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1 de out. de 2015

Da Amizade - Michel de Montaigne - Parte II

Na amizade cintila um pouco do mistério de Deus”. Platão

No artigo anterior (AQUI), versando sobre o Ensaio “Da Amizade”, de Michel de Montaigne (1533-1592), ficamos de ponderar sobre como se assentam as questões relativas aos bens e ao dinheiro entre os verdadeiros amigos.

Trata-se de uma questão melindrosa, pois muitos ainda consideram, sexo, dinheiro e morte, temas tabus. De fato, não há dúvida de que – tanto a eventual necessidade, quanto a permanente fragilidade pecuniária – podem ser ainda mais constrangedoras que a própria nudez. Envergonhados, nos negamos a evidenciar fragilidades desse tipo e, por considerá-las verdadeiramente vexatórias, as ocultamos.

Sabemos que um dos pontos nevrálgicos em toda e qualquer relação mais íntima (às vezes, até mesmo entre casais) diz respeito aos bens e às questões financeiras. Portanto, se considerarmos como sendo verdadeira a afirmação (atribuída a Delfim Neto) de que “a parte mais sensível do corpo humano é o bolso” e a associarmos ao jargão popular que “amigo é como parafuso, só se conhece na hora do aperto”, como ficam as delicadas e embaraçosas questões econômicas entre os verdadeiros amigos?

Referimo-nos aos amigos sinceros, pois o humanista, filósofo, jurista e escritor francês, aponta que sim, claro que encontramos facilmente pessoas aptas a travar relações superficiais conosco. Mas isso não se verifica quando procuramos uma intimidade sem reservas. E intimidade, estamos cônscios, não se força.


Montaigne nos esclarece que amizades sinceras atingem um tal grau de perfeição que amigos assim nem perdem tempo pensando que devem algo um ao outro, ou seja, não se fica medindo o que se faz ou o quanto custou fazer algo por quem prezamos tanto.

E que, entre amigos leais, devido ao fato disso já estar tão bem assentado e incutido em seus corações (tal qual ocorre entre os cônjuges) são dispensáveis as palavras que estabelecem divisões ou evidenciam diferença, tais como: favor, obrigação, reconhecimento, pedido, agradecimento e outras.

Na verdade, quando um verdadeiro amigo pode beneficiar ao outro, o benfeitor, ou seja, aquele que pôde ajudar é o legítimo favorecido. Isso porque entre verdadeiros amigos, ambos colocam acima de tudo a felicidade de agradar um ao outro e aquele amigo que precisou está nos dando a chance de fazer algo genuinamente prazeroso: “quem dá a seu amigo a oportunidade de fazê-lo é quem se mostra mais generoso, pois lhe outorga a satisfação de realizar o que mais lhe apraz”. Realmente, ajudar a um amigo é algo que enche nosso coração de alegria.


Sobre a deferência, a consideração que nos é concedida pelo amigo que nos procura, Montaigne relembra que quando o filósofo grego Diógenes precisava de dinheiro, afirma o autor, dizia que ia “reclamá-lo dos amigos”, e não que lhes ia pedir.

E a fim de exemplificar com um fato esse estado de alma, narra um episódio de Eudâmidas que, pobre, tinha dois amigos ricos: Charixênio de Licíon e Areteu de Corinto.

Conta-nos o francês que, às vésperas de morrer, Eudâmidas redigiu seu testamento assim: “Lego a Areteu o cuidado de tomar conta de minha mãe e suprir-lhe as necessidades durante a velhice; a Charixênio a obrigação de desposar minha filha e constituir-lhe um dote tão elevado quanto possível”. E reiterou que caso um deles viesse a morrer, o que estivesse vivo ficaria incumbido de ambas as missões.

Ele nos relata que os primeiros que viram o testamento de Eudâmidas caçoaram dele, mas os seus herdeiros o aceitaram com uma alegria espantosa. Infelizmente, seu amigo Charixênio faleceu cinco dias depois e Areteu, que substituiu-o na parte que lhe cabia, tratou cuidadosamente do sustento da mãe de Eudâmidas; e, elevando-se seu patrimônio a cinco talentos, deu dois e meio à sua própria filha, que era filha única, e dois e meio de dote à filha de seu amigo, conforme manifestara ser de sua vontade. Ambas as moças se casaram no mesmo dia.

Poder ajudar a um amigo necessitado, mais que uma dádiva, é uma honra que nos concede aquele amigo que se encontra em apuros. Isso demonstra que nos tem em elevadíssima conta, pois questões particulares assim, confiamos somente aos íntimos.

Segundo o autor, é por isso que os legisladores, com o fito de emprestar ao casamento uma vaga semelhança com essa ligação tão sublime e de essência divina, que existe entre verdadeiros amigos, proíbem as doações entre marido e mulher, tentando assim nos levar a entender que o que é de cada um deve ser de ambos e que nada do que lhes pertence se pode dividir ou atribuir pessoalmente a um dos cônjuges.

O que verdadeiros amigos colocam acima de tudo é a felicidade um do outro, por isso ficam tão felizes em obsequiar, em fazer favores, agradar um ao outro. Sendo assim, à frase popularizada pelo economista americano Milton Friedman (1912-2006) de que “não existe almoço grátis” poderíamos conciliar: Mas existe sim, almoço bancado de bom grado e com alegria pelo verdadeiro amigo.

Sobre bens e finanças, assentado que entre amigos, tudo é comum, Montaigne prossegue salientando que amigo mesmo, de verdade, só se tem um! Ele esclarece que nas amizades triviais, ordinárias, corriqueiras, podemos nos dividir entre os inúmeros e diversos amigos e suas inúmeras e diversas virtudes, talentos, generosidade, bom gênio, enfim, apreciamos certos predicados nuns, outros dons em outros: “Num a liberalidade, noutro o modo por que se conduz como pai, e em outro ainda sua afeição fraternal, etc.”.

Mas insiste que essa amizade que nos preenche a alma e a domina não pode subdividir-se, ou seja, aprecia-se a totalidade, pois para ele não é possível “multiplicar e transformar em confraria essa coisa única e homogênea tão difícil de encontrar no mundo”.

Caso você seja um desses agraciados com a dádiva de sentir que pode contar com a benção de uma verdadeira amizade, – felizardo(a)! – cultive-a.

Cultive-a (“Amizade nutre-se de comunicação”, reiterou Montaigne) com zelo de quem dedica a uma flor rara, todo cuidado do mundo, pois dentre os mistérios da vida, está a amizade, que – magia! – diminui as angústias, divide as tristezas e multiplica as alegrias: quem tem um amigo, encontrou um tesouro!

Luciene Felix Lamy
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana da
Galleria Borghese, Roma

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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

Curso de Mitologia Grega
As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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