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1 de set. de 2016

Judite e Holofernes - Beleza, virtude, astúcia e Fé



É impressionante a estatura moral desta obra do Antigo Testamento – literária, se assim insistirem os ateus – em termos de arquétipos éticos e políticos alicerçados na crença em uma JUSTIÇA divina. 

No “Livro de Judite”, que narra o cerco à cidade de Betúlia a mando do rei dos assírios, Nabucodonosor, através de seu temido general Holofernes, encontramos a beleza e a astúcia feminina – guiada pela sabedoria – a serviço do Bem.
Por Michelangelo Merisi da Caravaggio (1598), na Galleria Borghese, em Roma.

O épico bíblico (século II a.C.) relata as aventuras da bela, digna e rica viúva chamada Judite (judia) que salva seu povo da ameaça de um terrível inimigo.

Após enviar seus mensageiros conclamando todos a submeterem-se ao seu poder e vê-los chegar de mãos vazias, Nabucodonosor jura vingança e, chamando o chefe de seus exércitos, Holofernes, ordena que ele marche contra os que desprezaram suas ordens.

Assim, impiedosamente, a tropa de Holofernes, por onde passava, arrasava e apoderava-se dos bens que saqueavam, passando a fio de espadas os que lhe opunham resistência, tornando-se sinônimo de terror para todos, que entregavam à ele tudo o que possuíam: “Doravante, tudo o que nos pertence está nas tuas mãos. Nós e os nossos filhos, somos teus escravos.”.

Também os magistrados recebiam-no com coroas e archotes. No entanto, nem mesmo a rendição abrandava a ferocidade de tal exército.

Segundo o relato, assombrados com a aproximação de Holofernes, os filhos de Israel cercaram suas cidades com muros, armazenaram trigo e se preparam para o combate: “Lembrai-vos de Moisés, servo do Senhor.”.

Holofernes foi avisado da intenção deles em resistir e, furioso, quis saber todos os detalhes sobre esse povo. Foi então que Aquior, chefe dos amonitas, disse a ele: “Este povo é da raça dos caldeus. (…) Oprimidos pelo rei do Egito, e forçados a trabalhar (…), clamaram ao seu Senhor, o qual feriu toda a terra do Egito com vários flagelos. Eles fugiram, e o Deus do céu abriu-lhes o mar e eles atravessaram a pé enxuto (…).”.

Indignado, Holofernes quis matá-lo: “Já que nos predisseste que o povo de Israel será defendido pelo seu Deus, vou mostrar-te que não há outro deus fora de Nabucodonosor.”.

Ordenou aos seus homens que prendessem Aquior e o levassem a Betúlia, deixando-o nas mãos dos filhos de Israel, que encontraram-no amarrado e conduziram-no para a cidade.

Betúlia era governada por Ozias, da tribo de Simeão. E estando Aquior, agora no meio dos anciãos, referiu tudo o que respondera quando fora interrogado e como Holofernes o quis matar por ele ter falado daquela maneira [a saber]: “O Deus do céu é o defensor dos filhos de Israel”.

Após essa declaração de Aquior, todos rezaram: “Senhor, Deus do céu e da terra (…). Mostrai que não abandonais aqueles que confiam em Vós.”.

Ozias hospedou Aquior e ofereceu-lhe uma grande ceia. Depois, convocou todo o povo, e oraram, durante toda a noite, pedindo socorro ao Deus de Israel.

Holofernes descobriu a fonte de água que corria por meio de um aqueduto até Betúlia e mandou cortá-lo. Depois de 20 dias, o povo perecia de fome e sede.

Todos reuniram-se e disseram a Ozias: “Deus seja juiz entre nós e ti, pois, recusando a negociar a paz com os assírios, és o causador desses males. (…). Agora, entreguemo-nos voluntariamente, é melhor viver no cativeiro e bendizer ao Senhor, do que morrer, vendo morrer sob nossos olhos as nossas mulheres e os nossos filhos.”.

Banhado em lágrimas, Ozias disse que, se depois de 5 dias não chegasse nenhum socorro, se renderiam. Quando soube que Ozias havida fixado prazo para rendimento da cidade, Judite, a bela viúva, muito rica (seu marido deixou-lhe numerosos criados, fartos rebanhos de bois e ovelhas), que todos estimavam por seu temor a Deus e da qual ninguém jamais falara mal, concebeu um plano.

