oferecem-te [de tudo e mais um pouco], desde que a necessidade [penúria] esteja longe de ti (...)”.



Quanto às amizades, o Florentino alerta que as conquistadas por interesse (e não por grandeza e nobreza de caráter) são compradas e não se pode contar com elas no momento de necessidade: “E o príncipe, se confiou plenamente em palavras e não tomou outras precauções, está arruinado”.

Deve-se evitar lesar aproveitando-se dos bens dos outros porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai do que a perda de seu patrimônio.

Das duas formas de se combater, pelas leis ou pela força, a primeira é própria do homem e a segunda, dos animais. Mas se tivermos que recorrer à animalidade, Maquiavel sugere que tiremos as qualidades da raposa e do leão. O leão não tem defesa contra os laços [alianças e contratos], já a raposa, nenhuma defesa contra os lobos: “Se os homens fossem todos bons, este preceito seria mau. Mas, dado que são pérfidos e que não a observariam [as regras] a teu respeito, também não és obrigado a cumpri-las para com eles”.

O que melhor souber valer-se das qualidades da raposa (astúcia) se sairá melhor, mas é necessário que disfarce muito bem essa qualidade, sendo um bom simulador e dissimulador: “E tão simples são os homens, e obedecem tanto às necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar”. É também importante que nos resguardemos dos aduladores.



Mesmo que não possuas todas as boas qualidades tais como: piedade, fé, integridade, humanidade, religião, basta que aparentes possuí-las, pois: “Todos veem o que tu pareces, mas poucos o que és realmente, e esses poucos não tem a audácia de contrariar a opinião dos que tem por si [boa reputação diante da maioria].”.

Sem falar que o vulgo é levado pelas aparências e pelos resultados dos fatos consumados, e o mundo é constituído pelo vulgo, confirma o autor.

Prossigamos com o que há de “maquiavélico” em Maquiavel, há muito a aprender sobre nós.

1 de mai. de 2014

A VONTADE DE CRER - William James (Parte II)


“A ciência pode nos dizer o que existe, mas, para comparar os valores tanto do que existe como do que não existe, precisamos consultar não a ciência, mas o nosso coração”. William James

Prosseguimos com um dos fundadores da psicologia moderna, William James (1842-1910), e suas ponderações sobre a legitimidade da Fé, de se crer em algo (Clique AQUI para conferir o artigo anterior).

O autor afirma que a crença é profana quando conferida a afirmações não provadas e não questionadas, pelo conforto e prazer pessoal do crente: “Uma crença assim é pecadora porque é roubada em desrespeito a nossa obrigação para com a humanidade.”.

Quanto à proposição que temos de que existe uma verdade e de que nossa mente e essa verdade são feitas uma para a outra: “o que é isso senão uma afirmação apaixonada de desejo, em que nosso sistema social nos dá suporte?”.

Sim, queremos ter uma verdade, queremos acreditar que nossas experiências, estudos e discussões devem nos colocar numa posição melhor e concordamos em lutar para levar adiante nossa vida pensante. Mas, se um cético nos perguntar como sabemos tudo isso, será que nossa lógica poderá encontrar uma resposta? Não, afirma William James. “É apenas uma volição contra outra (...).”.

Como regra, diz o autor, desacreditamos de todos os fatos e teorias para os quais não temos uso: “Essa própria lei que os lógicos pretendem impor a nós – se posso chamar de lógicos os que descartariam nossa natureza volitiva nessa questão – é baseada em nada mais do que em seu próprio desejo natural de excluir todos os elementos para os quais eles, em seu atributo profissional de lógicos, não podem encontrar um uso”.

James diz ser evidente que nossa natureza não-intelectual influencia de fato nossas convicções: “Puro discernimento e lógica, o que quer que possam fazer idealmente, não são as únicas coisas que de fato produzem nossos credos.”.

A tese que James defende é a de que nossa natureza passional não só pode, como deve, licitamente decidir-se por uma opção entre proposições sempre que esta não possa, por sua natureza, ser decidida sobre bases intelectuais.

Sobre “sistemas”, diz: “Um sistema, para que seja realmente um sistema, deve vir como um sistema fechado, reversível neste ou naquele detalhe, talvez, mas, em suas características essenciais, jamais!”.

A ortodoxia escolástica, diz ele, à qual sempre é preciso recorrer quando se deseja encontrar afirmações perfeitamente claras, fez uma bela elaboração dessa convicção absolutista numa doutrina que ela chama de “evidência objetiva”.

Ele nos chama a atenção para o fato de que, se somos incapazes de duvidar que existimos e estamos lendo esse texto, de que 2 + 2 = 4 e de que todos os homens são mortais e que também somos mortais, é porque essas coisas iluminam nosso intelecto de forma irresistível.

A base decisiva dessa evidência objetiva possuída por certas proposições, diz ele, é adequação de nosso intelecto à realidade, pois o objeto mentalmente recebido não deixa atrás de si nenhuma possibilidade de dúvida.

De certas coisas, consideramos estar seguros: sabemos, e sabemos que sabemos. Há algo que dá um “clique” dentro de nós.

Para James, somente experimentando e refletindo sobre nossa experiência é que nossas opiniões podem se tornar mais verdadeiras e há apenas uma verdade indefectivelmente certa (...) – a verdade de que o presente fenômeno da consciência existe. Esse é o mero ponto de partida do conhecimento, algo sobre o que filosofar.

As várias filosofias não passam de muitas tentativas de expressar o que esse algo [fenômeno da consciência] realmente é, mas nenhum teste concreto do que é realmente verdadeiro encontrou consenso até hoje.

Afirmar que certas verdades agora a possuem [evidência objetiva] é simplesmente dizer que, quando as pensamos como verdadeiras e elas são verdadeiras, então sua evidência é objetiva, caso contrário não o é. Porém, na prática, a convicção de uma pessoa de que a evidência que ela adota é de fato do tipo objetivo é apenas mais uma opinião subjetiva acrescentada às demais.

James afirma que, para um empirista, não importa de que parte uma hipótese pode chegar até ele; a paixão pode tê-la sussurrado ou o acidente a sugerido; porém, se a tendência total do pensamento continua a confirmá-la, isso é o que ele leva em conta para considerá-la verdadeira.

Não só encontramos nossa natureza passional nos influenciando em nossas opiniões como um processo natural, como também que há algumas opções entre opiniões em que essa influência deve ser vista como um determinante inevitável e lícito de nossa escolha.

O autor pondera que os tribunais de justiça, de fato, têm de decidir com base nas melhores evidências obteníveis no momento, porque a tarefa de um juiz é tanto fazer a lei como verificá-la, e (como um juiz douto certa vez disse a ele) poucos casos são merecedores de que se gaste muito tempo neles: o bom é decidi-los com base em qualquer princípio aceitável e tirá-los do caminho.

Porém, pondera, em nossa relação com a natureza objetiva, somos evidentemente registradores, e não criadores, da verdade; e decisões tomadas com o simples propósito de decidir sem demora e passar para o próximo assunto seriam totalmente inadequadas.

Reitera que por toda a extensão da natureza física, os fatos são o que são, independentemente de nós (...) e a ciência seria muito menos avançada do que é, se os desejos passionais dos indivíduos de ver suas próprias fés confirmadas tivessem sido mantidos fora do jogo.

O investigador mais útil, por ser o observador mais sensível, é sempre aquele cujo interesse por um lado da questão é equilibrado por um receio igualmente ansioso de estar enganado.

A ciência organizou esse receio numa técnica regular, seu chamado método de verificação, e se apaixonou de tal forma por esse método que seria mesmo possível dizer que deixou de se preocupar com a verdade em si. É apenas a verdade tecnicamente verificada que interessa a ela. As paixões humanas, porém, são mais fortes do que as regras técnicas.

E, por mais indiferente que o juiz, o intelecto abstrato, possa ser a tudo que esteja fora das puras regras do jogo, os jogadores concretos que o suprem do material a ser julgado geralmente estão, cada um deles, apaixonados por alguma hipótese favorita pessoal.

Questões morais apresentam-se imediatamente como questões cuja solução não pode esperar por uma prova sensível, diz James: “Uma questão moral não é uma questão do que existe no plano sensível, mas do que é bom, ou do que seria bom se existisse.”.

A própria ciência – aponta o autor – consulta seu coração quando afirma que a infinita determinação do fato e a correção da falsa crença são os bens supremos para o homem. Desafie-se a afirmação, e a ciência só poderá repeti-la oracularmente, ou então prová-la mostrando que tal determinação e tal correção trazem ao homem todo tipo de outros bens que seu coração, por sua vez, declara.