Manifestando sua indignação aos anciãos, rogando que declinassem dessa decisão, afirmou que era necessário rogar pela misericórdia divina. Após concordarem, ela os avisou que sairia com sua criada e que em cinco dias retornaria.

Preparando-se para a empreitada que arquitetou, orou: “Fazei, Senhor, que o orgulho desse homem seja cortado com a sua própria espada. (…). Os soberbos sempre Vos desagradaram, e sempre aceitastes as preces dos mansos e humildes.”. 

Dos pés à cabeça, trajando-se e ornando-se como muito esmero, rumou ao acampamento de Holofernes. Quando a patrulha a deteve, esclareceu que, por discordar da resistência de seu povo, decidiu desertar e revelar os segredos de como subjugá-los sem uma só perda a seu exército.

Deslumbrados diante de tanta beleza e eloquência, levaram-na à tenda do general, que ficou extasiado por indescritível formosura. Diante dele, Judite fez-lhe uma profunda reverência.

O temido Holofernes a tranquilizou, encorajando-a a dizer por que razão abandonara os seus. Foi então que ela argumentou que, estando Deus ofendido por seu povo, esse está entregue à derrota certa e que por isso anseia por juntar-se a eles, jurando fidelidade a Nabucodonosor.

Essas palavras o agradaram muito. Judite pediu – e ele consentiu – que ela tivesse passe livre para sair com sua criada quando quisessem para rezar ao seu Deus. Com o coração ardendo de paixão por ela, pediu a Vagao, seu eunuco, que persuadisse a judia a consentir voluntariamente a coabitar com ele. No 4º dia ofereceu um banquete e, nessa noite, bebeu vinho como nunca.

Após todos se retirarem e Holofernes adormecer profundamente, Judite orientou sua criada a ficar de sentinela enquanto, tomando a espada, aproximou-se, cortou-lhe a cabeça e entregou-a à criada, para que a metesse num saco. Depois, ambas saíram como de costume, como se fossem fazer orações.

Por Pietro Benvenutti (1769-1844), no Museu Nacional de Capodimonte, em Nápoles.

Chegando às portas de Betúlia, a judia gritou aos sentinelas: “Abri as portas, porque Deus está conosco, e manifestou o Seu poder em Israel.”. Toda cidade correu ao encontro dela, que tirando o troféu do saco, ostentou-o, dizendo: “Eis a cabeça de Holofernes, general do exército dos assírios (…). Louvai-O todos porque Ele é bom, e eterna a Sua misericórdia.”.

Incrédulo, Ozias proferiu: “Bendito seja o Senhor, criador do céu e da terra, que guiou a tua mão Perante os sofrimentos e a angústia do teu povo, salvaste-nos da ruína na presença do nosso Deus.”.

Penduraram a cabeça de Holofernes no alto das muralhas. Ao verem que fora decapitado, o pânico apoderou-se de sua tropa: “(…) e todos eles perderam a razão e o siso”.

Fugiram, mas muitos foram perseguidos e mortos. Seus despojos foram entregues à Judite: “Tu és a glória de Jerusalém, tu és a alegria de Israel, tu és a honra de nosso povo; porque te portaste com alma viril e coração valente; amaste a castidade e não quiseste, depois da morte de teu marido, conhecer outro homem; por isso o Senhor confortou-te, e serás eternamente bendita!”.

Judite viveu 125 anos e durante toda sua vida, e muitos anos depois da sua morte, não houve ninguém que perturbasse a paz de Israel.

Dedicado à magnífica cantora Fortuna, cuja bela voz inebria e enleva a Alma.


Disponibilizo + de 100 (cem) obras de arte retratando “Judite e Holofernes” em nossa Página no Facebook, para acessá-las, basta clicar no link ao lado.


Luciene Felix Lamy

Professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana da Galleria Borghese, Roma.

E-mail: mitologia@esdc.com.br
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Eis que a Sabedoria reina, mas não governa, por isso, quem pensa (no todo) precisa voltar para a caverna, alertar aos amigos. Nós vamos achar que estais louco, mas sabes que cegos estamos nós, prisioneiros acorrentados à escuridão da caverna.

Abordo "O mito da caverna", de Platão - Livro VII da República.

Eis o télos (do grego: propósito, objetivo) da Filosofia e do filósofo. Agir na cidade. Ação política. Phrônesis na Pólis.

Curso de Mitologia Grega

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As exposições mitológicas explicitam arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) atemporais e universais.

Desse modo, ao antropomorficizarem os deuses, ou seja, dar-lhes características genuinamente humanas, os antigos revelaram os princípios (arché) de sentimentos e conflitos que são inerentes a todo e qualquer mortal.

A necessidade da ordem (kósmos), da harmonia, da temperança (sophrosyne) em contraponto ao caos, à desmedida (hýbris) ou, numa linguagem nietzschiana, o apolíneo versus o dionisíaco, constitui a base de toda antiga pedagogia (Paidéia) tão cara à aristocracia grega (arístois, os melhores, os bem-nascidos posto que "educados").

Com os exponenciais poetas (aedos) Homero (Ilíada e Odisséia), Hesíodo (A Teogonia e O trabalho e os dias), além dos pioneiros tragediógrafos Sófocles e Ésquilo, dispomos de relatos que versam sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, o ódio e a vingança, por exemplo.

O simples fato de conhecermos e atentarmos para as potências (dýnamis) envolvidas na fomentação desses sentimentos, torna-nos mais aptos a deliberar e poder tomar a decisão mais sensata (virtude da prudencia aristotélica) a fim de conduzir nossas vidas, tanto em nossos relacionamentos pessoais como indivíduos, quanto profissionais e sociais, coletivos.

AGIMOS COM MUITO MAIS PRUDÊNCIA E SABEDORIA.

E era justamente isso que os sábios buscavam ensinar, a harmonia para que os seres humanos pudessem se orientar em suas escolhas no mundo, visando atingir a ordem presente nos ideais platônicos de Beleza, Bondade e Justiça.

Estou certa de que a disseminação de conhecimentos tão construtivos contribuirá para a felicidade (eudaimonia) dos amigos, leitores e ouvintes.

Não há dúvida quanto a responsabilidade do Estado, das empresas, de seus dirigentes, bem como da mídia e de cada um de nós, no papel educativo de nosso semelhante.

Ao investir em educação, aprimoramos nossa cultura, contribuimos significativamente para que nossa sociedade se torne mais justa, bondosa e bela. Numa palavra: MAIS HUMANA.

Bem-vindos ao Olimpo amigos!

Escolha: Senhor ou Escravo das Vontades.

A Justiça na Grécia Antiga

A Justiça na Grécia Antiga

Transição do matriarcado para o patriarcado

A Justiça nos primórdios do pensamento ocidental - Grécia Antiga (Arcaica, Clássica e Helenística).

Nessa imagem de Bouguereau, Orestes (Membro da amaldiçoada Família dos Atridas: Tântalo, Pélops, Agamêmnon, Menelau, Clitemnestra, Ifigênia, Helena etc) é perseguido pelas Erínias: Vingança que nasce do sangue dos órgãos genitais de Ouranós (Céu) ceifado por Chronos (o Tempo) a pedido de Gaia (a Terra).

O crime de matricídio será julgado no Areópago de Ares, presidido pela deusa da Sabedoria e Justiça, Palas Athena. Saiba mais sobre o famoso "voto de Minerva": Transição do Matriarcado para o Patriarcado. Acesse clicando AQUI.

Versa sobre as origens de Thêmis (A Justiça Divina), Diké (A Justiça dos Homens), Zeus (Ordenador do Cosmos), Métis (Deusa da presciência), Palas Athena (Deusa da Sabedoria e Justiça), Niké (Vitória), Erínias (Vingança), Éris (Discórdia) e outras divindades ligadas a JUSTIÇA.

A ARETÉ (excelência) do Homem

se completa como Zoologikon e Zoopolitikon: desenvolver pensamento e capacidade de viver em conjunto. (Aristóteles)

Busque sempre a excelência!

Busque sempre a excelência!

TER, vale + que o SER, humano?

As coisas não possuem valor em si; somos nós que, através do nôus, valoramos.

Nôus: poder de intelecção que está na Alma, segundo Platão, após a diânóia, é a instância que se instaura da deliberação e, conforme valores, escolhe. É o reduto da liberdade humana onde um outro "logistikón" se manifesta. O Amor, Eros, esse "daimon mediatore", entre o Divino (Imortal) e o Humano (Mortal) pode e faz a diferença.

Ser "sem nôus", ser "sem amor" (bom daimon) é ser "sem noção".

A Sábia Mestre: Rachel Gazolla

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O Sábio Mestre: Antonio Medina Rodrigues (1940-2013)

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