 Temos o direito de acreditar, assumindo nossos próprios riscos, em qualquer hipótese que seja suficientemente viva para atrair nossa vontade. Em todas as situações importantes da vida, temos de dar um salto no escuro.


Agir da melhor maneira, esperar pelo melhor e assumir o que vier. Se a morte for o fim de tudo, não poderemos ter encontro melhor com ela, conclui, citando Fitz-James Stephen.

1 de abr. de 2014

A VONTADE DE CRER - William James (Parte I)


“A fé é uma das forças pelas quais os homens vivem, 
e a sua ausência total significa colapso.” William James


O médico e filósofo norte americano William James (1842-1910) é um dos fundadores da psicologia moderna e seus escritos figuram entre os clássicos.

A genialidade de James está em fundir a mente “científica” com a inquietação espiritual e seu opúsculo “A vontade de crer” é considerado por muitos a expressão dessa fusão, explicitando coerência ao afirmar a necessidade da fé.

Suas ponderações, que iniciaremos agora, culminarão numa afirmação positiva da fé religiosa, justificando: “(...) nosso direito a adotar uma atitude de crença em questões religiosas, mesmo que nosso intelecto meramente lógico talvez não tenha sido compelido a isso”. A questão é cara à filosofia, pois abarca ontologia (ciência do ser enquanto ser) e epistemologia (teoria do conhecimento).

Seus argumentos visam estabelecer de modo filosoficamente lícito, a fé quando voluntariamente adotada. Para isso, começa estabelecendo algumas distinções técnicas.

Ele chama de hipótese qualquer coisa que possa ser proposta à nossa crença e, assim como os eletricistas falam de fios vivos e mortos, James falará das hipóteses como vivas ou mortas: “Uma hipótese viva é a que aparece como uma possibilidade real para a pessoa a quem é proposta”.

O que ele quer dizer com essa “hipótese viva” é que, se pedirem para que acreditemos no Mahdi (em árabe, “aquele que é guiado por Deus”) e desconhecermos o que seja um Mahdi, essa ideia não criará nenhuma conexão elétrica com a natureza e, como hipótese, será completamente morta. Mas para um árabe (mesmo que nem seja um dos seguidores de Mahdi), a hipótese estará entre as possibilidades, portanto é “viva”.

Ele nos esclarece que: “o caráter vivo ou morto de uma hipótese não é uma propriedade intrínseca [da hipótese em si], mas está relacionado ao pensador individual [que poderá ou não cogitá-la].

Assim o caráter “vivo” de uma hipótese é aferido pela disposição do indivíduo para agir [e/ou reagir] diante dela: “Na prática, isso representa uma crença; mas há alguma tendência de crença [ao menos uma suspeita] sempre que existe alguma disposição a agir”, diz o estudioso.

William James chama de opção a decisão entre duas hipóteses e diz que as opções podem ser de vários tipos:

1) Vivas ou Mortas: opção viva quando ambas as hipóteses tem algum apelo (mesmo que pequeno) à crença, por exemplo: “Seja agnóstico ou seja cristão”. E, opção morta quando para nosso entendimento, nenhuma das hipóteses nos fale de perto, por exemplo: “Seja teosofista, ou seja muçulmano”.

2) Forçosas ou Evitáveis: se pedir que escolham entre sair com ou sem o guarda-chuva, por exemplo, não está sendo oferecida uma opção genuína, pois ela não é forçosa, basta que se decida não sair para que seja evitável. Mas, se digo: “Aceitem esta verdade ou passem sem ela” é uma opção do tipo forçosa, pois não deixo margem para uma posição fora dessas alternativas. E o autor estabelece: “Todo dilema baseado numa disjunção lógica completa, sem nenhuma possibilidade de não escolher, é uma opção forçosa”.

3) Prementes (urgentes) ou Triviais: se lhes propusesse participar de uma expedição ao Polo Norte, diz o autor, sua opção será premente (urgente), pois seria uma oportunidade única e sua escolha implicaria na perda dessa experiência, ou, na chance de vivenciar essa aventura: “Aquele que se recusa a abraçar uma oportunidade única perde o prêmio tão certamente como se tivesse tentado e falhado. A opção por uma hipótese é trivial quando a oportunidade não é única, quando o que está em jogo é insignificante, ou quando a decisão é reversível se, posteriormente, se revela equivocada”, afirma James.

Após assentar esses pressupostos sobre uma hipótese (significativa quando viva, forçosa e premente), Willian James passa a considerar a psicologia da opinião humana.

Quando olhamos certos fatos, diz ele, é como se nossa natureza passional e volitiva (de querer, desejar) se encontrasse na raiz de todas as nossas convicções. Já quando olhamos para outros [fatos], parece-nos que eles não poderiam fazer mais nada após o intelecto ter dado seu veredicto.

Mas não parece despropositado, diante disso, indaga o autor, supor que nossas opiniões possam ser modificáveis de acordo com nossa vontade? Pode nossa vontade ajudar ou atrapalhar o intelecto em suas percepções da verdade?

Será que seríamos capazes de, por um profundo desejo ou por uma força de vontade homérica acreditar que estamos realmente bem quando fomos diagnosticados com câncer e estamos sentindo dores insuportáveis?

Podemos até dizer que estamos bem, afirma ele, mas nos é absolutamente impossível acreditar nisso: “e exatamente dessas coisas é constituída toda a tessitura das verdades em que acreditamos (...)”. Do constatável e do imponderável.

O autor então chama a atenção para a célebre passagem conhecida como a aposta de Pascal, quando este, como num jogo de azar, pergunta: “É preciso acreditar ou não acreditar que Deus existe – o que você fará?”. Nossa razão humana não pode dizer, pondera James.

E, no terreno da justificativa lógica prossegue: “Pese quais seriam seus ganhos e suas perdas se você apostasse tudo o que tem na existência de Deus: se você ganhar, o prêmio será a beatitude eterna; se perder, não perderá absolutamente nada (...). Por que não? No fim das contas, o que você tem a perder?”.

Bem, quando a fé religiosa se expressa dessa maneira, diz ele, na linguagem da mesa de jogos, é sinal de que está reduzida a seus últimos trunfos. A fé adotada intencionalmente após tal cálculo mecânico seria desprovida da alma interior da realidade da fé; e, se estivéssemos nós mesmos no lugar da Divindade, provavelmente teríamos um prazer especial em excluir os crentes dessa espécie de sua recompensa infinita, salienta William James.

A menos que haja alguma tendência preexistente a acreditar em Deus, a opção oferecida à vontade por Pascal não é uma opção “viva”, diz.

A discussão quanto a acreditar por nossa própria vontade parece tola e até pior do que tola, vil, diz ele, afirmando que quando nos voltamos para o magnífico edifício das ciências e vemos como foi construído, quantos milhares de vidas morais desinteressadas encontram-se enterradas em suas fundações, que paciência, que sacrifício de preferências, que submissão às leis gélidas do fato externo estão gravados em suas pedras, quão absolutamente impessoal ele se ergue em sua vasta majestade – diante de tudo isso, quão estúpido e desprezível parece cada pequeno sentimentalista que vem pretendendo decidir coisas a partir de seu próprio sonho pessoal.

James, indaga: “Podemos ter alguma dúvida de que aqueles criados na escola árdua e briosa da ciência terão vontade de vomitar tal subjetivismo (...)?”. E revelando o outro lado da mesma moeda, aponta que é assim que, aqueles que pegaram a febre científica passam para o extremo oposto, professando como se o intelecto incorruptivelmente confiável devesse sem nenhuma hesitação preferir amargor e inaceitabilidade ao coração inebriado.

Puro discernimento e lógica, o que quer que possam fazer idealmente, não são as únicas coisas que, de fato, produzem nossos credos. William James diz ser evidente que nossa natureza “não intelectual” influencia nossas convicções e que: “Há tendências passionais e volições que vem antes e outras que vem depois da crença (...)”.

Prosseguiremos esmiuçando como e por que a volição nos encaminha e também legitima a crença até que, com ajuda desse brilhante intelectual, tenhamos iluminado (ao menos de relance) o imbróglio essencial em filosofia, que é a questão de “fides et ratio”. E, a propósito: Boa Páscoa!


Convido os amigos para conferir o vídeo sobre a Villa Tantafera, em Florença, onde comemoraremos o término de nossos Cursos em Roma, previstos para Maio/2014.

Confira Programação dos Cursos na Galleria Borghese (Roma), AQUI.


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ESCOLHA & CLIQUE (leia no topo). Cultura faz bem ao Espírito!


Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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